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DEZEMBRO VERMELHO: médico infectologista explica maior incidência de jovens com HIV e destaca a falta de informação como pontapé para o preconceito

Segundo dados de uma pesquisa divulgada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), e realizada pelo o UNAIDS, a Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/AIDS, dos 40.880 casos de HIV notificados em 2021, quase a metade correspondeu a pessoas de 15 a 29 anos de idade.

Segundo dados de uma pesquisa divulgada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), e realizada pelo o UNAIDS, a Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/AIDS, dos 40.880 casos de HIV notificados em 2021, quase a metade correspondeu a pessoas de 15 a 29 anos de idade.

Esses dados são bem impactantes e preocupantes. De fato existe, atualmente, uma maior vulnerabilidade em os jovens de contrair o vírus do HIV. Em meio ao Dezembro Vermelho, mês de conscientização sobre o HIV/AIDS, uma preocupante realidade se destaca: a crescente vulnerabilidade dos jovens à infecção pelo vírus. Para abordar o tema entrevistamos o médico infectologista Fernando Chagas, que esclareceu os fatores que contribuem para o aumento de casos entre os jovens e discutiu estratégias eficazes de prevenção.

Facilidade nas relações

O Dr. Fernando Chagas destacou que, embora tenha havido uma queda geral nos novos casos de HIV nos últimos três anos, essa diminuição pode ser atribuída mais à pandemia do que a uma redução efetiva. Ao analisar por faixa etária, observa-se um aumento significativo entre os jovens. O médico aponta a facilidade nas inter-relações, impulsionada pela tecnologia e redes sociais, como um dos principais fatores. Ele ressalta que a geração atual não enfrenta o mesmo temor do vírus de décadas passadas, devido à falta de campanhas de conscientização.

O infectologista enfatizou também a importância das estratégias de prevenção combinadas, indo além do uso de preservativos. Ele destaca o Programa de Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), disponível em diversas clínicas, que oferece acompanhamento e medicamentos, como o Truvada, para indivíduos em risco. No entanto, ele ressalta que a PrEP não substitui a camisinha, sendo fundamental a prática de uma prevenção combinada.

“Além das camisinhas, existem uns programas também que diminuem as chances de transmissão de HIV. Por exemplo, a PREP que significa profilaxia pré-exposição que é um programa que existe em João Pessoa no Clementino Fraga, no CTA que é a Clínica Municipal de João Pessoa, CTA de Jaguaribe, existe no CTA também de Santa Rita que é uma clínica municipal, existe no CTA de Campina Grande existe em Patos, né. Esse programa PrEP é o programa que é o seguinte, é uma pessoa que ela se considera em risco de pegar um HIV, pode ser profissional do sexo, homens que fazem sexo com homens, transexuais que acabam sendo uma população que sofre muito vítima disso também, né, população muito vulnerável e qualquer pessoa, independente da sexualidade, mas que se arrisca, né, sai muito, tem uma vida sexual ativa, muitos diferentes parceiros ou parceiras. Essa pessoa pode buscar o programa e a gente vai fazer um acompanhamento com essa pessoa, inclusive liberando uma medicação chamada Truvada, que é uma medicação que a pessoa faz uso todos os dias e por fazer uso todos os dias ela não pega o HIV. Agora tem que ter cuidado, porque não é um programa para a pessoa deixar de usar a camisinha, não. Até porque muitas das pessoas que vão buscar, muitas vezes já não usam a camisinha, mas, na verdade, é uma estratégia de prevenção combinada, que combina a camisinha ou qualquer outra estratégia com o Truvada, o medicamento, já que o medicamento protege contra o HIV, não protege contra sífilis, gonorreia, clamídia e tantas outras ISTs”, explicou Dr. Fernando Chagas.

Preconceito e desmistificação

Quanto ao preconceito relacionado ao HIV, o médico aborda duas origens: a falta de informação, herdada de uma época em que o HIV era uma sentença de morte, e a associação do vírus a práticas sexuais. O Dr. Chagas destaca a importância de desmistificar o vírus, enfatizando que o ato sexual em si não é um crime. Ele ressalta que o preconceito decorre da falta de informação e destaca a necessidade de combatê-lo por meio da educação.

“Não podemos relacionar o HIV a um grupo sexual em si, não. A gente relaciona aos comportamentos de risco. Se você transa muito com mais pessoas diferentes e não se protege, você tem maior risco de pegar o HIV. E é dessa forma que a gente precisa combater o preconceito através de informação. O preconceito, nesse caso, é pura falta de informação. É até diferente dos outros tipos de preconceitos. Qual sentido, qual a explicação para o racismo? Não existe, é absurdo. Qual a explicação para um preconceito como preconceito, sei lá, de relações sociais, de dinheiro? Não tem explicação. Do HIV tem, é pura falta de informação”, explicou.

Diagnóstico e Tratamento: Quebrando o ciclo de transmissão

O médico destaca a importância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado para quebrar o ciclo de transmissão do vírus. Ele explica que, com os antirretrovirais, a carga viral pode ser reduzida a zero, eliminando a possibilidade de transmissão. O Dr. Chagas enfatiza que a preocupação maior é com as pessoas que desconhecem sua condição, destacando a importância do mês de dezembro para conscientizar, testar e salvar vidas.

“A pessoa que é portadora do HIV hoje, ao fazer o uso dos antirretrovirais, que são os medicamentos que a gente usa, ela toma o medicamento, e qual o objetivo disso? É prender o vírus ali e ele não vai mais para o sangue. Quando o paciente chega para mim com o diagnóstico, o primeiro exame que peço é o da carga viral, que vai quantificar a quantidade de vírus no sangue. E qual o objetivo disso? Iniciamos o tratamento e em 1 mês a 2 meses repetimos o exame, para detectar 0 vírus no sangue. A pessoa que está tratando, ela não tem mais vírus no sangue, e se não tem no sangue não tem no sêmen e não há transmissão. E a preocupação maior não é essa pessoa. Não tem para quê preconceito. A preocupação é que existem entre 200 e 250 mil pessoas no país que são portadora do HIV e não sabem. E essas pessoas ao não saber, não estão tratando. E elas podem perder a vida. Ainda temos muitas mortes por HIV, porque as pessoas não buscam diagnóstico. E elas podem viver normal com o diagnóstico e ninguém precisa saber”, destacou.

“Que seja um mês de conscientização para entender o vírus, eliminar o preconceito e testar o máximo de pessoas. Ao diagnosticar e tratar, quebremos o ciclo de transmissão e tornemos possível uma convivência normal com o HIV, sem que a sociedade precise saber.”, concluiu Dr. Fernando Chagas.

Fonte: Adriany Santos
Créditos: Adriany Santos