De superior inspiração religiosa, a Festa das Neves, em João Pessoa, se tornou ao longo do tempo a mais forte identidade cultural da cidade. Sem uma data precisa que determine o seu início, ela comemora a nossa padroeira: Nossa Senhora das Neves. Afinal, no universo católico, todo padroeiro ou padroeira tem direito a um novenário e não poderia ser diferente com a Senhora das Neves. Seu instante maior é o 5 de agosto, dia mundial de apelo a essa denominação da Virgem Maria que fez nevar em pleno verão de Roma, segundo a tradição.
Tendo sido fundada em 5 de agosto, e conforme costume dos portugueses com relação a novos pontos descobertos e cidades fundadas, comumente batizados com o nome do santo do dia, a capital paraibana ficou, então, sendo oficialmente chamada de Cidade de Nossa Senhora das Neves. Pois bem, durante a festa os louvores à Virgem misturam o profano e o sagrado incorporando, também, a cultura da cidade e a alegria popular. As festividades têm início normalmente em 27 de julho e se encerram oficialmente em 5 de agosto, pelo motivo que já expus.
Mas foi a parte profana a que conseguiu mais profundamente marcar a alma do povo pessoense. Qual foi a criança nascida até a década de 90, mais ou menos, que não experimentou ansiedade pela chegada da festa? Era o momento mágico de brincar nos carroceis e rodas gigantes e montanhas russas e outros brinquedos que tais à disposição nas ruas contíguas à Catedral de Nossa Senhora das Neves. Para os adultos mais ricos e/ou politicamente empoderados, havia os pavilhões do governo e da prefeitura, ou, antes disso, um pavilhão único oficial repleto de elegância e com gente disposta a doar e a arrecadar donativos e recursos financeiros para a Igreja e para a pobreza da cidade. No caso dos jovens, tinha a paquera e o namoro durante retretas que iam e viam interminavelmente.
Na parte gastronômica, as guloseimas em forma, por exemplo, de açucaradas e vermelhas maçãs do amor. Mas também as barracas do tradicional cachorro-quente pessoense à base de carne moída, verduras trituradas e outras coisitas mais ao gosto do responsável pelo seu preparo. E, ainda, muita cachaça e muita cerveja acompanhada de siri mole, de feijoada, de guisado de bode, de galinha ao molho, de violão ou de sanfona ou de pandeiro, noite adentro, na famosa parte da festa chamada não sem razão de bagaceira. No cardápio cultural, luz para as apresentações artísticas e folclóricas. Além de shows de artistas famosos local e nacionalmente.
Hoje, a Festa das Neves continua. Até com muitas dessas coisas. No entanto, a “vibe”, como se diz modernamente, não é mais a mesma. Pelo que eu diria, infelizmente!
Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba