Opinião

PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS: A intrépida “Vassoura” - Por Sérgio Botelho

Vassoura” chegava às casas de família, às praças, às ruas e, ainda, ao Palácio do Governo, sempre calçando botas longas, apito, cavalo arreado, broches patrióticos no peito, colares, empunhando garbosamente em uma das mãos a bandeira brasileira.

Foto: Internet

Vassoura” chegava às casas de família, às praças, às ruas e, ainda, ao Palácio do Governo, sempre calçando botas longas, apito, cavalo arreado, broches patrióticos no peito, colares, empunhando garbosamente em uma das mãos a bandeira brasileira.

Ai de quem ousasse galhofar daquela figura ímpar da história de João Pessoa, Bayeux e Santa Rita, a insubstituível Maria Isabel Bandeira Brasileira. Quando a galhofa – por exemplo, chamá-la justamente de Vassoura – escapava, a resposta era imediata: “Vassoura é a mãe!”.

Imprecação que costumava não ser proferida isoladamente, mas normalmente acompanhada de muitos palavrões. Há algumas décadas, tomei um desses ônibus circulares em João Pessoa para um passeio. No banco de trás, um grupo de artistas populares tocava músicas nordestinas, ao som de pandeiro, zabumba e triângulo. Melodias e letras eram, para mim, desconhecidas. Mas gostei das que ouvi na ocasião.

Procurei saber e descobri que o líder da trupe era justamente um, ou o único, filho de Maria Isabel Bandeira Brasileira. Tão desinibido quanto a mãe o rapaz tocava pandeiro e cantava. Tinha a voz sonora e afinada. Um filho de “Vassoura” sobrevivia pelos caminhos de uma arte musical de sua própria lavra e arranjo. Nunca mais ouvi falar dele.

Quem, em vida, sempre protegeu Maria Isabel foi o ex-governador João Agripino. Aliás, o mesmo JA que na época também protegia “Mocidade”, outra das figuras legendárias pessoenses. Ele (o governador) gostava da gente dita folclórica que pontificava tanto na Capital, sede do Governo, quanto em Catolé do Rocha, onde nasceu.

“Vassoura” (eu nunca vi para confirmar se verdade foi, mas dizem) entrava no Palácio da Redenção do mesmo jeito que se deslocava de Santa Rita para João Pessoa e, pela cidade, isto é, montada a cavalo, com todas as pompas e circunstâncias e aquiescência do próprio governador. A nossa personalidade vagava pela cidade da manhã à noite.

Não houve um só lugar entre Santa Rita e João Pessoa, creio, em que ela não tenha estado. A esmagadora maioria dos pessoenses, bayeuxenses e santa-ritenses, do pobre ao rico, do poderoso ao humilde, do patrão ao empregado, que viveu na mesma época de “Vassoura”, a conheceu ou tomou conhecimento de sua existência. Sua montaria – não sei quantas chegou a possuir – estava sempre descansada, tranquila e calma. “Vassoura” trotava devagar.

A não ser quando tinha de perseguir insultantes, principalmente meninos, coisa que não faltava no dia a dia de Maria Isabel. Ela se constituiu, durante toda a vida, uma peregrina urbana. Vivia da ajuda de todos os que pudessem auxiliá-la. Nunca a vi rasgando dinheiro! Não era o governador João Agripino o único poderoso que lhe socorria. Outros também o faziam.

“Vassoura” assumiu, enquanto vida teve, um papel indefectível, inapagável do cenário urbano da chamada Grande João Pessoa de certo tempo. Tanto assim que sua lembrança persiste até os dias atuais.

Fonte: Sergio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba