Conforme se sabe, a cultura de negros e índios na história do Brasil perpassa a cultura branca e em conjunto formam o alicerce onde foi construída a essencialidade artística e religiosa brasileira. Em João Pessoa, para lembrar, entre as décadas de 1920 e 1930 o poder público, com a aquiescência da Igreja de então, apagou do mapa cultural da cidade três irmandades de pretos e pardos que administravam as antigas igrejas do Rosário dos Pretos, das Mercês e da Mãe dos Homens. Os templos foram até reconstruídos, mas sob o controle total do clero secular.
E, lógico, sem as irmandades. Diferente disso, a histórica cidade de Pombal, na Paraíba, oferece um belo exemplo de resistência cultural, pois não apenas continua de pé o prédio histórico do templo da irmandade, a três vezes centenária Igreja do Rosário, como é lá que pretos e pardos se reúnem e seguem expondo suas crenças e rituais. Dessa forma, no final deste mês de setembro outra vez acontece a célebre Festa do Rosário naquela singularíssima cidade do Sertão paraibano.
Portanto, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Pombal receberá, em mais um ano, pelo terceiro século consecutivo, procissões que misturam cristianismo com expressividades religiosas africanas, revivendo o sincretismo cultural e religioso que marca tão fortemente o sagrado na história do Brasil. São os Pontões e o Congo da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos do Sertão paraibano pedindo passagem mais uma vez para manifestar sua cultura.
Felizmente, o mesmo ritual continua a acontecer em outras partes e em diversos calendários regionais desse nosso Brasil tão profunda e maravilhosamente preto, branco e indígena, apesar da iníqua reação contrária dos racistas de plantão.
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba