O Jogo da Verdade

Nonato Guedes

Fábia Dantas, jornalista competente e minha querida conterrânea de Cajazeiras, telefonou-me perguntando se disponho de algum exemplar sobressalente do livro “O Jogo da Verdade – Revolução de 64 – 30 Anos Depois”, uma obra coletiva que foi lançada em 1994 quando fui superintendente de “A União”. Infelizmente, não pude atender à educada solicitação de Fábia, interessada em inscrever nos anais de família o depoimento do pai, Antônio Dantas, sobre o movimento camponês na Paraíba nos idos da repressão, concedido a José Euflávio. Dantas foi um dos fundadores da Liga Camponesa de Santa Rita, era militante do Partido Comunista e pessoa de confiança de Francisco Julião. Na entrevista, ele cita militares torturadores e lamenta que o movimento camponês tenha se deixado infiltrar pela pequena burguesia que operava nas agremiações de esquerda. Ele foi preso no dia cinco de abril de 64 e disse ter sido torturado pelos coronéis Luiz de Barros e Cordeiro, este último do Exército.

Faço o registro desses fatos para embutir uma sugestão ao meu amigo Fernando Moura, atual superintendente de “A União”: dê um jeito de reeditar “O Jogo da Verdade”, que teve capa de Milton Nóbrega e como organizadores este escriba, José Octávio de Arruda Mello, Sebastião Barbosa, Carla Mary S. Oliveira e Evandro Nóbrega. A sugestão tem a ver com a tiragem pequena do livro na época do seu lançamento, no hotel Ouro Branco, em João Pessoa, e com a procura de exemplares por familiares ou vítimas daquele período de trevas ou daqueles anos de chumbo. O livro, na verdade, derivou de uma edição especial do jornal “A União”, que publicamos no dia 27 de março de 94, dividida em vários cadernos e que envolveu toda uma equipe de profissionais do melhor nível da imprensa paraibana, em sua maioria trabalhando em “A União”, outros através de colaborações repassadas pela necessidade de resgatar versões sobre fatos históricos. Evandro Nóbrega, em apreciação a respeito, diz que “A União” antecipou-se a muitos diários de circulação nacional, que somente poucos dias depois divulgariam edições sobre o tema, ainda que reduzidas, a exemplo da “Folha de São Paulo”, que compulsou em um caderno a reconstituição, seguindo metodologia própria.

Há exemplares de “O Jogo da Verdade” em bibliotecas do Sul do País e nos Estados Unidos, menos na Livraria do Luiz ou no Sebo Cultural, para situarmos dois extremos de templos literários da Paraíba, em João Pessoa. Talvez não tivéssemos noção do sucesso da edição histórica e, mais ainda, do livro, que ganhou sistematização, projeto gráfico, editoramento eletrônico e notas. “Como vozes que se evolam do passado recente, dezenas de participantes dos acontecimentos de 1964 dão aqui seu testemunho”, reflete Evandro Nóbrega. José Octávio comparou que “O Jogo da Verdade” está para o movimento de 64 como “Capítulos de História da Paraíba” para o conjunto da História paraibana. E eu deixei claro que não se queria julgar ninguém, mas dar livre curso a versões de cada um, fosse de esquerda, direita ou de centro, para o confronto de informações e o julgamento final do leitor, destinatário da obra de fôlego.

O livro traz a íntegra do alerta do general Castelo Branco, onze dias antes do dia 31 de março de 64, sobre o clima de convulsão no país e um depoimento do coronel Hipólyto Castelo Branco dizendo que seu parente não queria a ditadura. Esse depoimento foi colhido por Sebastião Barbosa numa conversa com o coronel Hipólyto em Natal, Rio Grande do Norte, mas consta, também, o depoimento do general Arby Ilgo Rech, comandante da Guarnição Federal na Paraíba sobre “Lendas e Excessos de 1964”. Traz ainda uma análise de José Onofre sobre o livro de Paulo Francis a respeito do movimento de 64. As cortinas são abertas com uma cronologia dos fatos, na visão de um repórter, por Nelson Coelho. Seguem-se textos e entrevistas de Plauto Mesquita, José Octávio, Hélio Zenaide, Evandro Nóbrega, Agnaldo Almeida, Thamara Duarte, Linaldo Guedes, João Evangelista, José Euflávio, José Nunes da Costa, Jonas Batista, Ademilson José, João Manoel de Carvalho, Gonzaga Rodrigues, Severino Ramos, Wills Leal, Fernando Dutra, Sérgio de Castro Pinto. Elucidativos são os depoimentos de Joacil de Brito, Luiz Hugo Guimarães, Pedro Gondim, Antonio Augusto Arroxelas, Afonso Celso Scocuglia, Assis Lemos, Jório Machado, Simão Almeida, Mário Moacyr Porto, Cabral Batista, Jomard Muniz de Brito, Luismar Resende, F. Pereira Nóbrega, Emílio de Farias. História pura, que vale a pena amplificar!