A tão aguardada contraofensiva ucraniana parece está prestes a começar. O ataque não será liderado apenas por brigadas armadas com armas ocidentais, mas também com soldados treinados nas táticas de guerra mais avançadas da OTAN.
Enquanto unidades ucranianas lutavam para expulsar os ocupantes russos do leste e do sul do país, a recém-criada 47ª Brigada Mecanizada Separada se preparava para a próxima fase da guerra em uma base da aliança militar na Alemanha.
A liderança da brigada treinou com computadores que simulavam situações que poderiam acontecer na vida real. O vice-comandante major, Ivan Shalamaha, e outros planejaram seus ataques e então deixaram o programa mostrar-lhes os resultados – como seus inimigos russos poderiam responder, onde poderiam avançar e onde sofreriam perdas.
“Você entende o quadro geral, como funciona”, disse Shalamaha. “Você entende onde e quais eram suas deficiências. E prestamos atenção ao que deixamos de fazer durante esta simulação”, disse ele para o The Washington Post.
A 47ª brigada e outras unidades de assalto foram municiadas com armas ocidentais, incluindo veículos de combate de infantaria Bradley. Eles já estão na Ucrânia, em um local secreto da linha de frente. A expectativa é que possam retomar uma grande parte do território ucraniano e fazer a guerra retroceder a favor de Kiev.
A contraofensiva será o maior teste da estratégia dos EUA de fornecer aos ucranianos armas e treinamento para lutar como um exército americano, mas por conta própria.
O ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Reznikov, chamou isso de “próximo nível” de assistência de segurança.
Treinamento com tropas da Otan
O Reino Unido tem fornecido treinamento básico a milhares de recrutas ucranianos desde o verão passado. Além disso, unidades ucranianas inteiras foram enviadas para a Alemanha e outros países para aprender “como operar simultaneamente juntas, como a interoperabilidade entre as diferentes unidades”, disse o ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Reznikov.
Um dos objetivos do treinamento é ensinar os soldados ucranianos a atacar. Durante anos, os militares ucranianos se concentraram em táticas defensivas – como proteger seu território de ataques.
A contraofensiva do outono passado para libertar quase toda a região de Kharkiv, no nordeste da Ucrânia, foi a primeira ofensiva em larga escala planejada pelos militares nos mais de 30 anos de independência do país.
O sucesso em Kharkiv e a defesa bem-sucedida de Kiev no ano passado foram creditados, em partes, ao treinamento da OTAN para as forças armadas da Ucrânia, que começou depois que a Rússia invadiu a Crimeia e fomentou a guerra na região leste de Donbass em 2014. Muitos comandantes ucranianos, agora na liderança, participaram do treinamento na época.
Shalamaha disse que as primeiras tarefas trabalhando com o KORA – um simulador de jogo de guerra projetado para as forças da OTAN – foram planejar operações fictícias em solo estrangeiro contra um inimigo falso. A instrução progrediu para se concentrar no que está por vir para os militares da Ucrânia na contraofensiva.
No final, Shalamaha estava trabalhando ao lado de comandantes de outras brigadas que deveriam lutar na contraofensiva, coordenando suas ações para testar como trabalhariam juntos no campo de batalha.
Outros na 47ª brigada receberam treinamento específico para as armas ou veículos que receberiam, primeiro aprendendo o básico de como operá-los, depois como incorporá-los como uma única unidade de batalha e, por último, ao lado de outras unidades.
“Na Alemanha, eles realmente nos deram uma boa chance de sentir como vai ser”, disse Luke. “Como líder de equipe, posso comandar de cinco a sete pessoas. Mas quando chega a ser mais do que isso, você realmente precisa de mais prática. E, então, você está tentando organizar um batalhão inteiro para se mover ao mesmo tempo, e todo mundo tem que saber o que está fazendo. É muito, muito difícil.”, conta ele para o The Washington Post.
A liderança da 47ª brigada
O comando da 47ª brigada é especialmente jovem – todos nascidos após a queda da União Soviética. Ao lado de Shalamaha, que tem 25 anos, o tenente-coronel Oleksandr Sak, o principal comandante da brigada, tem 28. Markus, o sargento-chefe, tem 29.
“Somos a geração jovem”, disse Shalamaha. “Ainda temos toda a nossa vida pela frente e agora estamos lutando por esse estado que queremos ver para nós mesmos, para nossos filhos, netos e assim por diante.”
Alyona, uma professora de 27 anos que atende pelo indicativo de chamada Airy, ficou tão furiosa depois das atrocidades cometidas por soldados russos em Bucha, sua cidade natal, que se inscreveu para ingressar em várias brigadas de assalto. Todas as vezes, ela foi rejeitada por ser mulher. “Falavam para ir para casa e cozinhar borscht (sopa de beterraba)”, afirma ela.
Então, no início deste ano, Alyona procurou um comandante da 47ª brigada. Ele perguntou se a mãe dela sabia que ela queria lutar. Ela mentiu e disse que sim.
“Eu disse a ele por que estou aqui, que não é para tirar fotos para postar no Instagram”, diz ela. “Isso não é uma piada.”
Enquanto ela e outros na brigada esperam a ordem para começar a atacar as posições russas, eles procuram manter o treinamento atualizado.
A maioria de suas atividades é reservada para a noite, quando praticam com equipamentos de visão noturna. A cobertura da noite ajuda a garantir que qualquer movimento não seja detectado pelas forças russas que aguardam a contraofensiva.
“Estamos prontos”, disse Shalamaha. “Temos a motivação das pessoas, temos os equipamentos e o que temos de mais valioso é o espírito de vencer.”
A contraofensiva ainda precisa de apoio aéreo
Analistas militares e o próprio Zelensky afirmam que Kiev ainda carece de elementos-chave para começar essa contraofensiva, a exemplo de caças modernos.
Espera-se que a Ucrânia receba F-16 fabricados nos EUA depois que Washington concordou em não impedir que nações aliadas os forneçam. No entanto, eles podem não chegar a tempo no campo de batalha para apoiar os ucranianos.
O F-16 possui uma ampla variedade de armamentos, incluindo mísseis ar-ar, mísseis ar-solo, bombas e foguetes. Também pode ser equipado com um canhão de 20 mm para combate a curta distância.
A chegada da aeronave impactaria significativa o cenário da guerra, podendo virar a maré em prol da Ucrânia. De qualquer forma, a contraofensiva parece se aproximar a cada dia que passa, sob os olhares atentos do mundo.
Até agora, Kiev conseguiu manter em segredo suas intenções, preparativos e possíveis falsos começos. Os ucranianos parecem ter paciência e capacidade de manter seu plano confidencial o suficiente para executá-lo metodicamente.
*Com informações do The Washington Post
Fonte: Carlos Germano/ Washington Post
Créditos: Polêmica Paraíba