Não, não tem moral

Rubens Nóbrega

Tem moral pra falar da política de educação de outro governo quem governa um Estado onde a Polícia reprime manifestação de estudantes adolescentes com spray de pimenta?

Tem moral pra falar da gestão de outro quem dispersa protesto de professores no cacete e destitui diretores de escolas eleitos de forma legal e legítima pela comunidade escolar e contra eles investe na base do quero, mando e posso?

Tem moral pra falar das iniciativas educacionais de outro dirigente quem congela gratificações e desrespeita sistematicamente o plano de carreira do magistério do Estado que governa?

Tem moral pra falar dos projetos educacionais de governo que não o seu quem fecha escolas, reduz matrículas e faz piorar a avaliação do ensino na rede escolar sob sua administração?

Tem moral pra falar das políticas públicas para a educação de outros governantes quem admite alunos sentados no chão para assistir aula por falta de carteiras escolares?

Tem moral pra falar mal de benefícios criados para estudantes quem premiou com uma super aspone um ex-secretário envolvido em escandalosa compra de kits escolares, com irregularidades comprovadas em sindicância da própria Secretaria da Educação?

Tem moral pra falar do desempenho da educação de outros governos quem afronta a lei da autonomia de uma universidade pública, precarizando-a progressivamente mediante cortes e contingenciamentos orçamentários por pura perseguição e retaliação?

A resposta a todas essas perguntas e outras que você mesmo pode fazer estão no título que abre a coluna de hoje.

Bem mais do que 40

O Passe Livre criado pela Prefeitura da Capital deve beneficiar muito mais alunos do que apenas os 40 admitidos pelo governador Ricardo Coutinho em virulenta, destemperada e despropositada desqualificação do programa lançado pelo prefeito Luciano Cartaxo.

O Professor Luiz de Souza Júnior, secretário de Educação e Cultura do município de João Pessoa, informou ao colunista que até essa quinta-feira (11) mais de 12 mil estudantes da rede municipal de ensino já haviam se cadastrado no Passe Livre.

Sobre as críticas do governador e de seus bajuladores midiáticos de que quem estuda em escola da Prefeitura não pega ônibus, porque moraria vizinho ou perto, Doutor Júnior lembra que o governo municipal está concedendo um direito, não uma obrigação.

Ginásio vira depósito

Pelo menos dois grandes ginásios de esporte de escolas estaduais de João Pessoa – Zé Lins do Rêgo no Cristo e Padre Hildon Bandeira na Torre – vêm sendo utilizados pelo Ricardus I para guardar bicicletas que estariam programadas para distribuição até agosto deste ano.

A transformação dos ginásios em depósitos forçou os alunos e professores dessas escolas a fazerem aulas de educação física sob sol e chuva, ao relento. A medida causou revolta e a suspeita de que a entrega das bicicletas obedeceria a uma agenda de campanha pró-reeleição do governador.

A Secretaria Estadual da Educação garante que não, contudo. Questionada anteontem pelo colunista, através de i-meio, a SEC informou que as bicicletas começarão a ser distribuídas na próxima semana. Menos mal, então.

Mais um escândalo

A denúncia divulgada ontem pelo jornalista Clilson Júnior em seu blog, no ClickPB, é de uma gravidade imensa, pois aponta para a existência de uma máfia controlando e faturando alto com a terceirização do Hospital de Trauma da Capital.

O esquema, revela Clilson, opera sob o CNPJ de uma organização social de saúde que atende pelo nome de Cruz Vermelha, mas na verdade seria comandado nos bastidores pela Toesa, uma locadora de ambulâncias e serviços de socorro médico envolvida em escândalos no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Norte.

Tais informações deveriam ser objeto de imediata investigação pelo Ministério Público Estadual. E se resolverem apurar a Conexão Cruz-Toesa, os promotores ou procuradores de Justiça da Paraíba poderão solicitar ajuda dos seus colegas do Rio e de Natal, onde uma prefeita e secretário de Saúde caíram em desgraça e nas malhas da Justiça por obra, graça e ações judiciais dos MPs dos dois estados.

“Além da prefeita, foram indiciadas 17 pessoas, entre elas Daniel Gomes da Silva, dono da Toesa. Este mesmo esquema da Toesa depositou R$ 300.000,00 na conta de campanha de Ricardo Coutinho (em 2010) e hoje opera o Hospital de Trauma, onde já faturou mais de R$ 150 milhões entre 2011 e 2012”, revela o destemido Clilson, que publicou sua bombástica matéria apesar da consciência que tem dos riscos que corre.