dia da prostituta

“NÃO É SÓ SEXO, FAZEMOS MUITAS COISAS IMPORTANTES”! Conheça a vida e a trajetória de prostitutas paraibanas que fizeram e fazem história na luta pela classe

Foto: polêmica Paraíba

A prostituição é um assunto que causa repulsa em muita gente e, ao mesmo tempo, atrai por ser extremamente intrigante. Nas telas da TV, por exemplo, a temática sempre foi abordada e a resposta comumente explosiva por parte dos telespectadores. Isto é, por algum motivo o interesse existe. No dia 2 de junho de 1975, 150 prostitutas ocuparam a igreja de Saint-Nizier, em Lyon, na França em protesto contra o rufianismo, por isso a data é celebrada internacionalmente em junho.

Ao longo da história, podemos sublinhar diversas mulheres vistas como prostitutas e que até foram mortas em decorrência disto.

Parent-Duchatelet é uma ótima referência, inclusive para entender sobre esta prática na Pré-história e Idade Antiga, e sobre os termos já vulgarizados: “Prostituição sacra e prostituição hospitaleira”. Dentro do contexto bíblico, Madalena representou a mulher vista como ‘pecadora’, a história de Madalena já instigou muitos livros e filmes, visto que há um mistério que permeia sua vida. Já “Lilith”, sendo mito cultural ou não, foi denominada a primeira mulher de Adão e representa um exemplo clássico da mulher livre, lascívia e subversiva. Agora, mudando de livro sagrado, dentro da filosofia de Thelema, cuja doutrina baseia-se no “Fazes o que tu queres, há de ser o todo da Lei”, o título da mulher fatal fica pra “Babalon”. De fato, a grande puta da Babilônia, representa a liberdade sexual, impetuosidade e poder.

A prostituição que tem mais similitude à atual pôde ser observada no princípio da civilização egípcia. As mulheres detinham um poder incrível de lubricidade e se entregavam por grana. Já na Grécia, Afrodite de Pandemos reconhecida como a vênus da Terra, personificava a prostituição. Ainda na Grécia, pode-se citar as Heteras ou hetaira, são termos usados para designar as prostitutas de luxo na Grécia antiga. Entretanto, os serviços oferecidos não eram apenas sexuais, mas também mentais, visto que muitos procuravam para troca de conhecimento, cultura e questionamentos.

Friné, cuja vida remonta ao século IV a.C., foi acusada de impiedade perante o tribunal dos heliastas. acredita-se que tenha vivido em Atenas, por volta de 400 a.C. Nesse sentido, a hetaira acusada de profanar os Mistérios de Elêusis teria sido defendida pelo orador Hipérides, um de seus amantes.

Na Paraíba

Fundada em Julho de 2001 a APROS- PB (Associação das prostitutas da Paraíba surgiu com a intenção de auxiliar de diversas formas as profissionais do sexo do estado, com a promoção do direito da cidadania e os direitos da categoria, visando a redução da discriminação e a melhoria da qualidade de vida.

De acordo com Luza Maria, coordenadora da associação, a motivação do grupo em 2001 foi a necessidade de ter um movimento organizado, na época vários estados já tinham este movimento e na Paraíba ainda não existia. “A gente sentiu a necessidade de se organizar e defender os nossos direitos”, disse Luza.

A fundação da APROS teve o apoio da AMAZONA (Associação de Prevenção a Aids) e de 2001 para cá o movimento já alcançou muitas conquistas.

A coordenadora conta que no estado da Paraíba foi possível fazer muitas parcerias com órgãos importantes no estado, órgão que chegou a preparar a APROS para concorrer a EDITAIS. Com o passar do tempo, o grupo foi conseguindo parceria  e recursos para conseguir fazer as ações e também conseguiram conquistar espaços de controle social.

Como uma das grandes conquistas, Luza também destacou a facilitação no acesso à saúde e foi muito importante ter o apoio de outras organizações e movimento de mulheres pela questão de formar lideranças, levar conhecimentos e também trabalhar a auto estima das prostitutas.

O primeiro grande projeto do grupo foi em 2004 com a embaixada britânica e a partir daí a APROS levantou voo para grandes ações por todo o Brasil, um dos projetos chamado “PROS AÇÃO” permitiu ao grupo realizar atividades em vários estados do Nordeste com cursos de capacitação dos direitos humanos e também seminários  com o objetivo de fortalecer o movimento de prostitura de outros estados.

A associação também conta com um grupo de teatro formado pelas prostitutas, onde elas levam as informações sobre doenças sexualmente transmissíveis em forma de cordel, como contou Luza, o projeto é muito bem recebido e valorizado por quem assiste a apresentação.

De todos os eventos organizados pela APROS, o mais importante é o “DOIS DE JUNHO”, neste dia é comemorado o dia internacional da prostituta e a associação celebra a data na rua da areia, uma tradicional rua de João Pessoa onde existem vários Prostíbulos.

Ao Polêmica Paraíba, a coordenadora contou que este dia é celebrado com muita alegria, a rua da areia é fechada com o apoio da gestão municipal e são armadas tendas para realizar várias atividades.

“Não é só festa! É um dia de dar visibilidade ao movimento e trazer as pessoas para as ruas, para elas saberem que a gente nao faz so sexo a gente faz outras coisas muito importante da mesma forma que outras pessoas”, disse.

Oficinas educativas, apresentação de teatro, distribuição de plantas, tenda da prevenção, massagem, corrida são atividades que fazem parte da comemoração, além de shows de artistas que contribuem com o evento.

Sobre as mulheres que fizeram história como prostituta na Paraíba, Luza relembra algumas colegas que contribuíram para o fortalecimento e reconhecimento da classe.

Começando pela coordenadora, Luza Maria está na APROS desde a fundação e já passou por alguns cargos como tesoureira, secretária e conselheira fiscal, Luza tem um papel importante na luta pelas causas das prostitutas e faz isso com muita garra e determinação.

Outra mulher que foi grande como prostituta na Paraíba foi Maria Auxiliadora Queiroz, conhecida como DORA, ela foi a primeira presidente da associação, (Na época era um sistema presidencialista).

Dora foi a primeira mulher a se manifestar em defesa dos direitos das prostitutas, o que na época não era fácil. Dora hoje em dia não mora mais na Paraíba.

Luza também citou Alessandra Ventura como uma pessoa fundamental para elevar a classe no estado. Alessandra também não reside mais no estado.

Uma outra mulher que teve um papel muito importante foi Luciene Dias, Luciene era da coordenação financeira e foi uma pessoa que contribuiu muito com o movimento, trazendo fortalecimento e dedicação. Ela faleceu no ano passado devido a problemas de saúde.

Erimá Moreira é outra pessoa que junto com Luza ainda luta bastante pelas causas, é uma mulher que sempre batalhou muito pelos direitos das prostitutas.

Encerrando o time de prostitutas que fizeram bastante história no estado temos a grande Lilia das Mangueiras, conhecida como a mulher que ensinou Cajazeiras a amar, Lilia faleceu no início desta semana em sua residência em Cajazeiras, aos 81 anos de idade.

Lilia fez história na cidade de Cajazeiras, às margens da BR 230, onde ela instalou uma das mais tradicionais casas noturnas da região. O prostíbulo de Lilia das Mangueiras funcionou durante mais de quatro décadas e marcou a história da cidade.

Preconceito 

A sociedade tem uma tendência a agir com preconceito com as prostitutas e Luza conta que o preconceito ainda é uma questão muito forte. Ela diz que a sociedade ou marginaliza ou vitimiza a classe, e não é isso que elas querem. “Queremos ser cidadãs, e é isso que somos, somos as mulheres que prestam serviço sexual em troca de dinheiro para pagar as nossas contas como qualquer outra pessoa que presta serviço de outras formas para sustentar sua casa”, disse.

Luza frisa que a maior dificuldade é levar a compreensão para as companheiras, mais pela questão da identidade.

“Nem sempre estamos preparadas para enfrentar a discriminaçao, mas se a gente tem consciência que o que a gente faz não é crime vamos ter argumentos, eu tinha vergonha de dizer que sou prostitua porque a profissão traz o estigma de muitos anos. Como você cresce ouvindo dizer que fazer sexo é feio e cobrar é mais feio ainda, você leva um tempo para entender.

Hoje eu não tenho vergonha de dizer que paguei todas as minhas contas e criei meus filhos com o trabalho da prostituiçao. Eu sei que sofro preconceito porque sou mulher, negra, pobre e prostituta e isso sobrecarrega”, relatou Luza Maria.

Matéria de 2021

Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba