Um dos momentos mais aguardados da programação foi a inauguração do Museu de Arqueologia de Pilões. A prefeita Socorro Brilhante destacou a importância desse equipamento para o município, ressaltando que ele guarda peças de grande valor histórico e cultural. Ela enfatizou a alegria de presenciar a abertura do museu após anos de trabalho árduo.
“Este museu é uma riqueza para o município de Pilões. Em 2009 a cidade teve este privilégio de descobrir um cemitério Arqueológico durante escavações da Energisa, isso chamou muito a atenção de toda a região e dos pesquisadores do Estado da Paraíba, principalmente. Os achados foram organizados no museu que é uma referência para todo o estado e quem sabe para o Brasil. Realmente eu tenho um privilégio de estar na administração nesse momento quando a gente destravou [essa obra] e conseguiu inaugurar após 13 anos da descoberta”, explicou.
Pesquisa e preservação do patrimônio arqueológico
O arqueólogo Professor Marcos Albuquerque, que liderou as pesquisas, explicou o processo para o resgate e preservação do patrimônio arqueológico em Pilões. Ele destacou a descoberta de urnas funerárias e oferendas que remontam a uma tradição aratu pré-colonial, para ele, a criação do museu possibilitará o estudo e a preservação desses artefatos.
“Esse trabalho teve início com o levantamento de toda a área da linha de transmissão da Chesf/Energisa, até a implementação da subestação. No local exato onde deveria ser montado este equipamento, encontramos mais de 60 urnas funerárias, um cemitério da tradição aratu. A partir daí, trabalho de localização, transformou-se em pesquisa e revelou um grupo de mais ou menos 800 anos atrás, antes do descobrimento do Brasil, com urnas e material associado.”, comentou.
Segundo o pesquisador, cada cultura tem uma maneira de tratar os seus mortos, quando se acredita em alguma coisa, em vida após a morte. Por isso, foram encontrados materiais de oferendas. “Hoje quando sepultamos alguém colocamos um cordão ou medalha, no caso do povo encontrado, eles possivelmente acreditavam que alguém viria, uma espécie de espírito do mal, devorar o morto caso não tivesse comida. Então, eles colocavam alguma oferenda. Isso é muito comum na tradição de matriz africana”, explicou.
Isso aqui em Pilões é extremamente importnate, primeiramente é uma determinação do Iphan que o material retorne à sua origem e ao chegar aqui está sendo extremamente bem posicionado neste museu. Pilões está dando um exemplo não apenas para o Nordeste, mas para o Brasil porque muitos lugares onde acontecem [descobertas arqueológicas, o material] fica guardado numa reserva técnica e não tem uma utilização maior. Aqui, um membro da nossa equipe já está terminando um doutorado sobre esse material. Com certeza absoluta virão outras pessoas para fazer mestrado e doutorado quando o restante do material vier para cá.
O superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (PHAN), Emanuel Braga, também explicou que o que caracteriza os achados como sendo da cultura Aratu é a comparação. “Aratu é na verdade uma tradição da cerâmica, então eles definiram essa tradição Aratu pelo formato da cerâmica a partir de comparação com outros achados arqueológicos pelo Brasil afora. Mas de antemão já digo que esse é um dos achados mais íntegros da história do Brasil. Um dos que estão mais bem preservados, embora tenham sido objeto de uma intervenção de uma obra, mas que conseguiu ser salvo”, comemorou.
De volta ao local de origem
Emanuel contou ainda que o material foi levado para a reserva técnica da UFPE, mas que a população de Pilões sempre acompanhou e cobrou o retorno das peças ao seu local de origem. “É de uma sacralidade muito grande esses objetos e principalmente uma alegria de ver o povo de Pilões desde 2009 acompanhando todo esse processo. E agora na inauguração, a população também participou apontando as suas histórias, suas descendências, suas famílias, querendo trazer objetos para cá. Mais do que um museu é um centro de referências culturais e tradições artísticas. É um espaço multifacetado que, inclusive, na inauguração foi contemplado com uma exposição rotativa do artista do brejo, do grafite, Thiago Almeida. Isso faz parte dessa grande parceria dos poderes público s e entidades privadas envolvidas, fazer com que se consolide cada vez mais e a população seja convidada a participar cada vez mais”, disse.
Complexo de sítios arqueológicos
Segundo o superintendente do IPHAN, a área de achados arqueológicos é ainda maior do que o que foi encontrado na obra de escavação. “Estamos em uma área que a gente pode falar de um complexo de sítios arqueológicos, de outras ordens, de arte rupestre e também de outras urnas e objetos. Essa área de ocupação, assim como Zona da Mata e Litoral paraibano é muito antiga e vários povos circularam por aqui”, contou.
O Secretário de turismo de Pilões e presidente do fórum de turismo do Brejo, Jaime Souza, acrescentou que por ser o único equipamento do estilo na região, o museu deve atrair muitos estudos. “Teremos um laboratório com a reserva técnica, oficinas, um auditório e uma biblioteca voltada para a arqueologia. A comunidade se sente pertencente e finalmente depois de 13 anos iniciou o funcionamento, uma parceria com a prefeitura, IPHAN, SEBRAE, Chesf, Energisa, UFPB e instituições de ensino que uniram forças”, apontou.
Além disso, o museu vai contar também com cinco quiosques de gastronomia e artesanato. Os projetos são tocados por empreendedores locais que já tinham um espaço no antigo mercado público, que deu lugar ao museu.
Caminhos do Frio
Segundo Jaime, a programação em Pilões começou na inauguração do museu, pois para ele é ais um equipamento de turismo cultural. “Vamos receber dezenas de caravanas de turismo pedagógico, porque já estávamos vendendo o nosso museu antes mesmo da inauguração. Participamos de várias feiras nacionais pelo Sebrae-PB, incluíndo a Expoturismo. No museu também haverá oficinas culturais, a primeira será com o artista plástico de Pilões, Thiago Almeida, que está expondo suas obras em grafite”, citou.
Em seguida, a cidade dá continuidade à programação e Jaime destacou que pela primeira vez está sendo celebrada uma literatura, no caso o cordel. “O caminhos do Frio tem essa identidade de preservar a cultura nordestina, sempre homenageamos artistas musicais como Pinto da Acordeon Jackson do Pandeiro, a própria música nordestina que foi homenageada 2017, mas este ano nós estamos celebrando a literatura, porque nós enxergamos que a cultura vai muito além da música. Ela está no museu de arqueologia, está na literatura de cordel. Durante a nossa programação na próxima sexta-feira (14), teremos um dos maiores cordelistas do Brasil que é o Bráulio Bessa, como parte do terceiro festival de cordel”, explicou.
Jaime ressaltou ainda que o evento já foi um sucesso em Areia, primeira cidade do circuito. “As pousadas estavam lotadas e as cidades vizinhas estavam recebendo a spessoas. Alagoa Grande, Remígio, Bananeiras, Serraria, Borborema, abraçaram o evento e isso mostra que não depende de artista de renome nacional, mas ele é vivo e tem seu próprio público que se multiplica a cada ano. Buscamos esse pertencimento, de que isso é nosso e vamos preservar nossa cultura”, destacou.
Fonte: Paraíba Total
Créditos: Polêmica Paraíba