O Brejo secou. Como pode?

Rubens Nóbrega

Quem morou no Brejo da Paraíba como eu morei nos 60 e viu chuva cair por quatro ou cinco meses seguidos, quase todos os anos, enchendo tudo quanto era açude, barreiro e caixa d’água, deve ter achado o fim do mundo a recente decisão da Cagepa de suspender o abastecimento em nove cidades da região, incluindo a minha adorada Bananeiras.

Mas, pelo visto, ou a Cagepa adotava tal medida ou o reservatório de Canafístula – de onde vem a água para as cidades afetadas – secaria de vez. Aí o comprometimento e o prejuízo seriam muito maiores, castigando duramente Solânea, Dona Inez e Borborema (que fazem parte da Grande Bananeiras), Araruna, Cacimba de Dentro, Tacima, Riachão e Damião.

Para tamanho aperreio encontrei dois culpados. Um permanente e natural, o clima. O outro, resultado da mistura de ignorância com imprevidência, está no desmatamento do Brejo sem nenhuma (re)ação – nos últimos 50 anos – de qualquer tipo de florestamento, reflorestamento ou replantio de matas nativas.

Haveria, contudo, um terceiro culpado. Seria a falta de planejamento e visão de setores técnicos de Estado e municípios sobre as reais necessidades, potencialidades e alternativas de segurança hídrica para o Brejo e o Curimataú. Mas essa culpa quem bota neles é a inteligência e conhecimentos do engenheiro agrônomo Newton Marinho.

Segundo ele, o Brejo ficou “à mercê dos famigerados carros-pipa, com água racionada e de má qualidade, num processo de atraso e de pura sobrevivência, por falta de um planejamento na construção de Canafístula no município de Borborema com uma rede de adutoras para levar água às cidades mencionadas”.

Marinho garante que os 4 milhões de metros cúbicos da barragem não são suficientes para abastecer os 63 mil habitantes a que se destinam. “É um cálculo simples: o consumo per capita da população é de 150 litros por dia e as perdas naturais do manancial são de 50% em evaporação e águas de fundo, impróprias para qualquer tipo de uso”, ensina.

Reconstruir Camará é erro

Newton Marinho também critica a decisão do governo de reconstruir a barragem de Camará e conectá-la a uma rede de adutoras que, avisa, vai ativar “uma armadilha em escala muito maior do que aquela que se formou em Canafístula”. Calcula que serão 26 milhões de metros cúbicos sujeitos a irregularidades climáticas próprias da região.

Mais: toda essa água servirá apenas para o consumo (ou sobrevivência, como diz) de 103 mil habitantes distribuídos por Alagoa Nova, Algodão de Jandaíra, Arara, Areal, Esperança, Lagoa Seca, Matinhas, Montadas, Pocinhos, Puxinanã, Remígio, Lagoa de Roça, Serraria e mais oito comunidades rurais.

Nenhuma gota será investida no desenvolvimento da região, acredita.

Como alternativa, propõe uma adutora para trazer água diretamente do açude de Boqueirão, adução que teria serventia definitiva via transposição para abastecer todo o Brejo e Curimataú, além de alimentar a barragem de Canafístula com sua estrutura de distribuição já implantada, “resolvendo de uma vez por todas o abastecimento daquela parte do Estado hoje em comprovada crise”.

A seca é exceção, não a regra

Sob o título ‘Seca, um fenômeno cíclico’, Josias M. Souza, outro engenheiro agrônomo do maior respeito, contribui na abordagem do tema para mostrar quão inverossímil é a previsão, publicada na imprensa local, de que a estiagem de agora deve se prolongar por mais seis anos.

Na mesma matéria (não cita o veículo que publicou), ele leu “que as atuais configurações climáticas são semelhantes à década de 50, quando vivenciamos um longo período de seca, que chegou a 11 anos”, que “o que se pode prever é que a situação se repita” e que “anos chuvosos são exceção e não regra”.

“Penso que eu e muitos profissionais da área, além dos interessados no assunto (autoridades governamentais e/ou políticas, agropecuaristas), estamos atônitos”, e explica desta forma a sua perplexidade diante daquelas afirmações:

– É muito para mim, um modesto Engenheiro Agrônomo, formado em 1964, na 3º Melhor Escola de Agronomia do País, Areia – PB (à época) de excelentes professores e ávidos estudantes, compreender e aceitar aquela abordagem, por um ângulo totalmente diferenciado, senão vejamos: a) década de 50 com 11 anos de seca não é verdade no tempo, muito menos na aritmética (o ano seco foi o de 58); b) ainda mais, como aceitar a previsão atual, baseada numa informação do que não aconteceu (década de 50)?

Josias observa ainda que os dados estatísticos do século passado não apontam anos consecutivos de seca entre 1959/69 e informa que após o ultimo período cíclico (1982/84) choveu acima da media histórica em diversos municípios do semi-árido nordestino, com índices de 800 a 1000 milímetros e especificamente na Paraíba alguns acima de 1000 milímetros no ano de 1985. Fechando, faz a sua previsão:

– No meu modesto entender e provavelmente dos colegas da área e outras pessoas, os próximos anos (2014/19) serão assemelhados aos de 1985/90, observadas as chamadas configurações globais e o comportamento dos oceanos Pacífico e Atlântico. Será chuvoso sim. Chuva é regra; seca, exceção.

Certamente o próximo período cíclico adverso deverá ocorrer em torno dos anos 2036/38 (na lógica de que se repetem de 26 em 26 anos, em média).