Nonato Guedes

Diluída entre as referências a magia, esoterismo, bola de cristal, ainda hoje confundida com práticas místicas, a Astrologia, cuja interpretação verdadeira fundamenta-se unicamente a partir do posicionamento dos astros, está se tornando tema de cursos universitários, teses de pós-graduação e até clubes de investimento. Foi o que apontou uma matéria de “História”, revista da Biblioteca Nacional, que faz uma chamada provocativa: “A mania que já foi ciência”. Nos séculos XVII e XVIII, as críticas foram implacáveis, afetando a sua credibilidade. A Astrologia chegou ao apogeu ainda na primeira metade do século XVII. Conquistou leitores do mundo moderno por causa das cartas celestes que previam o futuro das pessoas, assim como os almanaques astrológicos, de grandes tiragens, como observa Luís Miguel Carolino, em denso estudo para a revista sobre o assunto.

Antes do debate de seu caráter científico, acrescenta Geraldo Barbosa Neto, outro especialista, a Astrologia foi fundamental para a orientação dos descobridores, tipo Cristóvão Colombo (1945-1506). O genovês foi tomado por espanto e dúvida ao navegar entre os hemisférios Sul e Norte, e anotou tudo no diário de sua terceira viagem para a América, em 1948. Colombo indagava-se como era possível que em pouco tempo houvesse tamanha mudança no céu. Os portugueses, conforme o relato de Barbosa Neto, também pouco ou quase nada entenderam. Enquanto seus barcos se agitavam em alto-mar, eles podiam ver tudo, menos um sinal, qualquer sinal, de terra firme. A Estrela do Norte indicava a direção do polo setentrional. Mas quando cruzavam o Atlântico, na altura da linha do equador, não é que ela baixava cada vez mais na linha do horizonte? Baixava tanto que desaparecia, deixando os marinheiros sem pai nem mãe em pleno mar por absoluta falta de alguma referência que viesse lá de cima.

Veio, em auxílio das especulações, o conhecimento milenar. Foi a Astrologia, como nota, ainda, Barbosa Neto, que apontou o Sol como saída para situações excepcionais. Primeiro, por se tratar do astro mais visível e luminoso. Depois, pela simplicidade de seu movimento, que poderia ser organizado no período de um ano. Finalmente, por poder ser visto nos dois hemisférios, ao contrário das estrelas. Quem primeiro descreveu o método de localização solar, desenvolvido na costa brasileira, foi o cosmógrafo real João Farás, em 27 de abril de 1500. Ele ancorou na costa baiana com a frota de Pedro Álvares Cabral. Farás contou que, junto com dois pilotos, desceu em terra firme, de onde observou a posição do Sol munido de um astrolábio. Ao obter a medição e consultar a tabela de sua declinação, constatou estar 17 graus afastado da linha do equador. A técnica foi chamada de “tomar a altura do Sol”.

Um estudo matemático sobre os movimentos e as posições dos corpos celestes também contribuiu muito para o avanço náutico, pois inspirou a elaboração de tabelas astronômicas, consultadas por cosmógrafos nas regiões ultramarinas. Trata-se de “O Grande Compêndio”, também chamado de Almanaque Perpétuo, lançado em 1478 por Abraão Zacuto, astrólogo castelhano de ascendência judaica que trabalhou na corte portuguesa. O astrônomo e astrólogo Ptolomeu foi essencial no processo de estabilização dos conteúdos da Astrologia, que se estabelecera havia muito tempo. No século II da Era Cristã, ele sintetizou os conhecimentos astronômicos e as hipóteses astrológicas anteriores, codificando aquele saber num livro muito seguido durante os séculos seguintes: o “Tetrabiblos”. No início dos Seiscentos, essa era a fonte de conhecimento que servia de referência para publicações que tratavam das bases da Astrologia Ocidental.

Já dá para notar que tem muita História por trás de tudo isso. O fato interessante é que a Universidade de Brasília, que até 2007 ofereceu o Curso Básico de Astrologia para Pesquisadores, anuncia a retomada das pesquisas. Já a Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro, planeja curso com duração de três anos, incluindo disciplinas como História da Ciência, Filosofia, Mecânica Celeste, Geometria, Antropologia e Sociologia. Em suma: astrólogos estão fazendo mestrado e doutorado. Vem aumentando o número de teses acadêmicas sobre o tema. E até estudiosos de outras disciplinas querem aprender mais e mais a respeito da Astrologia. Pode-se dizer que há uma febre de conhecimentos sobre tema tão complexo, o que é muito bom, decididamente. Bom domingo!