Cartaxo impõe seu estilo na prefeitura da capital

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Nonato Guedes

Sem apelar para radicalismos, o prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PT), vem conseguindo impor seu próprio estilo à frente do cargo, focado na consecução de metas que idealizou e, ao mesmo tempo, na busca da liberdade de ação para empreender os projetos defendidos na praça pública. Ele respeita, por exemplo, o ex-prefeito Luciano Agra, que o apoiou no segundo turno da eleição em 2012. É compreensivo quanto ao posicionamento do vice-prefeito Nonato Bandeira, ex-PPS, hoje convertido à Mobilização Democrática, que faz oposição ao governo da presidente Dilma Rousseff. Mas Cartaxo mantém fidelidade canina a seus princípios, ao PT e ao governo de Dilma. Se tiver que tomar posições destoantes em relação a eventuais aliados, não hesitará, confessam interlocutores do seu círculo íntimo.

O alcaide vem surpreendendo por atitudes que, na visão aleatória de adversários e analistas desinformados, seria incapaz de tomar. Isto ficou claro desde a formação do secretariado. Luciano Agra foi contemplado em pastas importantes da administração, mas não levou a jóia da coroa, ou seja, a secretaria de Saúde, pela qual quebrou lanças em favor da manutenção de Roseana Meira. Sem passar recibo de restrições a Roseana, Cartaxo indicou dois nomes para o posto. O atual, Adalberto Fulgêncio, é da sua confiança e remanescente de disputas internas no Partido dos Trabalhadores. Protagonizou nas últimas horas uma negociação com o governo Ricardo Coutinho (PSB) em termos de acerto de contas entre a prefeitura e o Palácio da Redenção. Cartaxo recrutou, agora, Inaldo Leitão para a secretaria de Acompanhamento Governamental, que dá expediente em Brasília. Confia na capacidade de Inaldo em destravar projetos da prefeitura nos escalões federais. Com a Câmara Municipal, o prefeito tem buscado o diálogo, e na sua contabilidade há mais vitórias do que derrotas ou resultados desfavoráveis.

Atropelado, naturalmente, pela disputa interna do Processo de Eleição Direta para renovação de comando nos diretórios estadual e municipal do PT, busca saídas conciliatórias. Acata postulações em jogo mas evita antecipar preferências. Da mesma forma, no que diz respeito ao processo de indicação de candidato a governador em 2014, é cauteloso. Vai deixar que as instâncias deliberem ao máximo quais as alternativas mais viáveis para o Partido dos Trabalhadores. Promete que se renderá à decisão da maioria, o que neutraliza conflitos e posições de preferência. Evidente que Cartaxo tem candidaturas “in pectoris” para o comando da legenda, mas vai deixar que fique mais nítida a correlação de forças para tomar uma atitude. Na definição de um interlocutor da sua intimidade, o prefeito opera de forma pragmática. E até aqui, os búzios mostram que sua estratégia não tem sido arranhada. Pelo contrário, fornece-lhe o instrumental necessário para levar adiante o que concebeu.

Uma fonte com acesso privilegiado ao prefeito chama a atenção para uma circunstância: ele se preparou para a hipótese de governar a capital paraibana. Quando foi candidato, enfrentou resistências internas, de políticos que pregavam uma aliança com o PSB do governador Ricardo Coutinho. Cartaxo hasteou a bandeira da retomada do protagonismo político do PT e conseguiu um feito extraordinário: elegeu-se derrotando cabeças coroadas como José Maranhão e Cícero Lucena e a candidata apoiada pelo governador, Estelizabel Bezerra. Nada ocorreu gratuitamente para ele. O prefeito montou estratégia própria, foi para o meio da rua, fez intervenções no Guia Eleitoral que o credenciaram à confiança da maioria do eleitorado. Beneficiou-se, colateralmente, do fato de ser novo no páreo pela prefeitura. Desse ponto de vista, era baixíssima a sua taxa de rejeição, o que o motivou a fazer as composições indispensáveis para ser alçado ao Paço Municipal.

A despeito de não assumir o papel, Luciano Cartaxo é a estrela maior do PT na Paraíba. O fato de governar a única capital do Nordeste em poder do Partido dos Trabalhadores sensibiliza condestáveis como a presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente nacional Rui Falcão e outras figuras emergentes. Cartaxo tem consciência de que será bastante assediado nas articulações para o próximo ano, mas a postura cautelosa que sinaliza reflete a avaliação madura que faz dos espaços que o PT pode conquistar numa correlação de forças que estará bastante dividida. E há um aspecto que não deve ser desprezado: ele tem “feeling” para governar. Sabe que do seu desempenho administrativo dependerá o próprio futuro do Partido dos Trabalhadores. É esse estilo que começa a desnortear lideranças políticas de outros partidos, como, por exemplo, o PMDB, onde José Maranhão já admitiu reatar aliança com o PT. Mas a fila não somente anda, como é enorme. Os compromissos de Cartaxo envolvem outras agremiações, e sua atuação continuará sendo monitorada com lupa pelos reflexos que certamente causará no pleito do próximo ano. O alcaide chega a esse estágio após um duro aprendizado, que lhe permite tomar decisões isoladas sem necessariamente consultar quem quer que seja e, de repente, colher frutos dessas atitudes.