Ajuda humanitária também não tem data para chegar pela fronteira com o Egito. Falta garantias de Israel de que os comboios de produtos não serão bombardeados pelo Exército, tal como aconteceu com um comboio de pessoas que deixava o Norte de Gaza, atendendo à ordem de evacuação. As explosões de mísseis, que atingiram uma das chamadas “rotas seguras de saída”, podem ser vistos em vídeos que circulam nas redes, bem como os corpos resultantes. Ao todo, 70 pessoas morreram nesse ataque, incluindo crianças.
Profissionais que atuam na saúde de Gaza com quem conversei neste sábado disseram que a atuação é limitada sem eletricidade e reconhecem que muitos feridos sofreriam menos se tivessem morrido imediatamente nos ataques. Reclamaram que ambulâncias vêm sendo destruídas em bombardeios.
Além disso, dizem que o odor de morte impregna o ar do território. Como resultado dos bombardeios, com corpos se decompondo presos nos escombros, mas também porque os necrotérios estão colapsando.
Até carros de sorvete foram empregados para guardar corpos diante da falta de espaço nos hospitais. A questão é que até eles devem parar de funcionar sem combustível, bloqueado por Israel.
“O cerco a Gaza nos últimos 17 anos enfraqueceu um já frágil sistema de saúde. Desde o segundo dia do início da agressão, a usina de energia solar parou de funcionar e não há fonte de eletricidade a não ser geradores – que consomem 50 litros por hora. Estamos prestes a esgotar as quantidades de reserva de combustível”, disse à coluna Haneen Wishah, gerente de projetos da Al Awda, organização que administra hospitais e serviços de emergência em Gaza.
“É claro que isto resultará em uma crise humanitária sem precedentes devido ao fechamento total de hospitais com o corte de energia”, explica. Ela cita dados da Unicef, o fundo da ONU para a infância, que apontam que mais de 700 crianças perderam a vida em Gaza desde o início dos bombardeios. Dos quais cerca de 100 apenas neste sábado.
Os hospitais também se tornaram uma espécie de ponto de refúgio para muitos que acreditam que estarão mais seguros em suas instalações. Com tanta gente acumulada, doenças infecciosas ganham um incentivo para se espalhar mais rápido.
Até agora não foram estabelecidos corredores humanitários para a saída de palestinos da Faixa de Gaza. Falta a concordância do Egito para receber os refugiados e de Israel para garantir passagem segura. Enquanto isso as Nações Unidas criticam o governo israelense por conta do bloqueio, dos bombardeios e do êxodo caótico provocado em direção sul.
Como noticiou a Al Jazeera, o ministro chinês das Relações Exteriores, Wang Yi, criticou a operação em Gaza, descrevendo a ação como “além do âmbito da autodefesa” e instando o governo de Benjamin Netanyahu a “cessar a punição coletiva” dos palestinos no território sitiado. Wang fez os comentários durante ligação com seu homólogo da Arábia Saudita.
A conversa foi escolhida a dedo como recado, pois Israel estava se esforçando para normalizar as relações com a ditadura saudita – processo suspenso com o conflito.
A matança em Israel fez com que o governo Netanyahu reunisse respaldo interno, mesmo após o apagão da inteligência que falhou em prever o ataque, e externo, contando com retaguarda militar dos Estados Unidos para tentar dissuadir Irã e Síria a entrarem no conflito. Mas o cheiro de morte em Gaza está se espalhando rápido. Quanto mais países sentirem o odor de crime contra a humanidade, menos apoio ele terá.