Findo o Carnaval…
Pausa para uma observação léxica.
Recebam um léxico aí, infames, que a folia passou, mas eu permaneço gaiato!
Sempre quis começar um texto com a palavra “findo”.
Primeiro pelo óbvio paradoxo- começar encerrando, se é que me entendem-, segundo porque sempre me atraiu o fato de uma palavra que sugere encerramento parecer incompleta, uma sensação de que falta algumas letras para fechá-la, sempre.
Falando nisso, diz a lenda que “todo carnaval tem seu fim”.
Aonde? Pra quem?
“Rapeize”, após dois anos sem festa momesca, sem libertinagem, eis que a esbórnia se instalou no país.
Um pandemônio, um Deus-nos-acuda, frenesi, pandemia de farra!
A libertação do brasileiro, mais que da pandemia, parecia ser da opressão pior, aquele lema nefasto:
“conservador nos costumes e liberal na economia”.
Ô tempo de miséria física e mental.
O povo, literalmente, doido para “ralar o pinto” (joga Zé Paulo) e tendo direito apenas a roer o osso.
Depois de tanto, aqui, alhures, em todos os quadrantes desta terra tropical não se falou de outro assunto:
CAR-NA-VAL
Até Alok pousou em João Pessoa.
Para delírio dos modernosos e desespero dos carnavalescos de outrora.
Um milhão de pessoas na Avenida Epitácio Pessoa, deliravam os números.
One milllion people é praticamente todos os persons de John People atrás do trio.
Mesmo com o afluxo dos turistas nesta Jampa com 90% de leitos ocupados, não fecha a conta.
MenAs, bem menAs.
Falando em megalomania. O Galo da Madrugada este ano elevou a já conhecida “moderada” auto-estima do pernambucano ao espaço: 2 milhões de pessoas.
Mas, sem sacanagem, é mais plausível 2 mi no Galo, que 1 mi nas Muriçocas, convenhamos.
Deixando de lado a numerologia suspeita, uma coisa é certa.
Se este não foi o maior carnaval de todos os tempos aqui, entre os trópicos, eu cegue!
E se é maior aqui, na terra do carnaval, é o maior da Via Láctea e pronto.
Até aquela cidade batizada de túmulo do samba, cemitério do carnaval caiu de vez na folia.
Em dez anos de crescimento vertiginoso a São Paulo festiva já tem a maior quantidade de blocos de rua no Brasil.
Quem diria?
Outra, outrora pacata capital em tempos de carnaval também se esbaldou de vez.
Belo Horizonte pulsa.
Da energia cósmica de Salvador e da opulência do sambódromo carioca nem se precisa falar.
Fato é que, nestas citadas e outras dezenas, talvez centena de cidades brasileiras “o côro comeu” no Carnaval.
Teve hit de “sentar” pra todo lado.
Parece ser o movimento máximo do carnaval atual: SENTAR.
Onze em cada dez músicas mencionam o verbo ousado.
De todo jeito e pra todos os gostos.
No meu tempo era “levanta a mão”.
Mas, voltando a falar sobre extensão da festa, dimensão da bagunça…
Várias cidades, ou a maioria delas com mais, muito mais dias de festa que o previsto no calendário conservador de sexta-feira de carnaval a quarta-feira de cinzas.
Dez, quinze a mais dias de festa dentro da programação oficial.
Arrisco, aliás, cravo, para desespero dos caretas e amargos diversos, que Carnaval depois de 2023, oficialmente durará um mês.
Brincadeiras e instintos farristas à parte, até porque fora barulho, esparro e arranque, só fui a dois blocos, o que quero dizer é que esta força natural brasileira é incontrolável…
E quando se soma a este espírito brazuca o exorbitante lucro econômico ninguém segura.
CAR-NA-VAL é uma máquina que, sozinha movimenta dezenas de bilhões de reais e uma cadeia produtiva com quase cem atividades envolvidas.
Talvez a maior indústria nacional e, curiosamente de um produto, tipicamente, brasileiro.
Chega de exportar commodities.
Podem se preparar que a folia never ends no Brasilsão.
Vai ser um mês de Carnavalização todo ano a partir de agora.
Fonte: polêmica paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba