É triste passar no Ponto de Cem Reis, na capital paraibana, e ver o esqueleto do edifício do Ipase literalmente apodrecendo aos olhos de todos, e, de quebra, enfeando o ambiente. Quem não sabe a sua (do prédio) história não consegue alcançar o brilho que teve um dia. Primeiramente, é preciso saber exatamente o que foi a instituição Ipase.
A sonora sigla representa o Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado, que reunia o funcionalismo público federal em um único sistema previdenciário. Tratava-se de um órgão paraestatal, com personalidade jurídica e autonomia administrativa e financeira. Realizava seguro social, cooperava na solução de problemas de assistência aos servidores, operava com seguro privado, capitalização, financiamento para aquisição de casas, de empréstimos e ainda outras formas de assistência econômica.
Foi criado por Getúlio Vargas em 1938 e extinto por Ernesto Geisel em 1977, quando da criação do Instituto Nacional de Previdência e Assistência Social (INPS). A construção do prédio pessoense, entre 1949 e 1951, obra dos governos Dutra e Getúlio, eleitos, após a ditadura do próprio Vargas, encerrada em 1945, findou incluído entre as mudanças que iam ocorrendo na paisagem de João Pessoa. Assim posto, na esquina da Duque de Caxias com a Guedes Pereira, no começo do que é conhecido como ‘descida para o comércio’, onde segue desafiando as inflexíveis leis do tempo.
Constituiu-se no primeiro prédio em João Pessoa com mais de 5 andares (tem 7), e muito parecido com outros ícones da arquitetura nacional da época, como os edifícios do Ministério da Educação e da Associação Brasileira de Imprensa, ambos no Rio de Janeiro, naquele momento, capital do país. O prédio do Ipase, conforme se popularizou até hoje, surgiu na paisagem pessoense numa época em que os poderes públicos locais de tudo faziam para incentivar a construção de edifícios na cidade, pelo que tinham de expressão desenvolvimentista da urbe.
Leis municipais ora dispensavam a obrigatoriedade de instalação de elevadores, ora isenção de impostos e até proibiam construções com menos de 3 andares em locais como Avenida Guedes Pereira, Barão do Triunfo, Praças 1817, Vidal de Negreiros e João Pessoa, ruas Duque de Caxias e Visconde de Pelotas, conforme revelaram os então graduandos (2009.1) do curso de Arquitetura e Urbanismo, Juliana Peçanha, Marina Goldfarb e Nelci Tinem, exercendo a monitoria no Departamento de Arquitetura do Centro de Tecnologia da UFPB, em trabalho acadêmico intitulado “Registro de Arquitetura Moderna: o Edifício Sede do Ipase”.
É deles a descrição a seguir, que realça características da obra: “O edifício sede do IPASE é a primeira construção de João Pessoa a utilizar estrutura independente (CHAVES, Carolina. João Pessoa: verticalização, progresso e modernidade. Registro dos prédios altos (1958 – 1975). Trabalho Final de Graduação. João Pessoa, CAU/UFPB, 2008). Possui uma malha regular de pilares de seção circular, completamente soltos das fachadas, possibilitando a liberação de cinco das sete faces do volume do edifício. Nas duas fachadas em que isso não acontece (fachadas cegas que fazem limite com os edifícios vizinhos), são lançados pilares retangulares embutidos nas paredes, através dos quais são descarregados os esforços laterais, apesar de não se tratar de alvenaria estrutural.
Essa solução é bastante utilizada em edifícios altos, principalmente os destinados a escritórios ou repartições públicas, por permitir a liberação da fachada e maior flexibilidade em planta.” Em 2018 a Defesa Civil de João Pessoa alertou para problemas estruturais na obra, inclusive possíveis de provocar desabamento. Ao que parece, ficou nisso. Porém, como informa Pedro Marinho, em seu atuante perfil deste Facebook, o septuagenário prédio do Ipase será, dentro do Programa Minha Casa Minha Vida, transformado num residencial com 50 aptos. Notícia boa!
Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba