A imprensa com juízo de ameba

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Cláudia Carvalho

Duas novelas em exibição atualmente na Rede Globo mostram visões estereotipadas dos jornalistas. Aliás, não é, infelizmente, uma exceção que haja em dois folhetins globais a caracterização dos profissionais de imprensa como vilões fúteis ávidos por uma fofoca ainda que bem mixuruca.

Na recém iniciada “Sangue Bom”, no horário das 19h, o núcleo que gira em torno da atriz decadente Bárbara Ellen (Giulia Gam) exemplifica a forma equivocada como a mídia é exposta. A personagem adotou quatro filhos para continuar em evidência nos noticiários e a cada término de relacionamento afetivo estala os dedos para que um séquito de repórteres corra a seu encontro a fim de dar publicidade a detalhes irrelevantes de sua vida pessoal. A turba segue Barbara e sua filha Amora Campana (Sophie Charlotte) como se fossem usinas geradoras de notícias da categoria de Dilma Rousseff.

Em “Salve Jorge”, a escritora Glória Perez já foi capaz de esquematizar uma entrevista coletiva com repercussão nacional para que a socialite Lívia Marini (Cláudia Raia) se queixasse de supostas agressões físicas praticadas pelo Coronel Theo (Rodrigo Lombardi) e revelasse um caso amoroso que ambos tiveram na Turquia, o caminho da roça de metade dos personagens. Como se o tema tivesse relevância, as televisões hipotéticas da trama de Glória Perez mostraram a patuscada em horário nobre.

Ironicamente, na semana que passou, a autora destacou, em seu Twitter, a coragem de um jornalista bem diferente dos perfis que ela criou para a novela. Ela ressaltou o trabalho do espanhol Antonio Salas, que se infiltrou durante um ano na máfia do tráfico humano. Em busca de matérias importantíssimas, ele já se fez passar por “skinhead” e traficante de mulheres, aprendeu árabe, converteu-se ao islã e fez-se circuncidar. Nada disso foi capaz de inspirar a dramaturga a injetar elementos mais positivos na construção de personagens que representam os jornalistas.

Se fôssemos buscar mais exemplos da imagem tosca da imprensa nas novelas, não teríamos dificuldades para identificar várias outras situações. Em Fina Estampa, Marcela Coutinho (Suzana Pires) dizia ser jornalista, mas se gabava de pautas grotescas e ganhava mais dinheiro chantageando a vilã-mor Tereza Cristina (Cristiane Torloni) que redigindo laudas de futilidades para jornalecos especializados em celebridades.

Para evitar o desespero, vale lembrar que nem sempre fomos tão mal tratados pela teledramaturgia. Zelda Scott (Andréa Beltrão) era uma jornalista boa praça e disputada pelos bonitões Juba e Lula (Kadu Moliterno e André di Biase) em Armação Ilimitada. Teve também Chico Motta (Marcos Palmeira) que encarnava o tipo “quero mudar o mundo” na novela Andando nas Nuvens (1999). De lá para cá, entretanto, a imagem dos jornalistas de novelas despencou para o nível da mosca do cocô do cavalo do bandido.