O Estado é mentiroso

Amadeu Robson Cordeiro

Li uma pequena parte do livro “Ponto Ómega”, de Don DeLillo, onde há uma passagem, referente a um interessante diálogo que me chamou a atenção. Confesso que fiquei um pouco perturbado. De acordo com o autor há estratégias que têm como objetivo criar realidades, “A percepção humana é a saga da criação da realidade”. A propósito das birras do governo com o funcionalismo público é possível ler a seguinte afirmação: “Não há nenhuma mentira na guerra ou na preparação da guerra que não seja defensível”, a justificar dois pontos cruciais: Mentir é necessário para o Rei, portanto, o Estado (reinado) tem de mentir.

Li e reli este capítulo e fiquei convicto de que poderia ser escrito da seguinte forma: Não há nenhuma mentira no governo ou na atuação da governabilidade que não seja defensível. O que tenho visto e ouvido nos últimos tempos legitima perfeitamente esta adaptação. O governo com sua bela Corte explica as razões de certos acontecimentos, por exemplo, o aumento do limite prudencial, alegando que tudo o que esta acontecendo são resultantes de novas metodologias administrativas em prol do desenvolvimento da terrinha, tentando nos impor uma amnésia funcional das inúmeras pisadas na bola, de fazer inveja a Neimar e Robinho. São táticas que tentam justificar o injustificável encobrindo mentiras, sonegando a verdade.

Dizem isto pestanejando com uma freqüência superior ao habitual, ou, então, inclinando a cabeça para trás, com medo de que a verdade lhes fira as faces anêmicas, de botox e sem vergonha. Mentiras que poderiam ser facilmente desmascaradas pelos grosseiros e vulgares polígrafos que estão à nossa disposição. Atenção aos aliados e puxa sacos do Rei: olhos e ouvidos atentos a uma inteligência anormal e paranoica reinante.

Quanto a ser necessário mentir não tenho dúvidas, faz parte da natureza humana. Mas há muitos tipos de mentiras: as aceitáveis são as “mentiras brancas”, mas as produzidas no âmbito da política, do social, da religião, da publicidade comprada e dos negócios são perigosíssimas e difíceis de controlar. Sendo assim, a Corte não pode nem deve mentir, e o fato de continuamente nos mentir é a principal razão de termos chegado a esta situação. Quem governa deveria, na tomada de posse, substituir o tradicional juramento por outro, mais adequado; dizer que nunca mentirão e que mostrarão ao povo toda a verdade dos acontecimentos e decisões. Está certo o que você está pensando prezado leitor, também acredito que mais nenhum seria reeleito, mas pelo menos responsabilizaria o povo a ter de aceitar aquilo que não quer ouvir: a verdade, sim, porque o povo adora quem lhe minta, e quanto mais, melhor… É tudo o que o Rei quer.