Opinião

PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS: O Astronauta que virou Porteiro do Inferno - Por Sérgio Botelho

Não causa mais o furor de antigamente a escultura O Astronauta (denominação original confirmada, outro dia, aqui mesmo no Facebook, pelo artista plástico Marcos Pinto de Morais) criada pelo laureado artista plástico teixeirense Jackson Ribeiro, já vivendo noutra dimensão.

Foto: Evandro Pereira

Não causa mais o furor de antigamente a escultura O Astronauta (denominação original confirmada, outro dia, aqui mesmo no Facebook, pelo artista plástico Marcos Pinto de Morais) criada pelo laureado artista plástico teixeirense Jackson Ribeiro, já vivendo noutra dimensão.

Estou falando do Porteiro do Inferno, apelido que adquiriu em sua sequência existencial, que hoje adorna um dos mais movimentados contornos da urbe pessoense, o da Cidade Universitária. O local marca a confluência entre a avenida Pedro II, a via expressa Padre Zé e a rua vereador João Freire, atendendo fluxo de carros não apenas para o campus da UFPB e o bairro Castelo Branco, mas para outros bairros altamente populosos da parte sul pessoense.

Mas a escultura penou um bocado pela cidade de João Pessoa desde que incialmente foi instalada no Lixão do Roger, sempre perseguida pelo sobrenome “Inferno”. Dali, foi parar pela primeira vez num depósito da prefeitura. Segundo revelou Ramalho Leite, também aqui no Facebook, nessa condição o Porteiro foi descoberto por Gonzaga Rodrigues que apelou ao então prefeito Dorgival Terceiro Neto por sua realocação.

Coube ao próprio Ramalho, secretário da prefeitura, escolher um local de destaque para a obra, e o fez no canteiro central entre a antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da UFPB e a I Igreja Batista. Deu ruim! Os evangélicos se levantaram em protesto, e a escultura foi mais uma vez recolhida aos costumes. Aí, tome tempo até ser exposta no Espaço Cultural, onde também se demorou pouco, voltando ao depósito.

Segundo lembra o memorialista Jerdyvan Nobrega, ao deixar o ‘hospital’ de restauração, em 2005, administração municipal de Ricardo Coutinho, foi assentada na Beira Rio, à altura da entrada para o Altiplano, quando sua presença provocou novas e irresistíveis contestações, dessa vez de padres. Nas proximidades, tanto no Altiplano como na continuidade da Beira Rio havia duas igrejas católicas, por sinal, ainda nos mesmos lugares, presentemente.

Era um inferno a vida da escultura, apenas uma obra de arte. Não teve jeito, arrancaram-na dali, indo parar no local em que hoje se encontra, sobre o qual nos referimos na abertura do texto. As reações adversas, especialmente dos grupos religiosos, destacam como as interpretações da arte podem variar dramaticamente.

A localização atual da escultura, na Cidade Universitária, talvez seja enfim a que lhe oferece um ambiente, o acadêmico, mais conveniente à sua apreciação, como pura expressão artística, longe das interpretações carregadas de preconceitos ou ódio.

Me desculpem a digressão, mas parece muito com a história da bela escultura paulistana Beijo Eterno que de tanta resistência conservadora, em vários locais da cidade onde foi instalada, acabou, resgatada por estudantes, indo parar em frente à Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, no Largo de São Francisco.

A obra mostra um casal nu a se arder num eterno beijo, dia e noite, faça chuva ou brilhe o sol, ribombem trovões ou raios cortem os céus, sem que nenhum moralista ouse mais atentar contra aquela sublime e comovente representação de uma das formas do humano amor, ali perpetuada em bronze.

Tomara que o glorioso Porteiro do Inferno tenha, da mesma maneira, encontrado enfim a paz!

Fonte: Sergio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba