Julho deste ano avança para bater um recorde negativo mesmo antes de terminar: tomar o lugar do mesmo período de 2019 e se transformar no mês mais quente da história. Os sinais foram detectados pelo ERA5, a quinta geração da ferramenta mais poderosa de análise de dados sobre mudança climática do Centro Europeu de Previsões Meteorológicas.
O conjunto de dados do monitor, associado ao Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus e que armazena dados desde 1940, já conseguiu identificar que, nos primeiros 23 dias deste mês, a temperatura média no mundo foi de 16,95°C — ainda falta uma semana a ser computada. Esse patamar já supera os 16,63°C de julho de 2019 (mês completo), recorde histórico desde 1940.
É importante lembrar que a ferramenta calcula as temperaturas em todos os cantos do planeta, desde as dezenas de graus negativos da Antártida, Groenlândia, Sibéria e Alasca até os termômetros nas alturas do deserto do Saara ou do Atacama, por exemplo. Com isso, é feita uma média.
O diretor do Serviço de Mudança Climática Copernicus, Carlo Buontempo, afirmou que “as quebras de recorde de temperatura são parte de uma tendência de aumentos drásticos nas temperaturas globais. As emissões de gases são mais recentemente o principal catalisador para o aumento dos termômetros”.
“O recorde de julho não deverá ser um fato isolado neste ano. Isso porque as previsões apontam para territórios com temperaturas muito acima da média”, adverte.
O calor já provocou eventos climáticos extremos e vítimas em todos os continentes, com destaque para a onda de calor escaldante na Europa, América do Norte e Ásia e os incêndios no Canadá e na Grécia.
Recorde diário
O mês começou, de acordo com o ERA5, com a quebra do recorde histórico de temperatura diária em sequência, entre os dias 3 e 6 de julho. Esses quatro dias foram mais quentes do que o recorde diário anterior, de 16,8°C, registrado em 13 de agosto de 2016. O dia mais quente da história, por enquanto, foi 6 de julho, quando a temperatura global chegou aos 17,08°C.
Com isso, as três primeiras semanas do mês sinalizam um novo recorde histórico. Durante esse período, as temperaturas já excederam, ainda que de forma temporária, em 1,5°C o limite superior do período pré-industrial — esse teto foi selado no Acordo de Paris.
Águas do mar mais quentes
Os cientistas afirmam que o aquecimento incomum das águas de superfície do mar colabora para o recorde histórico de temperatura do ar em julho. Desde abril, a média de temperatura diária permaneceu inalterada, conforme a época do ano. A partir do meio de maio, porém, os valores observados não têm precedentes na história quando comparados.
Os dados do ERA5 mostram, por exemplo, que, em 19 de julho, os termômetros chegaram à média de 20,94°C na superfície dos oceanos — apenas 0,01°C acima do maior nível já registrado até então, em março de 2016, quando chegou a 20,95°C.
El Niño
O aumento da temperatura dos oceanos coincide com o avanço do fenômeno El Niño, um período de termômetros acima da média nas águas do oceano Pacífico. Naturalmente, esse fenômeno tem um padrão, que leva a ondas de calor extremas em várias regiões e no oceano.
Paralelamente a isso, os cientistas já notaram recordes sucessivos de temperatura no norte do oceano Atlântico. Em junho, a temperatura nas águas do Atlântico Norte já tinha atingido recorde histórico, com média de 0,91°C acima dos registros da época.
“O clima extremo que afetou dezenas de milhões de pessoas em julho é, infelizmente, a dura realidade da mudança climática e uma amostra do futuro”, disse o secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial (WMO, na sigla em inglês), professor Petteri Taalas.
“A necessidade de reduzir as emissões de gases de efeito estufa é mais urgente do que nunca. A ação climática não é um luxo, mas uma obrigação.” Desde abril, a temperatura média diária global da superfície do mar permaneceu em valores recordes para a época do ano.
A publicação dos dados do ERA5, que devem confirmar o recorde histórico de temperaturas para julho, será em 8 de agosto.
Fonte: R7
Créditos: Polêmica Paraíba