Nonato Guedes
O senador Cássio Cunha Lima tenta ganhar tempo dentro do PSDB paraibano para aproximar do governador Ricardo Coutinho (PSB) políticos tucanos que em tese não aceitam apoiar a reeleição do chefe do Executivo em 2014 ao Palácio da Redenção. O presidente reeleito do diretório estadual, deputado Ruy Carneiro, tem insistido no discurso de lançamento de candidatura própria ao governo, sugerindo que o próprio Cássio assuma essa condição. Enquanto isso, o senador Cícero Lucena, que pretende pleitear a recondução ao mandato, opõe a resistência mais forte a uma pacificação com Coutinho.
Versões colhidas pelo “RepórterPB” sinalizam que Cunha Lima estaria tentando persuadir, sobretudo, o senador Cícero Lucena, quanto à necessidade estratégica de uma aliança em apoio à reeleição de Coutinho, com a oferta ao PSDB de duas vagas – a de vice-governador e a de senador. Na convenção promovida em Campina Grande no fim de semana, Cícero Lucena fez um discurso com tom saudosista, evocando o período em que foi candidato a vice na chapa vitoriosa ao governo em 1990, encabeçada por Ronaldo Cunha Lima. Naquela disputa, a chapa Ronaldo-Cícero derrotou, em segundo turno, a chapa encabeçada pelo ex-governador Wilson Braga. Mas os vencedores ainda eram filiados aos quadros do PMDB, partido ao qual Cássio não cogita, nem de longe, retornar.
A vice-governança de Ricardo poderá ser oferecida a um representante de Campina Grande, indicado por Cássio e ligado ao seu grupo político. Para o senador, a estratégia seria mais viável do que o lançamento de candidatura própria em meio a uma conjuntura que poderá ter outros dois postulantes respeitáveis – o ex-prefeito de Campina, Veneziano Vital do Rego, pelo PMDB, e o ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro, pelo PP, encabeçando chapa que teria a participação decisiva do Partido dos Trabalhadores. Cássio já deixou claro que considera legítima a postulação por uma candidatura própria do PSDB, até como tática para reforçar o palanque do presidenciável Aécio Neves na Paraíba. Mas já confessou a interlocutores que acha possível uma divisão de palanques, sem prejuízo da conjuntura regional, onde outros fatores pesariam na decisão do eleitorado.
Em 2010, Cícero abriu mão da pretensão de disputar o governo do Estado, acolhendo sugestão de Cássio de que o nome ideal para derrotar José Maranhão seria Ricardo Coutinho, recém-saído da prefeitura de João Pessoa. Lucena não se engajou no palanque de Ricardo, até porque não estava em jogo nenhuma postulação pessoal sua. Chegou a declarar voto, no segundo turno, para José Maranhão. Mas Cícero está sendo lembrado, agora, de que em 2012, quando ele passou para o segundo turno contra o petista Luciano Cartaxo, Maranhão declarou posição de neutralidade em relação às duas candidaturas, o que eliminaria qualquer obrigação de reciprocidade de Lucena em relação a ele.
Ocorre, também, que em 2014 o grande opositor de Ricardo, em tese, deverá ser Veneziano Vital, cujo esquema o cassismo derrotou em alto estilo no segundo turno da disputa de 2012, promovendo a ascensão de Romero Rodrigues ao comando da prefeitura e desalojando o grupo familiar peemedebista do executivo municipal. No ninho tucano paraibano, há inúmeros políticos que consideram acertada a avaliação estratégica de Cássio e estão dispostos a segui-lo. Mas o senador Cunha Lima considera que o grande trunfo a ser colocado na mesa é o da unidade do PSDB, reforçando a garantia de espaços para os tucanos na chapa majoritária encabeçada por Ricardo e, também, por participação mais efetiva no futuro governo. A atitude de Cássio, transferindo discussão mais aprofundada para o próximo ano, faz parte da sua estratégia pessoal de acomodar divergências internas e obter a unidade como ponto relevante na negociação com o governador Ricardo Coutinho, no momento oportuno.