Ganhar uma prefeitura, é algo que poucos políticos podem dizer que conseguiram. Ser prefeito em uma das maiores cidades da Paraíba, é algo ainda mais raro, devido ao grande número de candidatos e dinâmicas, que mudam os rumos das eleições municipais.
A partir dos anos 80, começou na política paraibana um movimento de retorno de grandes lideranças políticas do estado, nas disputas municipais.
O primeiro nome a tomar essa atitude foi Ronaldo Cunha Lima. Ronaldo era Prefeito de Campina Grande, quando foi cassado pela Ditadura Militar em 1969 e após ficar anos morando no Rio de Janeiro, decidiu voltar a Rainha da Borborema, para disputar às eleições de 1982.
Nessa matéria nós iremos elencar outros exemplos de grandes líderes que demoraram mais de uma década para ganharem uma disputa municipal em seus redutos políticos.
Ronaldo começou a sua carreira política sendo vereador de Campina Grande pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), deputado estadual por dois mandatos, e Prefeito eleito em 1968, já pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB).
Em 14 de março de 1969 teve os seus direitos políticos cassados, passando dez anos recomeçando a sua carreira de advogado, indo para São Paulo e depois para o Rio de Janeiro. Anistiado politicamente em 1982, o ex-Prefeito disputou às eleições daquele ano, contra o famoso advogado e ex-Deputado Federal, Vital do Rêgo.
Os dois já eram velhos conhecidos e tinham sido candidatos na eleição de 1968, onde Ronaldo foi o vencedor e Vital, o terceiro colocado. O pai de Veneziano e Vitalzinho, teve apoio do então Prefeito Enivaldo Ribeiro, mas a força de Ronaldo e do MDB foram primordiais em uma acirrada disputa, que Cunha Lima venceu por mais de 12 mil votos de vantagem.
Sobrinho do Senador Humberto Lucena, Cícero iniciou sua carreira política em 1990 quando foi escolhido para concorrer como vice-governador do MDB na chapa encabeçada por Ronaldo Cunha Lima. A chapa venceu a eleição no segundo turno, em uma disputa contra o ex-Governador Wilson Braga.
Em 1994, com o afastamento de Cunha Lima para candidatar-se ao Senado, Lucena assume o governo do estado para o restante do mandato e com 37 anos de idade, torna-se até hoje o político mais jovem a assumir o governo da Paraíba.
Após chefiar a Secretaria Especial de Políticas Regionais, então órgão do Ministério do Planejamento em 1995, Cícero foi escolhido para ser o candidato do MDB nas eleições municipais de 1996. A disputa foi contra a ex-Deputada Federal Lúcia Braga, que contava com o apoio do então Prefeito Chico Franca.
Cícero largou na frente no primeiro turno, enquanto Lúcia teve uma acirrada disputa contra Luiz Couto e Nadja Palitot, pela segunda vaga no segundo turno. O favoritismo de Lucena se confirmou, ao atingir 115.937 votos (55,36%), contra 93.494 (44,94%) de Braga. As eleições de 2000 foram às primeiras disputas municipais, que disponibilizaram o dispositivo de reeleição para os gestores e foi com essa configuração que Cícero se reelegeu de forma muito mais tranquila que 1996, ao ter mais de 74% dos votos, em uma outra disputa contra Luiz Couto.
Após não conseguir eleger seu sucessor em 2004, Lucena foi eleito Senador em 2006, mas durante os oito anos de mandato, decidiu tentar voltar a Prefeitura em 2012, chegando ao segundo turno e sendo derrotado pelo petista Luciano Cartaxo. Afastado por um tempo da vida pública, a sua candidatura para às eleições de 2020, causou surpresa em quem acreditava que Cícero não iria disputar outro cargo eletivo.
Inicialmente considerado azarão em uma eleição que contrastava os extremos políticos da eleição de 2018, o ex-Prefeito sempre esteve a frente nas pesquisas, ficando na primeira colocação em um primeiro turno que continha 14 candidatos, dos mais diferentes partidos e espectros políticos. Em um segundo turno contra o apresentador Nilvan Ferreira, Cícero conseguiu atrair os votos daqueles que não desejavam um candidato abertamente bolsonarista no cargo, se elegendo 185.055 votos (53,16%).
Formado em medicina pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e pós-graduado em cirurgia geral pelo Hospital Getúlio Vargas, Manoel Júnior foi Prefeito de Pedras de Fogo pela primeira vez em 1988. Como na época ainda não existia o sistema de reeleição, Manoel só disputou uma outra campanha em 1996, quando mais uma vez saiu vencedor, se reelegendo em 2000.
O Prefeito deixou o cargo em 2002 para se tornar Deputado Estadual. Manoel também foi vice-prefeito de João Pessoa em duas ocasiões e teve três mandatos consecutivos de Deputado Federal.
O médico voltou a disputa pela prefeitura em 2020, enfrentando o sobrinho do então Prefeito, Dedé Romão, e vencendo a eleição pela quarta vez com 52,03% dos votos. Infelizmente, o Prefeito faleceu durante o exercício do cargo no dia 22 de fevereiro de 2023, após uma longa batalha contra um câncer no pâncreas.
Marcus Odilon teve uma carreira política recheada com vitórias em duas cidades diferentes. Odilon foi duas vezes Prefeito de Juarez Távora ainda nos anos 60, um tempo depois do fim do seu segundo mandato, ele concorreu pela primeira vez a Prefeitura de Santa Rita em 1976, contra o ex-Prefeito Hermano Gadelha, vencendo com uma diferença de pouco mais de 500 votos. Em 1982 foi eleito Deputado Estadual, com a segunda maior votação do estado.
Tentou a sorte na primeira eleição para a Prefeitura de João Pessoa desde a instauração da Ditadura, no ano de 1985, perdendo a disputa para o Deputado Federal Carneiro Arnaud, em 1986 disputou o Governo, como candidato a vice na chapa de Marcondes Gadelha, que saiu derrotada contra Tarcísio Burity. Após duas derrotas consecutivas, Odilon voltou a disputar a Prefeitura de Santa Rita em 1988, vencendo com uma larga vantagem sobre Oildo Soares.
Disputou uma vaga na Câmara Federal em 1994 e outra na Assembleia em 2002, sem sucesso, o que condicionou sua volta a disputa municipal em 2004, vencendo a eleição mais uma vez com uma larga vantagem, atingindo a marca de 36.165 votos (60,05%). Odilon mais uma vez demonstrou sua força em Santa Rita, se reelegendo em 2008, completando incríveis quatro mandatos a frente da cidade das águas minerais.
Nascido em Ingá, Zenóbio se formou em Engenharia na UFPB, e desde a juventude militava nos movimentos estudantis. Sua primeira disputa política, foi em 1982, vencendo a Prefeitura de Guarabira em uma disputa acirradíssima contra Jader Soares Pimentel. Após o mandato na administração municipal que durou até 1989, Zenóbio focou suas atenções para a Assembleia Legislativa, onde conquistou cinco vitórias consecutivas, ficando de 1990 até 2010.
Durante essas duas décadas como Deputado Estadual, Toscano não largou as disputas políticas em Guarabira, conseguindo eleger sua esposa Léa em 1996 e 2000. Após a saída da Assembleia em 2010, foi presidente da Companhia Paraibana de Gás (PB Gás) no governo de Ricardo Coutinho em 2011, mas decidiu voltar mais uma vez a disputa em Guarabira, 23 anos após a sua saída.
Venceu a eleição em 2012, contra Josa da Padaria, candidato da família Paulino, ao atingir mais de 16 mil votos, se reelegendo em 2016, em uma disputa mais acirrada contra o mesmo Josa e a ex-Prefeita Fátima Paulino. Infelizmente, o Prefeito faleceu durante o exercício do cargo no dia 14 de junho de 2020, aos 74 anos. Estava internado desde o dia 6 de junho em João Pessoa se recuperando da COVID-19 quando sofreu um acidente vascular cerebral hemorrágico e não resistiu.
Abmael de Sousa Lacerda, mais conhecido como Doutor Verissinho, era um estreante na política, quando foi eleito Prefeito de Pombal pela primeira vez em 1996, se reelegendo nas eleições de 2000.
Após ter sido eleito Deputado Estadual em 2006 e ter desistido da reeleição em 2010, por ter seu pedido de registro de candidatura indeferido pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) em função de contas rejeitadas no período em que foi prefeito de Pombal. Verissinho volta a disputa em 2016, enfrentando Paulo Fragoso, candidato apoiado pela então Prefeita Pollyanna Dutra, o ex-Prefeito venceu mais uma disputa acirrada, voltando pela terceira vez a prefeitura de Pombal.
Em 2020, Pollyanna que tinha sido eleita Deputada Estadual em 2018, decidiu colocar a irmã Kevia Werton, como nome do grupo contra o Prefeito. Verissinho saiu vencedor por menos de 2% dos votos, ratificando seu nome, como a principal liderança de Pombal.
João Bosco Carneiro Júnior, iniciou sua carreira política em 1988, sendo eleito prefeito de Alagoa Grande com apenas 22 anos, pelo MDB, ao atingir mais de 6 mil votos em sua primeira eleição.
Seu pai, o promotor João Bosco Carneiro, conhecido como Doutor Bosco, foi eleito em 1996, mas acabou perdendo a reeleição em 2000, contra Hildon Regis Navarro Filho. Em 2002, Bosco Carneiro Júnior foi eleito Deputado Estadual pela primeira vez, mas suas atenções continuaram voltadas a Alagoa Grande, quando disputou a Prefeitura em 2004, como Vice na chapa de Beto do Sindicato que acabou saindo derrotada.
Em 2008, mais de 14 anos após a saída da Prefeitura, Bosco Carneiro foi eleito Prefeito de Alagoa Grande em uma acirrada disputa contra Antônio da Silva Sobrinho, o Prefeito não disputou a reeleição em 2012, mas voltou a Assembleia em 2014 e está no seu terceiro mandato consecutivo como Deputado Estadual.
O médico Epitácio Leite Rolim se assemelha com Marcus Odilon, por ter sido Prefeito em duas cidades paraibanas. Sua primeira vitória foi em 1961 na cidade de Cachoeira dos Índios.
Deixou a Prefeitura para ser eleito Deputado Estadual pela primeira vez em 1963. Em 1968 foi o vencedor pela Prefeitura de Cajazeiras, em uma disputa contra o empresário Raimundo Ferreira.
Após 10 anos longe da politica, exercendo a medicina, Epitácio volta para a vida pública vencendo uma eleição acirrada contra Antônio Vituriano de Abreu. Em 1992 perde sua primeira disputa política ao não conseguir vencer o empresário José Nello Zerinho Rodrigues, por um pouco mais de 100 votos.
Eleito Deputado Estadual em 1994, Rolim não desistiu de voltar a Prefeitura de Cajazeiras em 1996, se elegendo em mais uma eleição contra Vituriano de Abreu. O Prefeito decidiu não disputar a reeleição em 2000, apoiando a candidatura de Carlos Antônio, que saiu vitorioso.
Fonte: Vitor Azevêdo
Créditos: Polêmica Paraíba