Eu, que de tão urbano, jamais imaginei “querer uma casa no campo”, tenho tido vontade de ir além.
Até Zabé me inspira.
Vale loca, toca, gruta, um buraco qualquer.
Marcos, ermitão.
Alguns, maledicentes, vão se valer do escapismo comum de me acusar de intolerante ao novo “e o novo sempre vem” etc e coisa e tal…
Ok, ok, sempre há um pouco de choque temporal, mas nada contra as tais “mudernidades”, ao contrário, me valho das mesmas e me divirto até com o que não sou muito hábil. Mas, como diz o mandamento, até a avacalhação tem limites…
Esqueça Alexa e outros rudimentos de Inteligência Artificial.
ChatGPT? Fichinha…
A onda agora é ressuscitar cantores icônicos em versões musicais de gosto duvidoso. Eu achava que o ápice do mau gosto em brincar de morto-vivo na música seria a breguice de Paulo Ricardo com banco vazio ao lado e projeção de Renato Russo no telão…
Ele garante que se emocionava a cada apresentação, eu, na única vez que vi, me constrangi.
Daí, adiantando a fita VHS da vida, neste ano da graça, “do nada, do nadão”, um comercial da Wolkswagen causa furor ao unir Maria Rita e uma digitalização da mãe Elis Regina, emparelhando carros e fazendo um duo animado do clássico Belchiorano “Como nossos pais”.
“O golpe ta aí, cai quem quer…”
Nem vou adentrar questões técnicas, menos ainda o apelo afetivo que causa nas pessoas, a relação mãe e filha, a empatia de ambas na sociedade, saudade de uma das maiores cantoras brasileiras e tudo o mais…
Noves fora as afeições alheias, eu acho de um mau gosto medonho.
Mais que isso, há questões éticas envolvidas ali, que nem consigo elencar.
Uns podem alegar que os filhos, herdeiros do espólio, a filha, em especial, não só autoriza como participa da peça.
Que seja legal, mas amoral.
E, como não sou juiz, vou opinar.
Elis sendo recriada artificialmente, como uma “pimentinha engarrafada” para gerar dividendos aos herdeiros e a uma montadora de carros, ao sistema, que à época da ditadura, a própria combateu.
No mínimo, no mínimo, controverso.
No esquema Frediano “Computadores fazem arte, artistas fazem dinheiro”.
Na sequência desta ficção pós apocalíptica da “vida como ela é” vejo a notícia do ídolo adolescente-juvenil Chorão, morto há uma década, sendo ressuscitado cantando versões de artistas diversos.
De diversos estilos, aleatoriamente.
“Parem as máquinas”!
É a oficialização da fake news.
Milhares, milhões de views, likes, joinhas para músicas cantadas por robô emulando personagem real morto que, provavelmente, nunca cantaria aquelas canções.
E você pode até achar bonitinho, fofinho, se impressionar com o esmero técnico da simulação, mas, como diria o filósofo Confúsio (com S mesmo): “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa…”
Mandaram às favas o direito de imagem, respeito as escolhas individuais, quiçá moral pessoal.
Esquema viral impostor.
É a institucionalização de uma dissociação post-mortem.
Que a Revolução das máquinas respeitem, ao menos, os mortos!
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba