Nesta semana, um artigo sobre o assunto publicado pelo professor Hisham Mehanna, do Instituto de Câncer e Ciências Genômicas da Universidade de Birmingham, na Inglaterra, no portal The Conversation, repercutiu nas redes sociais.
Intitulada “Sexo oral é agora o principal fator de risco para câncer de garganta”, em tradução livre, a publicação descreve um grande aumento de um tipo específico de câncer de garganta, chamado câncer orofaríngeo, que afeta a área das amígdalas e parte posterior da garganta, associado ao HPV.
O HPV, conhecido como papilomavírus humano, é causa de uma das infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) mais comuns no mundo. O aumento na incidência da doença associada ao desenvolvimento de diferentes tipos de câncer levou pesquisadores a estimarem a possibilidade de uma nova epidemia do vírus, transmitido principalmente por via sexual.
“Temos um subtipo de tumor chamado câncer de orofaringe que tem duas vias mutagênicas distintas e uma delas é relacionada diretamente ao HPV. Existem alguns estudos, principalmente nos Estados Unidos e Inglaterra, que mostram que provavelmente entre 2030 e 2040 a incidência de câncer de orofaringe causado por HPV vai se equiparar aos tumores induzidos pelo tabagismo. Hoje em dia, a prevalência maior ainda é do tabagismo, todavia, o número de pessoas com tumor de orofaringe vem crescendo constantemente às custas de uma incidência maior dos tumores do HPV”, afirma Ullyanov Toscano, médico-cirurgião de cabeça e pescoço da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Instituto Nacional de Câncer (Inca).
Câncer de garganta
A prática de sexo oral não está necessariamente relacionada ao desenvolvimento do câncer de garganta. No entanto, a infecção pelo HPV, principalmente em casos recorrentes, pode levar ao desenvolvimento de diferentes tipos de tumores.
Ao infectar a boca e a garganta, o vírus pode causar o chamado câncer de orofaringe. Acredita-se que o HPV cause 70% desses cânceres nos Estados Unidos, segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC).
Os casos de câncer de orofaringe relacionados ao HPV têm aumentado nas últimas décadas. Na cidade de São Paulo, por exemplo, a incidência da doença dobrou entre 1997 e 2013, de acordo com estudo da Universidade de São Paulo (USP). No período analisado, foram registrados 15.391 casos novos na capital paulista, sendo 38,3% relacionados ao HPV (um total de 5.898 casos).
Os sintomas do câncer orofaríngeo podem incluir dor de garganta prolongada, dores de ouvido, rouquidão, inchaço dos gânglios linfáticos, dor ao engolir e perda de peso sem causa aparente. Algumas pessoas não apresentam sintomas.
Riscos da infecção
HPV é o nome dado a um grupo de mais de 200 tipos de vírus capazes de infectar tanto a pele quanto a mucosa oral, genital e anal de mulheres e homens.
A depender da persistência da infecção e, principalmente, da capacidade de levar ao desenvolvimento de câncer do vírus, podem se desenvolver lesões que precisam ser tratadas para que não evoluam para tumores ao longo dos anos, sobretudo no colo do útero, mas também na vagina, vulva, ânus, pênis, orofaringe e boca.
A transmissão do HPV geralmente acontece por meio de relações sexuais, seja por meio vaginal, oral, anal ou até mesmo durante a masturbação mútua, sem a necessidade de penetração desprotegida para o contágio.
Além da vacinação, o uso do preservativo interno ou externo durante as relações sexuais é recomendado para a prevenção do HPV e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).
O vírus pode estar presente na vulva, região pubiana, perineal, perianal ou na bolsa escrotal. A camisinha de uso interno é a mais eficaz para evitar o HPV, por cobrir também a vulva, mas é recomendada desde o início da relação sexual.
Na maioria dos casos, a infecção por HPV é silenciosa. O vírus pode permanecer no organismo por tempo indeterminado, sem manifestar sinais visíveis a olho nu ou mesmo sintomas internos. Em grande parte dos casos, o próprio sistema imunológico se encarrega de combater o vírus antes do surgimento de sintomas.
Entre as mulheres, a maioria das infecções tem resolução espontânea pelo próprio organismo em um período aproximado de até 24 meses. Mas há casos em que o vírus consegue permanecer no corpo, aguardando eventual baixa de imunidade para provocar o aparecimento de lesões, de acordo com o ministério.
As manifestações genitais do HPV podem ser discretas, percebidas apenas por meio de exames específicos, como pode haver o aparecimento de verrugas com aspectos de couve-flor, indolores ou com discreto prurido.
Os primeiros sintomas podem aparecer de dois a oito meses após a contaminação pelo HPV, assim como pode demorar 20 anos até que apareça algum sinal da infecção. As manifestações costumam ser mais comuns em gestantes e em pessoas com imunidade baixa.
Cobertura vacinal no país
A cobertura vacinal contra o HPV no Brasil está abaixo da meta do Ministério da Saúde.
O imunizante é oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para meninas e meninos de 9 a 14 anos, além de mulheres e homens de 15 a 45 anos vivendo com HIV/Aids, transplantados e pacientes oncológicos. A vacina é uma estratégia de prevenção para os tipos de vírus 6, 11, 16 e 18, os mais frequentes entre a população.
Dados do Ministério da Saúde obtidos pela CNN revelam que a cobertura vacinal atual no país é de 76,3% para primeira dose e de 57,7% para segunda dose entre meninas e de 42,2 de primeira dose e de 27,4 de segunda dose entre meninos.
“O HPV é um vírus que se dissemina muito fácil e é muito comum ser encontrado em pessoas que tem vida sexual ativa. A vacinação precocemente em meninos e meninas é justamente para evitar a chegada deles nessa vida sexual ativa e o contato com o sexo oral, diminuindo drasticamente a chance de ter lesões HPV malignas na orofaringe”, afirma Toscano.
A vacina contra o HPV foi desenvolvida principalmente para a prevenção do câncer de colo do útero e outros tipos de tumores que atingem o sistema reprodutivo. No entanto, o imunizante também protege contra os tipos de HPV que podem causar câncer de orofaringe.
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: O Tempo