É só a ponta do Iceberg !

Tip of the Iceberg

 

Bruno Filho

Muitas vezes sou encarado como um saudosista, já ganhei até algumas vezes o apelido de “museu” por cultuar o que de bom tem o passado e, particularmente, eu adoro quando acontece um fato pertinente que me encaminhe para este conceito, e explico: quem não cultua passado, não tem presente e certamente terá dificuldades com seu futuro.
Quando inicio dessa maneira, quero direcionar esta conversa para o futebol, que infelizmente, tornou-se assunto principal e ganhará muito mais força nos próximos 14 meses com o advento da Copa do Mundo. Por quê usei “infelizmente” ? simples…o Brasil não estava preparado para administrar um acontecimento desse porte e deixa muito claro com os fatos que vem ocorrendo diariamente.
Antes de falar no mais recente, vou me ater a uma reportagem que assisti no canal ESPN aonde o assunto tratado me deixou não só decepcionado, mas triste e revoltado demais. Nos arredores do reformado “Beira-Rio” em Porto Alegre, existe uma de muitas favelas iguais as que conhecemos pelo país inteiro, e os moradores da comunidade irão receber crachás de identificação para poder entrar e sair de casa !
Terão horário para circular, obviamente quando os turistas que irão ao estádio estiverem longe do local. É o maior absurdo que já vi e ouvi em termos de esporte, o fato de uma entidade esportiva comandar os destinos de uma nação. Claro que ninguém vai divulgar tal absurdo. Não paramos por aí, ainda não vi reforma adequadas em aeroportos, reforma de rodoviárias, sem falar em estações de trem, já que não temos mais malhas ferroviárias.
Os tais VLTs… não consigo ver nenhum. Bem, o que estamos assistindo é uma desatada pressa em inaugurar estádios, um atrás do outro, com cameras sempre escondendo partes não concluídas como fizeram recentemente no Maracanã. Escandalos atrás de escandalos, e ainda não estamos muito perto, as águas ainda vão rolar e passar por baixo não das pontes , mas das balizas.
Um exemplo foi dado na recem inaugurada “Fonte Nova”. Na primeira partida entre Vitória e Bahia, briga, bombas e polícia atirando balas de borracha contra os torcedores revoltados, e agora no segundo jogo, o episódio das Caxirolas. Não sou adepto de vuvuzelas, pedhuá ou caxirolas. Acho na verdade uma chatice sem tamanho, um barulho insuportável que não combina com o espetáculo…
Mas já que foram aprovados, que sejam respeitados. No clássico baiano foram arremessadas centenas de caxirolas para dentro do gramado pela torcida do Bahia inconformada com o resultado do jogo. E quando for o Brasil ? e se de repente e o que é muito provável, a seleção estiver perdendo um jogo por exemplo contra a Argentina, o que farão com as caxirolas ?
Eu sempre disse e reafirmo, essa Copa do Mundo não foi feita para brasileiros. É uma Copa para turistas, pois o nosso povo não tem condições e nem cacife para bancar uma aventura dessas. Ingressos caros e fora de propósito como acontecerá no jogo de abertura, quando um pacote custará até 9 mil reais para quem pretende assistir a partida.
Temo pela segurança da população comum, pela segurança dos turistas, e pela vergonha que poderemos passar perante o restante do mundo. Com certeza  as lentes evitarão se alongar e cortarão a maioria das imagens que não forem interessantes, mas quem estiver vivo verá sobre o quê estou escrevendo. Imaginem. Para concluir uma citação que farei agora…
E se fosse em 1950 quando perdemos a Copa dentro do Maracanã ? jogavamos pelo empate e perante 200 mil pessoas fomos derrotados pelos uruguaios. Sou filho de quem esteve lá, dentro do gramado, e que assistiu a tudo de camarote. Lembro-me de meu saudoso pai quando dizia:” foi o maior silêncio que ouvi na minha vida…” se é que pode-se ouvir silêncio. Ele era profissional da imprensa.
Desta vez acho que não será assim. Pena eu tenho dos pequenos muros que separam as cadeiras do gramado. Preocupação eu tenho com a polícia que terá enorme trabalho. Se num simples Ba-Vi que nem decisivo é caxirolas voaram, numa Copa voarão coisas mais pesadas e contundentes. Aliás a mais importante já voou, a nossa dignidade !
Bruno Filho, jornalista e radialista, esta página da nossa história nunca será esquecida, acreditem e vivam para presenciar.