Joaquim, o xerife vem aí

Gilvan Freire

Capriles, o obstinado desafeto de Chávez na Venezuela, passou por cima do cadáver do líder morto e, por diferença mínima, quase toma o poder de Maduro, o fantoche que entre outras asneiras incivis dizia na campanha que Chávez estava aparecendo a ele. As eleições na Venezuela, mês passado, pareciam invencíveis pela oposição, porque o cadáver de Chávez cheirava como incenso e enfeitiçava o povo. Lá, o poder não cuidava de outra coisa a não ser de sua própria manutenção, enquanto a inflação galopava, a educação falia, a saúde pública cambaleava e a segurança pública entrava em colapso. E o país, que precisava de um presidente, tinha um eterno candidato a mito e santo, num desses messianismos latino-americanos custeados pelo dinheiro público e pela mistificação medieval.

No Brasil de Dilma e Lula, a mistificação tem o mesmo viés deplorável, e o país reproduz em quase todas as áreas o mesmo padrão de ineficiência. Em aparição no horário partidário gratuito, recentemente, Lula ancora Dilma, como Chávez fazia com Nicolás Maduro, tudo para garantir a perpetuidade do poder que abriga os grupos que descobriram fora de época esse Brasil de inflação manipulada e desgoverno escancarado nos setores vitais do desenvolvimento. Lula pareceu cansado, doente, envelhecido, porque o poder seria bem melhor se não envelhecesse seus donos.

Cansados dessa dominação política obsessiva de maus resultados, vê-se que o povo quer construir saídas e busca alternativas, apesar do apego que ainda tem por Lula. Não custa pensar que Chávez, vivo, era na Venezuela bem maior do que Lula no Brasil e, morto, era imensamente superior. Mesmo assim, a democracia exigiu do chavismo mais culto ao país do que a seus líderes. E o chavismo logo chegou aos estertores.

O brasileiro quer fazer uma faxina no poder. Há corrupção e violência de sobra e educação e saúde de menos. O modo petista de governar (ou melhor, o modelo lulista de governança) está esgotado. O problema é achar um Capriles, corajoso, combativo, que não se assombre com os mitos messiânicos que vagueiam pelo país.

Eduardo Campos e Aécio Neves são Capriles engomadinhos, embora eficientes na gestão. Mas, e se o povo estiver atrás de um Capriles negro, desabusado, enfrentador, que tem uma palmatória na mão só para bater em bandidos do colarinho branco? Um xerife entrincheirado numa toga que não deixa ninguém meter lama nela? Não se sabe ainda como isso pode acontecer, mas as reações populares são sinalizadoras. Um país sem muita alternativa de líderes pode encontrar um na rua ou numa ocasião. O Brasil está num processo de busca.

Nada diz que soluções como a da candidatura de Joaquim Barbosa possam ser seguras para alcançar grandes e esperados resultados, mas a democracia só perde muito quando gira em torno das mesmas pessoas. Nada é mais nefasto que o continuísmo dos grupos políticos.

O nome de Joaquim Barbosa, com todas as preocupações que causa, ao povo causa menos, porque as pessoas querem desmistificar o poder e apear os mitos. Só eles não entendem, como Chávez não entendia, que são mitos de barro, desses que o povo gostar de quebrar.