A invasão cajazeirense

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Nonato Guedes

Brasília foi dominada pelas festas dos seus 53 anos de fundação, mas houve espaço, na programação extra-oficial para a invasão cajazeirense. Um punhado de filhos da terra que ensinou a Paraíba a ler, fincada no alto sertão, na divisa com Ceará, comandou evento paralelo em pleno Hotel Nacional. Tratava-se do quarto encontro de cajazeirenses e cajazeirados (estes últimos os filhos e filhas adotivo(a)s que se tocaram de paixão pela cidade do Padre Rolim e tudo fazem para hastear bem alto o seu pavilhão). Comendas e honrarias foram entregues pela AC2B do Distrito Federal, houve apresentação musical de artistas da terra, fiz o lançamento do livro “A Fala do Poder”, programas de entrevistas foram irradiados para emissoras cajazeirenses, a agenda acolheu debates sobre os problemas e reivindicações da cidade, e, enfim, deu-se a confraternização.

Personalidades como o ministro Aguinaldo Ribeiro, prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, representante do senador Cássio Cunha Lima (Waldo Tomé), ex-governador e atual deputado Wilson Braga, deputados federais como Efraim Filho, Wilson Filho, misturaram-se à prefeita Denise Oliveira, ao ex-prefeito Chico Rolim, homenageado pelos seus 90 anos, ao ex-prefeito José Nello Rodrigues, deputados estaduais Antonio Vituriano e José Aldemir, além da fauna de médicos, empresários, intelectuais, jornalistas e pessoas de todas as tribos. Eduardo Pereira, Ubiratan di Assis e Eriston Cartaxo (novo presidente da AC2B) deram-se as mãos, juntamente com Jane Pires e demais integrantes da Associação, para dar o colorido cajazeirense nos céus da capital idealizada por Juscelino Kubitscheck e projetada por Oscar Niemeyer e Lúcio Costa. As comitivas chegavam através de rotas distintas, via Juazeiro do Norte, João Pessoa, Teresina, Fortaleza, Salvador, Recife. Políticos foram cobrados publicamente, dentro da característica peculiar a Cajazeiras: receber bem, tratar melhor ainda, mas fazer valer sua agenda para o crescimento constante da cidade.

Numa conversa que tivemos no restaurante Xique-Xique, falamos informalmente dessa peculiaridade dos cajazeirenses e cajazeirados. Na mesa, anotava-se sugestão, discutia-se a expansão da cidade, projetava-se o futuro em todas as dimensões. O cenário combinava com a fertilidade cultural da cidade e com a mobilização de filhos e filhas ilustres, que ainda recentemente dotou Cajazeiras do curso de Medicina numa briga titânica com cidades vizinhas como Sousa e Patos. “A inventividade do povo, dos valores que pontificam em todas as áreas, é o diferencial, a marca, o logotipo nosso”, dizia-me Ubiratan di Assis, contemplando o espetáculo de união, sem disfarçar uma ponta de orgulho por ser um dos artífices desse projeto que amplia a valorização das tradições mais caras. Recém-chegados eram envolvidos pelo clima contagiante e assinavam ficha de inscrição automaticamente. Queriam fazer parte dessa nação que pensa a Paraíba como um todo e oferece o suor e o talento dos seus valores para que haja avanço nesse processo, como uma espécie de legado para as novas gerações, que vão assumindo o bastão como se estivesse em curso uma maratona olímpica.

Não é cabotinismo dizer que tudo foi perfeito, nos mínimos detalhes, graças à força vulcânica do mutirão que se via na passarela da capital da República. Houve gente que superou problemas técnicos em automóveis, enfrentou o congestionamento das vias atípicas de Brasília, para estar presente nos eventos. Petson Santos, egresso da nova geração do jornalismo cajazeirense, comandou mesa-redonda transmitida pela internet, com imagens de alta fidelidade. De Cajazeiras ecoavam os telefonemas dos saudosistas que não puderam ir mas compartilharam, à distância, detalhes dessa movimentação tão cara às emoções, ao reencontro, à interação, ao sentido gregário que se cultiva entre os que beberam a água do Açude Grande e se deslumbraram, e se apaixonaram, por uma cidade que se distingue das outras no mapa geográfico da Paraíba.

Foi um banho de afetividade, de troca de informações, de intercâmbio de ideias, dentro da sede de criar, de inovar, de largar na frente, de servir de exemplo para que outras comunidades também se reciclem no amor às raízes. Como deixaram claro os oradores, os poetas-músicos como Jocélio Amaro, a ânsia era a de manter acesa a chama do espírito de cajazeirabilidade. Um neologismo transformado em verbete e incorporado à enciclopédia da terra da Cultura. O resumo da ópera foi que Cajazeiras pode mais. Quer mais. Conseguirá mais. Nos finais de noite, os acordes de “Alô Cajá, Alô” sinalizavam para a sinergia que segue em frente!