Nonato Guedes
A indefinição que cerca o cenário eleitoral na Paraíba para a disputa de 2014, sobretudo em relação a governo e senador, gera inquietação entre lideranças políticas de municípios influentes do interior, segundo revelou uma fonte ao “RepórterPB”. Em tese, a única definição parece ser a candidatura do governador Ricardo Coutinho (PSB) à reeleição, ainda assim sujeita a dúvidas cruciais que podem alterar a correlação de forças até o momento decisivo das convenções, com o conseqüente registro de postulações. Uma das dúvidas diz respeito à eventual candidatura ou não do senador Cássio Cunha Lima, do PSDB, ao Palácio da Redenção. O parlamentar tem assegurado que está fora do páreo e que possui compromisso com Ricardo, desde que ele contemple o seu bloco com duas vagas na chapa majoritária, a de vice-governador e a de senador.
Nos últimos dias, entretanto, o questionamento voltou à tona diante de demissões de correligionários de Cássio por parte do governador Coutinho. Embora o senador não tenha passado recibo de insatisfação, quem conhece o estilo de Cássio aposta que ele acumulou mais algumas “Senas” na relação contraditória que sustenta com o governador Coutinho desde que este se investiu no cargo em janeiro de 2011. Cássio tem dito, para consumo externo, que não faz política na base da barganha e que qualquer chefe de Executivo é autônomo para proceder substituições que julgar necessárias ou convenientes. Os que convivem com ele asseguram que o parlamentar e ex-governador adota uma postura estratégica para avaliar até que ponto Ricardo Coutinho estimulará atitudes desse tipo que soam como sinal de revanchismo junto a seus correligionários leais.
Um interlocutor que se julga “expert” em estratégia política do grupo Cunha Lima, sobretudo quanto ao comportamento de Cássio, observa que ele tem se tornado um fenômeno no xadrez político pelo talento em conciliar equações aparentemente inconciliáveis. Cita como exemplo que, sendo aliado do governador Ricardo Coutinho, ele conversa a céu aberto com o ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Agra, que é inimigo figadal de Coutinho. Mas Cássio deixa claro que as conversações se dão no plano da relação pessoal, não do alinhamento político. O mesmo “timing” pode ser observado em relação a outras lideranças políticas. Cássio se articula bem com o senador Vital do Rego, na atuação dentro do Congresso, embora não tenha ânimo para encetar conversações com o irmão dele, Veneziano, ex-prefeito de Campina Grande. Da mesma forma, o senador tucano dialoga com alguns petistas, mas não tem motivação para conversar com José Maranhão, que assumiu o Palácio da Redenção quando Cunha Lima foi cassado no final do segundo mandato de governador.
O “jogo” de gato e rato em relação a Wilson Santiago, recém-convertido a uma aproximação com o governador Ricardo Coutinho, é emblemático do estilo de Cássio. Santiago deixou o PMDB, está próximo de Ricardo e assumiu a presidência do diretório regional do PTB. Já fez acenos de entendimento com Cássio alegando não ter nada pessoal contra ele. Cunha Lima não corresponde na reciprocidade. Prefere insistir na eventualidade de uma candidatura do senador Cícero Lucena à reeleição. Cícero não se dá bem com Ricardo, mas é filiado ao PSDB. No fundo, Cássio não perdoa Wilson por ter se investido por onze meses no mandato que lhe pertencia. Ainda que a decisão de investidura de Santiago tenha sido de caráter judicial, Cássio sempre deixou claro que houve usurpação de um direito legítimo, que era o seu, e que acabou sendo consagrado, mas passado quase um ano da pendenga travada em Brasília.
Os passos que Cássio empreende são calculados para obter uma retribuição da parte de Ricardo. Em 2010, Cícero Lucena tentou se viabilizar como candidato próprio do PSDB ao governo, enquanto outro parceiro de Cássio, Efraim Morais, tentava desempenhar o mesmo papel no Democratas. Cunha Lima, que estava nos Estados Unidos, montou à distância a estratégia, e no retorno bateu o martelo, declarando apoio a Ricardo como única alternativa capaz de derrotar José Maranhão. Estava correto no cálculo. Agora, ele se mantém na expectativa por entender que o passo decisivo no tabuleiro deve ser dado por Coutinho, de preferência com gestos que compensem toda a árdua batalha que ele enfrentou para que o socialista conseguisse chegar ao Palácio da Redenção. Em certa medida, lideranças municipais estão atentas a esses movimentos. Inquietam-se porque gostariam de ter definições mais claras, que podem demorar. A palavra final, como todos reconhecem, está com Cássio, que pode desequilibrar a balança na disputa de 2014, não necessariamente sendo candidato, mas firmando posição com quem pode sair vitorioso.