Não é possível se desconhecer que a política no Brasil ganhou contornos fortemente ideológicos nos últimos anos. Terminologias como direita, esquerda, direita radical, esquerda radical, extrema direita, extrema esquerda, centro, conservadores, progressistas, entre outras, passaram a tomar parte nos debates políticos, povoando também as discussões de boteco.
De repente, as disputas eleitorais passaram a ser ideologizadas, elevando o nível de confrontação entre direita e esquerda, colocando o ex-presidente Bolsonaro de um lado e o presidente Lula do outro. A esquerda representada majoritariamente pelo PT e a direita por um conjunto de siglas, como PL, PP, Republicanos, PTB, etc.
Sim, e depois dessa profunda polarização da política nacional, desde as eleições de 2018, como o brasileiro se define política e ideologicamente?
O instituto PoderData acaba de divulgar uma pesquisa realizada entre os dias 29 e 31 de janeiro, com 2.500 eleitores de 288 municípios, distribuídos nas 27 unidades da federação, o terceiro levantamento sobre a ideologização da política brasileira nos últimos três anos.
Conforme os dados atuais, 28% dos brasileiros se definem politicamente como sendo de direita, 21% se dizem de esquerda, 20% se autoproclamam de centro e 31% não sabem como se definir.
Antes das eleições, em abril de 2022, 24% se diziam de direita, igual índice (24%) se definiam como de esquerda, 25% se afirmavam de centro e 27% não sabiam se definir.
Em agosto de 2021, os eleitores que se definiam como sendo de direita eram 33%, a esquerda representava 23%, o centro era apenas 17% e 27% não sabiam como se definir.
Os números revelam que, politicamente, o Brasil é um país dividido e que não existe a predominância ideológica nem da direita nem da esquerda como o barulho dos dois lados faz imaginar, embora as forças direitistas apareçam com ligeira vantagem nas três pesquisas. Registre-se também um recuo da direita de cinco pontos percentuais entre em nove meses.
Interessante se destacar que os eleitores de centro definiram as eleições do ano passado em favor da esquerda, representada pelo candidato Luís Inácio Lula da Silva, uma tendência que diversas pesquisas já captavam em 2021.
Uma prova dessa aproximação de grande parte do centro com a esquerda aparece no quesito da pesquisa PoderData de avaliação do primeiro mês do governo Lula. Entre os que aprovam, 35% se dizem de esquerda, 26% de centro e 32% não sabem se definir. Já entre os que reprovam o governo, 59% são da direita, 12% são centristas e 22% não se definir.
A pesquisa não detalhou, mas talvez seja justo supor, somando-se os índices dos que se definem politicamente como de centro e os que não sabem se definir, a existência de uma tendência majoritariamente moderada no eleitorado nacional. O problema é que essa ampla corrente do eleitorado se dilui por não dispor de representação partidária ou de lideranças mais expressivas.
Pode haver variações de tonalidade, mas essa pesquisa do PoderData parece, sim, ser o retrato político-ideológico do Brasil.
Fonte: Josival Pereira
Créditos: Polêmica Paraíba