Opinião

PARHYBA E SUAS HISTÓRIAS: Padre José Coutinho ou simplesmente Padre Zé - Por Sérgio Botelho

Há, entre as figuras que marcaram época na capital paraibana, um padre de nome José da Silva Coutinho (1897-1973), mas apenas conhecido como Padre Zé, no máximo, padre Zé Coutinho.

Foto: Internet

Há, entre as figuras que marcaram época na capital paraibana, um padre de nome José da Silva Coutinho (1897-1973), mas apenas conhecido como Padre Zé, no máximo, padre Zé Coutinho.

Nos últimos tempos de vida ele percorria as ruas do centro da cidade em uma cadeira de rodas, esmolando para manter a instituição que dirigia, oficialmente chamada Instituto São José. Mas que também virava Instituto Padre Zé. (Ordenado em 1920, já havia sido capelão da Ordem Terceira do Carmo, vigário da Catedral Metropolitana, capelão do Abrigo Jesus de Nazaré e da Igreja de Nossa Senhora das Mercês, na versão da Irmandade dos Pretos e Pardos, segundo informações do Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba).

A função da entidade sempre foi a de atender pobres e necessitados de uma maneira geral, cumprindo suas obrigações no prédio da Ordem Terceira, na praça Dom Adauto, desde 1935, e, desde o início, sob a sua direção. No local, uma construção setecentista, os residentes e o próprio Padre Zé conviviam em um ambiente altamente precário, inclusive com túmulos, conforme é costume na maioria das igrejas antigas. Ali dormiam e se alimentavam homens e mulheres, grande parte vinda do interior do estado e sem condições de moradia em João Pessoa. Há histórias marcantes, como a de um saudoso ex-deputado.

Ele mesmo me contou, sem qualquer tipo de vergonha (aliás, incabível, já que uma história de sucesso) que, vindo do Sertão, residiu em Padre Zé, e terminou concluindo o curso de Medicina. Me disse que namorava uma moça de classe média residente no Miramar. Mas naturalmente escondia o local de sua (dele) moradia. O preconceito era grande na sociedade pessoense, infelizmente meio metida a aristocrática, sobre o abrigo de Padre Zé.

Os moradores do Instituto, eles mesmos é que faziam a limpeza. Estando o nosso personagem escalado para a faxina do dia, eis que chegam os pais da moça para contribuir com a obra. Deram de cara com ele em plena faina. À noite, quando chegou, como era costume, para namorar no portão da residência de sua amada, o que encontrou foram cartas e fotos que havia mandado ao seu amor (naquela época os namorados trocavam missivas e retratos) em cima do muro. E tudo fechado. Acabou, né?! Algum tempo depois, festejando a aprovação em Medicina, na UFPB, de boina verde e tudo, ele deu de cara, no Ponto de Cem Reis, com a ex-namorada que, ao lhe avistar, demonstrou felicidade e quis se aproximar.

Ele desviou, e foi embora. Foi a vingança. Há também histórias de gente formada em outros cursos superiores e que residiam em Padre Zé. Mas também de abrigados que fizeram concurso público, já que a instituição mantinha uma escola de datilografia. A figura de Padre Zé é uma lembrança muito forte para quem o conheceu. Costumava ficar em frente dos cinemas Plaza, Municipal ou Rex, de preferência nas sessões mais concorridas, com uma varinha, tocando levemente os passantes para que se lembrassem de deixar algum óbolo.

Mas podia rogar caridade, entre outros lugares, num bar ou num restaurante. Não lhe importava. Um ano antes de sua morte, em 1972, um filme de 16mm, de Jurandy Moura (diretor, produtor e roteirista), Manoel Motta (também no roteiro e na assistência de direção), João Córdula (fotografia), Manfredo Caldas (montagem) e títulos de José Altino, batizado de Padre Zé Estende a Mão, registrou a vida do Padre José Coutinho (ele, versado em música, responsável pela trilha sonora) em imagem e som.

Seu túmulo, no Cemitério Senhor da Boa Sentença é, todo o tempo, em especial no dia anual de Finados, lotado de gente, em sua esmagadora maioria pobre, que agradece milagres e ora por sua beatificação.

(A foto é do filme Padre Zé Estende a Mão)

Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba