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Arimatea Sousa

Impasse

Com a permissão do leitor, volto a tratar hoje da já prolongada paralisação da UEPB.
Temos nessa refrega um coquetel perverso – e inadmissível.

Ingredientes

A situação envolve um rescaldo do processo de escolha do novo reitor, no final do ano passado; pouca transparência sobre a última etapa da gestão que se foi; e a posição equidistante do Executivo, que empalma (agora convenientemente) o mote que abusou de ouvir – com viés de desgaste político – da autonomia financeira e administrativa.

Contribuição

Entendo que o radicalismo que se estabeleceu é inconcebível.

É chegada a hora de um gesto de desprendimento do presidente da Associação dos Docentes, Cristovam Andrade, se afastando da linha de frente da confrontação com o Reitorado, diante de sua condição de ex-reitorável.

Interlocutores

Certamente, existem no restante da direção da Aduepb professores capacitados para canalizar e reivindicar as demandas da categoria.

Pagando pra ver

A crise atual é algo previsível e até arriscaria dizer premeditado.

Vamos resumidamente aos fatos. O Conselho Superior Universitário (Consuni) aprovou em setembro último uma proposta orçamentária para este ano de R$ 309 milhões, já sabendo que o Estado colocou em prática outra visão acerca dos repasses à instituição.

Ressalva

Não cabe aqui, no momento, adentrar no mérito do acerto da medida, mas na dimensão de que era um fato concreto.

Preto no branco

No mundo real e financeiro da UEPB, o orçamento previsto – e aprovado pela Assembleia Legislativa – foi de R$ 231 milhões, acrescido de R$ 10 milhões oriundos de uma emenda parlamentar.

Noutras palavras

O Consuni sabia que a sua proposta era quimera do período de transição no comando.

O mote era outro

“Só pensavam (em setembro) no processo sucessório (da Reitoria)”, admitiu reitor Rangel Júnior, sublinhando que “na prática, todos do Consuni tinham conhecimento” desse descompasso orçamentário.

Cumplicidade

O reitor grifou que “é lamentável levantar (agora) a tese da inocência” com relação à realidade atual: incapacidade orçamentária para fazer frente às demandas de natureza salarial, entre outras.

Aviso prévio

Rangel garante que em todo o esticado processo de escolha do reitor – entre os nomes constantes da lista tríplice – por parte do governador, “sempre deixei muito claro para Ricardo Coutinho que enfrentávamos restrições orçamentárias”.

Ambiguidade

A postura de não confrontação de Rangel Júnior comporta interpretações subjetivas, à falta da sua explicitação de motivações objetivas: é um mandato de continuidade do grupo docente liderado por sua antecessora, Marlene Alves, da qual foi graduado assessor.

Tático

Igualmente existe a sua compreensível racionalidade em não se confrontar radicalmente com o Executivo, com base nas consequências que essa linha de conduta provocou no mandato de Marlene.

Outra hipótese: a conduta poderia ser objeto de eventual entendimento que desaguou na sua nomeação.

Partidarização

Afora todos esses componentes já referidos, some-se a predisposição da oposição legislativa ao atual governo em pisar fundo nas críticas ao tratamento dado por Ricardo à UEPB, como forma de desgastá-lo aos olhos da comunidade acadêmica e também no ´berço´ da instituição – Campina Grande.

Mesma tecla

Tanto isso é verdade, que na última sessão especial da AL para tratar da crise na UEPB, a pergunta mais recorrentemente feita em plenário foi quanto o Estado estava devendo à universidade, uma conta que comporta números distintos e que atingiu a casa dos milhões a partir da gestão do ex-governador José Maranhão.

Amorfos

Registre-se com lamentação a acomodação dos alunos com essa paralisação que já caminha para dois meses.

O cerne da crise

Por fim, realço que a questão central permanece fora do eixo das discussões e sem nutrir qualquer sensibilização política para o seu enfrentamento: é preciso rediscutir e modificar a ´lei da autonomia´ da UEPB, com o estabelecimento de critérios incontroversos acerca de sua participação nas receitas estaduais.

Não encarar esse impasse é buscar ´esparadrapos´ para conter gargalos pontuais, desconexos de soluções definitivas e de regras transparentes para o exercício da decantada autonomia.

Ajuste na equipe de governo…