A ministra e a imprensa

Nonato Guedes

Não conheço pessoalmente a ministra-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Helena Chagas. Conheço seu pai, Carlos Chagas, com quem trabalhei no jornal “O Estado de São Paulo”, ele baseado em Brasília. Na gestão de Severino Ramos na presidência da API, tive a oportunidade de promover um seminário sobre política e imprensa e recepcionei, como um dos ilustres convidados, o jornalista Carlos Chagas, que posteriormente revi na TV Manchete, durante uma entrevista que fez com o então governador da Paraíba, Cícero Lucena. Carlos Chagas foi Secretário de Imprensa do governo do general Costa e Silva e lutou quixotescamente para o levantamento da censura a órgãos de comunicação. Aqueles eram tempos difíceis, com certeza.

Tão difíceis que Costa e Silva, apesar da fama de expoente da linha dura do regime, tentou entrar na História revogando o AI-5. Acometido de uma trombose, não teve condições de cumprir o desideratum a que se propunha. Passado o estágio no poder, Carlos Chagas voltou ao comentarismo político, no “Estadão”, com seu estilo peculiar, de observador crítico da cena brasileira. Guardo nos meus arquivos um dos seus textos em que falava da desinformação propiciada por auxiliares do governo Figueiredo, o que prometia prender e arrebentar quem fosse contrário à democracia. Mas é sobre Helena Chagas que pretendo falar, mais precisamente sobre seus princípios favoráveis à liberdade de expressão. No discurso de posse, em que sucedeu a Franklin Martins, revelou que abrir mão da liberdade é impensável e aludiu à sua geração, que vivenciou o reino das trevas na ditadura militar. Helena ‘conheceu’ o épico Camões quando criança, lendo edições censuradas do jornal paulista em que seu pai trabalhava. Na época, para driblar a censura institucionalizada, o “Estadão” abusou da publicação de receitas de bolos e sonetos de Camões na primeira página, desafiando subliminarmente os agentes da tesoura.

Ao encerrar em Brasília, esta semana, o Fórum sobre Liberdade de Imprensa e Democracia, Helena Chagas destacou a importância da informação para a consolidação da democracia. “Nem sempre foi assim, mas eu acho que, agora, a liberdade de imprensa se deve, sobretudo, ao amadurecimento político que nós alcançamos. Eu não vejo em hipótese alguma possibilidade de retrocesso, pois nossa liberdade de imprensa é um pilar da democracia”, acrescentou. Helena advertiu, também, que para se garantir a liberdade de imprensa, é necessário, antes de tudo, contar aos jovens como foi viver sob a censura da ditadura militar. Só assim é possível dar importância à conquista da liberdade que se tem hoje. Outro ponto que ela enfocou foi a necessidade de abertura de espaços, nos meios de comunicação, para o cidadão. Helena foi coordenadora de imprensa da presidente eleita Dilma Rousseff na sua campanha e na transição para a posse, sendo efetivada na Comunicação. Provém de militância profissional em “O Globo” e “Jornal de Brasília”.

Vivenciou uma fase importante na formação de qualquer profissional: a que envolve a cobertura como repórter. Ficou alojada em portarias de prédios importantes para recolher informações. O almoço, como Helena lembrou, era um sanduíche frio acompanhado de Coca-Cola quente. Confesso que me entusiasmei com suas palavras no Fórum recém-encerrado na capital federal, e, por igual, com a exortação às novas gerações para que procurem se informar sobre a Era de terror que vigorou no Brasil quando um bando de generais loucos e aventureiros empalmou o poder a pretexto de defender a sociedade e, em resposta, esmagou a sociedade, nas suas conquistas e nos seus direitos mais do que legítimos. O Fórum foi realizado no momento em que o país começa a acordar do julgamento do assassinato do jornalista Décio Sá, em abril do ano passado, em São Luís, Maranhão, por ter divulgado em seu blog esquema de agiotagem de uma quadrilha que atuava naquele Estado.

Quando se nota que ainda há petistas xiitas interessados em fomentar uma insidiosa regulação da mídia, que não é mais do que uma forma disfarçada de patrulhamento, soa como um bálsamo a palavra da ministra Helena Chagas. Que reproduz o que a própria presidente Dilma Rousseff tem dito, ou seja, que prefere a claridade das críticas à escuridão da repressão. Esta é, também, a demanda que a sociedade reivindica.