Depoimento: Comovente e Corajoso !

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Bruno Filho

Sou jornalista e radialista, profissão que cultuo, respeito e para isso obrigatoriamente leio muito e sou extremamente televisivo. Numa dessas noites, zapeando com meu controle remoto encontro na ESPN Brasil um programa que não estou acostumado a assistir chamado “Bola da Vêz”, quando um grupo de jornalistas recebe uma personalidade esportiva para uma conversa que deveria ser franca e aberta.
E acertei em cheio…esta realmente foi das mais emocionantes e interessantes entrevistas que assisti em toda a minha vida, envolvendo um ex-jogador de futebol. Refiro-me a Walter Casagrande Junior, meu amigo “Casão”, com quem vibrei demais, ele que foi um dos responsáveis por grandes alegrias que tive na vida através do meu Corinthians.
Ao lado de Sócrates ele protagonizou cenas inesqueciveis na década de 80, e eu lá trabalhando e me divertindo com a dupla. Só que a vida do “Casa” mudou demais em 30 anos e ele acabou passando por pedaços difíceis e caminhos tortuosos, porém nunca se furtou a comentar sobre o assunto. Desta vez, explicou com mínimos detalhes os problemas que teve na vida com a maldita droga.
Declarações impressionantes de mêdo e repeito por esta arma tão poderosa de destruição, que é capaz de levar homens ao fundo do poço e com possibilidades remotas de recuperação. Homens que perdem família, são colocados a margem da sociedade, são afastados dos filhos, perdem o que o ser humano tem de mais caro, o respeito e o moral.
Dentre as coisas ditas por Casagrande, uma me arrepiou os cabelos. Conta ele que não sai de casa a noite e quando o faz está sempre acompanhado de duas terapeutas que não o deixam sozinho um só minuto ! e o pior…ele gosta de conversar e encontrar amigos sempre num “Happy Hour”, aonde toma lá dois ou tres chopps em meio a histórias.
No momento em que sente vontade de ir ao banheiro, simplesmente ele vai embora para casa. Confessa que não tem coragem de entrar em um banheiro de bar sozinho, temendo aquilo que poderá encontrar lá dentro. Afirma que os banheiros são os antros dessa amaldiçoada substancia e que ele ainda não se sente preparado para enfrentá-la.
Achei este depoimento de uma coragem estrondosa e chorei copiosamente ao ouví-lo de um homem público, um dos maiores comentaristas do Brasil e que trabalha para a maior Rede de Televisão da América Latina e uma das maiores do mundo. Neste momento aproveitei para lembrar de uma passagem ocorrida comigo e com ele em 1986, num terrivel domingo que aconteceu na minha vida…
Na madrugada de 14 de setembro perdi meu melhor amigo, meu companheiro, o homem mais carinhoso e simples que conheci na minha vida, meu pai. E na capela do Parque São Jorge recebi a visita do então garoto “Casão” que era o principal jogador do Corinthians, clube para o qual meu velho torcia e era assessor de imprensa na ocasião, e sem meias palavras ele disse a beira do caixão:”…”seo” Muniz vou fazer os gols da vitória de hoje, era um domingo,  jogo contra o Sergipe”…
Deu um abraço e voltou para a concentração. No final da tarde, vitória do Corinthians e ele marcou os gols do jogo. Não sei se 3 ou 4, não importa, importa é a atitude do então maior idolo da torcida da época. Nunca mais esqueci isso, e sempre terei o “Casão” no mais alto conceito, por isso quando o vi na entrevista parei na mesma hora para assistir.
Fico extremamente feliz que ele tenha se recuperado e que possa retomar sua vida normalmente. E quanto aos que são incrédulos com o assunto, devo lembrar que infelizmente não há classe social, não há classe cultural, não há nenhum tipo de classe que possa suportar o ataque desta bomba atomica. Pode ser qualquer um, e que aqueles que consigam se livrar sirvam de exemplo como o eterno “menino-prodígio” do Parque. Obrigado “Casão” !
Bruno Filho, jornalista e radialista, que é pai e será avô…Deus proteja a todos !