O melhor contraponto à Dilma

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Gilvan Freire

Mais do que o resto do Brasil, o Nordeste acostumou-se com Lula – o pobretão da região mais pobre do país, filho de retirantes das secas e operário industrial no Sudeste – que virou o maior líder político da nação.

Ter nascido no Nordeste é a virtude principal de Lula, porque é preciso ter provado as agruras da pobreza para legitimar-se como líder dos pobres. Nesse sentido, Lula passou a ser líder também de todos os ricos que já foram pobres, o que representa uma nação dentro da outra – e bem maior do que a nação dos ricos.

Embora seja hoje um ídolo da maioria esmagadora do povo brasileiro, Lula é um símbolo do nordestino que deu certo. Tanto certo que convenceu quase todos os incrédulos e a todos os preconceituosos que é possível governar e transformar o país tendo nascido na região mais atrasada e menos letrada. Nas condições históricas do Brasil anterior, Lula é fenômeno assustador, equiparado a um Tsunami dentro dos movimentos do planeta Terra. Sem mortes e destruições, é claro.

Nos últimos anos, como se houvesse uma sintonia social como existe agora na Primavera Árabe, esses fenômenos se sucederam em lugares diferentes do mundo, sendo mais notáveis na eleição de Mandela, na África do Sul, e de Obama nos Estados Unidos. De lembrar, para não irritar a memória dos povos, a revolução sindical de Lech Walesa, na Polônia, que varreu a face velha do regime a partir do estaleiro de Gdansk. O próprio Walesa, um líder de operários, governou a Polônia, sem, contudo, o brilho e o sucesso de Lula.

O COMEÇO DO FIM DA ERA LULA

Apesar do quanto o povo deve a Lula, pela sua revolução pacifica que pôs pobres à mesa e os fez inquilinos dos palácios mais suntuosos da República, o país não é propriedade dele. Assim como a África do Sul não se fez propriedade de Mandela, e nem a Polônia de Walesa. Lula, sim, como símbolo de uma raça resistente e ameaçada de extinção pela fome e pelas secas, é que é um grande patrimônio do Brasil – e de sua própria raça. Obama, que quebrou paradigmas raciais e transformou a mentalidade conservadora dos EUA, também passará como líder, para ter o direito de visitar em definitivo a História. É preciso não confundir esses papeis diante dos povos e das civilizações.

A aparição de Eduardo Campos na rádio e na televisão, no horário partidário gratuito, não abre espaço para a repetição do fenômeno Lula, mas avança na construção de um contraponto necessário ao projeto de poder que o PT constrói em torno de Dilma – a presidente que não se toca com as graves questões do Nordeste – e que objetiva transformar o país numa republiqueta democrática de um partido só e de domínio vitalício.

A candidatura do governador de Pernambuco é a reedição das chances que o Nordeste teve com Lula, e representa novamente as chances de um nordestino convencer o país de que é possível melhorá-lo com a visão das populações abandonadas pelos governos. A dívida social do Brasil com relação ao povo do Nordeste ainda persiste, apesar das conquistas e transformações promovidas por Lula. Mas, certamente, não há de se esperar por Dilma, porque ela não teve a dolorosa experiência feliz de ter nascido pobre dos rincões do Brasil.