Recordar é viver (texto publicado em 10/4/2019)
E no centésimo dia do seu governo, por mais que possa dizer o contrário, o presidente Jair Bolsonaro pouco tem a comemorar.
Se até aqui há algo de original neste governo é o fato de que dispensa oposição. Ele detém o monopólio da oposição.
A oposição conhecida como tal ainda padece da surra que levou nas eleições do ano passado e se ocupa em lamber suas feridas.
O espaço reservado a ela por enquanto foi totalmente ocupado pelo governo. Ele é seu principal adversário. E à sua cabeça, Bolsonaro.
O ex-presidente Fernando Henrique notabilizou-se por desinflar as crises que batiam à porta do seu gabinete. Lula, também.
A exemplo de Dilma Rousseff, mas talvez muito mais do que ela, Bolsonaro faz justamente o contrário. Infla as crises. Ele é a crise.
Dois ministros foram decapitados, quatro secretários-gerais de ministérios e dois presidentes da Agência de Promoção das Exportações.
O novo ministro da Educação tomou posse dizendo que governará para todos. Em seguida, que demitirá quem pisar fora da linha.
Saiu da Educação um discípulo do autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho, o guru do clã Bolsonaro. Entrou outro.
Segue o governo dividido em três grupos: o dos militares, o ideológico de extrema direita, e o dos técnicos.
Os militares tentam apagar os incêndios provocados pelo ex-capitão e sua turma ideologizada que nega ser ideológica.
Os técnicos tentam trabalhar – e à falta de um projeto verdadeiramente de governo, orientam-se pelo próprio faro.
A política externa foi entregue aos cuidados de um ministro que não se envergonha de dizer que é “trumpista”. É também incompetente.
O presidente da República mais viaja do que governa e dá a impressão de que trabalha pouco, e sem gosto.
O Congresso aprovará a reforma da Previdência. Mas não a reforma dos sonhos do ministro Paulo Guedes. Longe disso.
A maioria dos políticos pensa assim: se Bolsonaro os trata mal quando mais precisa deles, imagine depois se deixar de precisar?
Portanto, nada de lhe dar o que pede. Bolsonaro deve ser alimentado com pouca coisa e mantido sob rédea curta.
Se a receita servir para a reforma, servirá também para o pacote de medidas contra o crime do ministro Sérgio Moro, da Justiça.
A má vontade com Moro pode será maior porque Moro é Moro. Ninguém mais do que ele demonizou a política.
A não ser que mude de ideia, Bolsonaro celebrará seus 100 dias de governo com o anúncio do 13º salário para o Bolsa Família.
Para quem diz que programas sociais não tiram ninguém da miséria, o anúncio só prova que Bolsonaro não sabe o que fala.
Fonte: Metrópoles
Créditos: Polêmica Paraíba