Para onde caminham os líderes

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Gilvan Freire

CÁSSIO não caminha para nenhum lado, apenas patina. Tem algo para acontecer ainda em sua vida que lhe inibe os passos e impossibilita avanços. É refém de uma atormentadora incerteza quanto a ser ou não candidato a governador em 2014, algo que está em seus sonhos e vontade e num projeto coletivo de milhares de atores. Poderá nem ser, mas isso não é uma desistência voluntária. Ninguém recusa um cargo de governador quando pode ganhá-lo numa disputa como candidato favorito. Ser favorito é o máximo na escala político-eleitoral, e a condição que mais infla o ego dos mortais. Isso é como as monarquias populares, só se abdica em favor dos filhos.

RICARDO COUTINHO patina para todos os lados da administração, mas avança politicamente. Ele tem o direito legítimo à reeleição, mesmo tendo um coletivo de milhares de atores contra. A sua rejeição populariza ainda mais Cássio, de quem é refém. Mas, mesmo sendo o favorito da oposição, pode ter Cássio na retaguarda – é o seu sonho e sua vontade (e sua necessidade). Ninguém se apeia voluntariamente do poder, e nem recusa um cargo de governador quando pode ganhá-lo a qualquer custo, especialmente a custa do Erário (dinheiro dos outros). Nenhum homem disputa um cargo tão grande sozinho, mas, na reeleição, quem entra na raia é o governo. E o governo nunca está sozinho.

VENEZIANO taxeia fora do poder, desprovido de cargos. Taxiar é o movimento das aeronaves antes da decolagem ou do pouso. Ou sobe ou estaciona. Sem ele ou Cássio, Campina terá crise de depressão e vai se sentir menor. Cada um dos dois tem um jumbo na cabeça e sonha com as alturas – é coisa do campinismo e de suas manias de estratosfera. Com eles, os campinenses se sentem nas nuvens. E o que é pior: conseguem. Ninguém deixa de querer ser governador podendo sê-lo. Muito menos quando pode ter dois favoritismos: o seu próprio e aquele que vem por empréstimo da rejeição do concorrente. Os dois formam um favoritismo graúdo, que só pode ser reduzido por Cássio, ou a favor de Ricardo ou simplesmente a favor de Campina. Ser favorito a partir de Campina tem sido o máximo na escala político-eleitoral da Paraíba nos últimos tempos.

ZÉ MARANHÃO continua o grande chefão do PMDB – o maior partido do Estado. Dividido em duas bandas alguns anos atrás, o partido tem ainda a hegemonia eleitoral da Paraíba. Fora o ex-Cássio, Vené e Zé, não há outros líderes de expressão partidária. Apesar das derrotas recentes, nenhuma acachapante, Zé é dono do maranhismo, o histórico rival do cassismo, as duas correntes que se digladiam no imaginário eleitoral no Estado. Ele é aviador, sabe que não há riscos em taxiar. E sabe quando o céu é de brigadeiro, bonzinho para voar. Muito possivelmente Zé é candidato a senador. As conjunturas, em seu devido tempo, vão mostrar os horizontes. Quem for vidente, anteveja. Ninguém despreza quando o cavalo passa selado com destino certo. E os mais velhos sabem quando o cavalo pode passar. E se Cássio entrar nos confrontos, Zé levantará a bandeira do maranhismo. A guerra será nas estrelas, tudo por causa de Campina, que olha as nuvens como o poeta fitava os Andes. Até Ricardo pode precisar disso. Lutar é preciso, viver não é preciso.

OS OUTROS LÍDERES são todos periféricos. Uns em ascensão e outros decadentes. Todos estão patinando. Dependem dos movimentos dos maiores. São agentes e expectadores ao mesmo tempo. Fitam as nuvens mas ainda não saem do chão. Taxeiam na pista. Não levantam vôo nem estacionam. É uma amargura ter de esperar. Ninguém gosta de esperar, gosta mesmo é do poder. E este já tem pretendentes favoritos na Paraíba.