A farsa dos pactos e parcerias

Rubens Nóbrega

Na coluna de anteontem (‘Passe Livre para tod@s’), sugeri que a Prefeitura da Capital e o Governo do Estado inaugurassem um diálogo para encontrar meios legais e operacionais de estender o Passe Livre dos estudantes da rede municipal aos seus colegas da rede estadual.

Quando a gente propõe algo assim o faz no pressuposto ou na esperança de que lideranças políticas em geral e governantes em particular, mesmo na Paraíba, eventualmente se disponham a unir forças em prol do bem comum, em benefício dos mais necessitados. Qual o quê!

Pela indiferença ou reação a propostas do gênero, fundadas em expectativas tão ingênuas quanto as minhas, no final você consegue tão somente dimensionar – ou confirmar – quão empobrecida, apequenada e amesquinhada está a chamada classe política paraibana.

Digo dessa forma porque, sinceramente, não acredito que em qualquer outro Estado um governador reagiria como Ricardo Coutinho reagiu à criação do Passe Livre, desqualificando, quase debochando, de um programa como esse pelo fato de a iniciativa partir de um adversário político.

Não me surpreenderam palavras e modos do governador, todavia. Ele chamou o programa de farsa e o prefeito, de demagogo. Nem por isso vou pendurar o episódio na galeria das minhas decepções, inclusive porque há muito esgotei a capacidade de me surpreender ou de me decepcionar com Ricardo Coutinho.

O que ele fez e disse apenas deve permanecer por um bom período no canto da memória onde guardo as cenas mais tristes e lamentáveis da minha contemporaneidade.

Faço assim até para me lembrar de algo que jamais deveria esquecer: parceria administrativa entre Estado e prefeituras, na Paraíba, só dá certo se os dois lados forem aliados políticos ou se um deles entrar na fila da adesão.

Querem ver um exemplo?

A propósito da farsa dos pactos e parcerias entre esferas distintas de poder na Paraíba, peço que leiam com atenção o texto a seguir. Trata-se de preciosa colaboração e oportuna lembrança do pesquisador Adriano Marinho.

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Prezado Rubens, novamente escrevo para falar de Mobilidade Urbana, mas dessa vez quero aproveitar seu comentário (e de Edileide Vilaça, na CBN João Pessoa) sobre a inexistente parceria entre o Governo do Estado e a Prefeitura Municipal de João Pessoa.

Não sei quantos ainda se lembram, mas em 26 de Dezembro de 2011 (ou seja, há mais de um ano), o Governo do Estado anunciou com a devida pompa e circunstância que executaria junto com a Prefeitura o Projeto Vias do Atlântico, criando uma nova saída para o bairro dos Bancários (interligando-o com o Altiplano e o Castelo Branco).

Tal falto pode ser facilmente conferido no site da Prefeitura da Capital

(http://op.joaopessoa.pb.gov.br/?p=1737) e também no site do Governo

(http://www.paraiba.pb.gov.br/34770/estado-e-prefeitura-fazem-parceria-para-beneficiar-tres-bairros-da-capital.html).

Naquele tempo, disse o superintendente do DER, de acordo com a própria notícia, que previa licitar a obra até o final de abril de 2012. Pois bem, já estamos em abril de 2013 e nada da obra. E o bairro dos Bancários, local onde transito bastante, continua sofrendo com sua principal avenida engarrafada.

Pergunto: será que você consegue respostas das autoridades responsáveis sobre o que aconteceu com esse projeto? A notícia aponta que a obra é um projeto da Seinfra e Seplan municipais com execução do DER.

A bem da verdade, Rubens, esse calado, essa falta de informações sobre o destino do projeto deixa transparecer a leitura de que o Governo deixou o projeto pra lá simplesmente porque rompeu com o então prefeito Luciano Agra, cerca de um mês depois daquele anúncio.

Sendo isso mesmo, é mais uma decepção na conta desse governo que eu ajudei a eleger e que prometeu uma Nova Paraíba, mas na prática continuar a empregas velhas – e bem velhas – formas de governar.

Mais um ‘ginásio-depósito’

Enquanto o governador Ricardo Coutinho ataca ações que pretendem combater a evasão escolar como o Passe Livre, recebo mais uma denúncia de ginásio coberto de escola estadual em João Pessoa servindo como depósito ou almoxarifado.

A utilização denunciada prejudica sensivelmente o trabalho dos professores de educação física e treinadores de vôlei, futebol de salão, basquete etc. desses educandários. Mais ainda os alunos, que ficam obrigados a fazer exercícios e a praticar esportes sob o sol e a chuva, ao relento, no sereno. Se existir área para tanto, claro.

Segundo informação que me foi enviada ontem por duas fontes distintas, além dos ginásios dos colégios Padre Hildon (Torre) e Zé Lins do Rêgo (Cristo Redentor), o da Escola Estadual Raul Córdula, ao lado do Hospital da Unimed, no Morro da Torre, também estaria sendo usado para fins não educacionais.
Nesse, estariam sendo guardados móveis e outros equipamentos. Nos outros, conforme admitiu a própria Secretaria Estadual da Educação, os ginásios foram transformados em depósitos de bicicletas que começarão a ser distribuídas na próxima semana.