Opinião

PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS: Círculo Operário de Jaguaribe - Por Sérgio Botelho

A história dos Círculos Operários no mundo tem origem em 1891, na encíclica Rerum Novarium, ou seja, Das Coisas Novas, no papado de Leão XIII. A preocupação central era com a perda de influência da Igreja sobre os movimentos operários, em meio ao pleno desenvolvimento da sociedade industrial e, em contrapartida, aos crescentes movimentos em torno do socialismo.

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A história dos Círculos Operários no mundo tem origem em 1891, na encíclica Rerum Novarium, ou seja, Das Coisas Novas, no papado de Leão XIII. A preocupação central era com a perda de influência da Igreja sobre os movimentos operários, em meio ao pleno desenvolvimento da sociedade industrial e, em contrapartida, aos crescentes movimentos em torno do socialismo.

“O primeiro princípio a pôr em evidência é que o homem deve aceitar com paciência a sua condição: é impossível que na sociedade civil todos sejam elevados ao mesmo nível. É, sem dúvida, isto o que desejam os socialistas; mas contra a natureza todos os esforços são vãos”. Este é um dos trechos da carta aberta dirigida a todos os bispos da Igreja Católica pelo Vaticano, apontando a laicização da sociedade como elemento a ser combatido na relação do cristianismo com o operariado.

Caberia à Igreja, por meio dos Círculos Operários, ao mesmo tempo em que defendesse o direito do trabalhador em construir sindicatos, que isso acontecesse sob princípios considerados cristãos pelo Vaticano. Na carta, a Igreja pregava que o operário “deve fornecer integral e fielmente todo o trabalho a que se comprometeu por contrato livre e conforme à equidade; não deve lesar o seu patrão, nem nos seus bens, nem na sua pessoa; as suas reivindicações devem ser isentas de violências e nunca revestirem a forma de sedições; deve fugir dos homens perversos que, nos seus discursos artificiosos, lhe sugerem esperanças exageradas e lhe fazem grandes promessas, as quais só conduzem a estéreis pesares e à ruína das fortunas”.

Segundo estudo acadêmico da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, “em 1915, a Circular da Pastoral Coletiva dos Bispos Brasileiros já demonstrava grandes temores com relação às crescentes manifestações de trabalhadores”. Dessa forma, a Igreja organizou a partir de 1917 Círculos Operários Católicos em Jundiaí, Campinas e em bairros da cidade de São Paulo. Nesse sentido, passa a existir, então, uma Confederação Católica dos Círculos Operários amparada pelo funcionamento de uma Imprensa Operária Católica.

O movimento circulista cresceu na intenção de “penetrar em um espaço de vida através da instrução, lazer, assistência, moradia, impondo novos padrões de comportamento moral e cultural”, e continua até um programa de reformas sociais que visava atingir toda a sociedade. A criação de Círculos Operários pelo Brasil se deu fortemente durante toda a primeira metade do Século XX. Na Paraíba, também chegou nessa época, como serve de exemplo o Círculo Operário de Jaguaribe, criado em 1 de maio de 1938, Dia do Trabalhador no Brasil desde 1924, a exemplo do que já estava oficializado no resto do mundo.

Em 27 de fevereiro de 1940, o jornal A União, em sua edição daquele dia, destacou “o encerramento, domingo, da grande reunião dos círculos operários da Paraíba” (o que pressupõe a existência de outros círculos no estado), presidida pelo Tenente Câmara Moreira, ajudante de Ordens do interventor Argemiro de Figueiredo. Embora estivesse fora de João Pessoa, foi lida mensagem do arcebispo Dom Moisés Coelho saudando a reunião.

Certamente que as conjunturas terminam por determinar a serventia de algumas instituições, como foi o caso do Círculo Operário de Jaguaribe. Assistente eclesiástico do Círculo Operário de João Pessoa, Dom Antônio Fragoso, tio da combativa militante Socorro Fragoso (perseguida pela ditadura na Paraíba, e tempos depois eleita deputada federal, representando Minas Gerais, com três mandatos consecutivos, entre 2007 e 2019, como Jô Moraes, pelo PCdoB), por exemplo, foi referência da igreja progressista na Paraíba.

Durante a ditadura, especialmente, o Círculo Operário de Jaguaribe serviu de guarida a movimentos culturais e sociais sem espaço, o que lhe confere elevada importância na resistência cultural e social ao autoritarismo, não só de Jaguaribe, mas de toda João Pessoa. A sobrevivência física da sede, naquele importante bairro da capital paraibana, fotografada pela arquiteta e poeta Piedade Farias, baluarte da preservação histórica em João Pessoa, indica necessariamente cuidados do poder público.

Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba