Qual a surpresa nos ataques aos poderes constituídos, em Brasília, neste domingo, 08 de janeiro de 2023? Para mim, nenhuma! O país começou a ser ameaçado já a partir das campanhas presidenciais de 2018, onde foram acentuadas as chamadas fake news e foram montadas e executadas, à exaustão, as milícias digitais. Claro que tudo isso já vinha sendo feito bem antes, mas só a partir dali a população passou a conhecer as palavras novas, inauguradas por grupos de extrema-direita, que viam na figura do ex-presidente, Jair Bolsonaro, a grande oportunidade de pôr em prática os seus ideais nazifacistas e de conseguirem, por fim, dominar as categorias mais vulneráveis da sociedade, como os pobres, pretos, mulheres, homossexuais, etc.
Essa porta foi sendo, gradativamente aberta, a partir do medo dos mais ricos (uma minoria) e dos políticos mal acostumados às benesses já garantidas pela grande indústria da pobreza e da ignorância. Tudo parecia seguir na mais perfeita ordem, quando então a classe dominante passou a se sentir ameaçada com a chegada da classe trabalhadora ao poder, na pessoa de um simples metalúrgico, sem nível superior e saído das entranhas do Nordeste, acostumado à fome. O nome de Lula passou a crescer na política, derrubando poderosos, vencendo as oligarquias, mostrando, assim, que é possível se atingir grandes objetivos independentemente da sua condição social.
A ascensão de um trabalhador ao tornar-se presidente do Brasil por duas vezes seguidas e sempre deixando o poder com uma aceitação popular jamais sentida por um político carreirista da sempre direita incomodava! A capacidade e a audácia de indicar um sucessor e transferir votos, também, por duas vezes, assustou as elites de tal maneira, ao ponto de um dos concorrentes, sentir-se humilhado ao ser derrotado pelo ex-metalúrgico de uma forma indireta e bastante direta, por uma mulher, reeleita com folga! Isso era um ultraje! Aécio Neves orquestrou, então, o golpe, e ao lado de bandidos insatisfeitos, conseguiu derrubar Dilma Rousseff, primeira mulher a conquistar a presidência da república e a mostrar que a mulher era totalmente capaz de administrar um país tão grande, igual ou melhor que qualquer homem!
Mas para a queda de Dilma foram invocados todos os demônios. Foi ali que começou a nascer o cavaleiro “inominável”, que ao invocar o seu mestre Cel. Carlos Alberto Brilhante Ustra (torturador no regime militar, regime este que governou o Brasil por cerca de 21 anos), já se apresentou como o mal encarnado. No entanto, para a conquista da presidência da república seria preciso preparar o golpe em duas frentes: Primeiro desacreditar a esquerda, derrubar uma presidente eleita duas vezes pelo voto popular, criando causos, inventando crimes (que jamais foram provados) e ao mesmo tempo, prendendo o Lula por crimes, também, jamais provados, em um processo conduzido por um juiz incompetente cuja a farsa só veio a público tempos depois quando este acabou se revelando invejoso e interesseiro. O processo de destruição da democracia, no entanto, teria de ser realizado por etapas. O golpe derrubou Dilma Rousseff, o juiz Moro conseguiu prender o Lula apenas com acusações e troca de benefícios para delatores que acabaram saindo de cena se dando muito bem! Os delatores devolviam parte do roubo e a outra parte acabava ficando com o próprio delator e a família! Dessa forma, sim, o crime compensava!
Caminho livre, com a saída de Lula do páreo, foi alçado ao estrelato, o Judas, Michel Temer, que assim abriu caminho para a eleição de Jair Bolsonaro — fã declarado dos EUA e pupilo do recém-eleito por lá, Donald Trump — que passou a aplicar toda sorte de desmonte dos chamados direitos adquiridos, acabando com ministérios importantes para o país e outras desordens que não cabe aqui elencar. Misógino, homofobico, preconceituoso na essência, ignorante, contra a ciência, (negligenciou na saúde, quando encerrou “o mais médicos” deixando a população necessitada, mais vulnerável ainda), um negacionista escancarado, e por fim, genocida (por negar a existência da pandemia do coronavírus, permitindo, assim, que morressem milhares de brasileiros). No Brasil a Covid-19 matou quase 700 mil pessoas, e se o problema tivesse recebido a atenção necessária, por parte do governo, talvez se tivesse evitado a morte de pelo menos 400 mil! Enquanto as famílias choravam seus mortos enterrados em covas rasas e coletivas, Bolsonaro desdenhava e ria imitando as vítimas com falta de ar.
Mas, como maldade, consequentemente, atrai maldade, mesmo sendo maltratadas e humilhadas, milhares de pessoas continuaram adorando o seu líder. Foi assustador ver quantas criaturas se identificaram diante do Capitão como se estivessem em frente ao espelho. Não é que o mal possa formar outro, na verdade os maus já existiam ali e apenas se sentiram encorajados a saírem dos seus tétricos esconderijos!
Vieram as eleições de 2022 e, apesar de toda novidade, com o juiz Moro sendo desmascarado e Lula podendo provar que sempre foi inocente dos crimes que lhe foram imputados, mesmo assim Bolsonaro foi a grande ameaça à democracia. Lula venceu o pleito nos dois apertados turnos e no segundo, mesmo com uma diferença pequena, Lula venceu com mais de 60 mil votos e, apesar deles, foi reconduzido ao Palácio do Planalto pela terceira vez! Ficou patente o desejo da maioria de derrubar a ameaça, mas ficou, também, patente que a maldade ainda está muito viva no seio de quase metade da população votante! Bolsonaro perdeu a reeleição, mas não se conformou. Da mesma forma, e principalmente, os seus seguidores que passaram a acampar em frente aos quartéis acreditando numa possível anulação do pleito eleitoral, mesmo o exército e os partidos e demais concorrentes admitindo a vitória. Para o constrangimento do país, a vergonha de ver o Brasil ser motivo de chacota lá fora, “patriotas” bolsonaristas abandonaram maridos e esposas, perderam seus empregos, invocaram os “transformers”, chamaram super-heróis com direito a uniforme e tudo, rezaram de joelhos em plena avenida, debaixo de sol e chuva e mandaram mensagens pelo celular para ETs com sinais de SOS! Loucos! Ameaçaram as instituições, ameaçaram caminhoneiros lúcidos e muitos outros trabalhadores, interditaram vias públicas, impediram pessoas de serem submetidas a procedimentos médicos (pondo em risco a vida de adultos e crianças), armaram bombas e incendiaram Brasília no dia da diplomação do presidente democraticamente eleito e ameaçaram jogar um ônibus em chamas de um viaduto, sobre os outros carros sem qualquer preocupação com as vidas humanas que transitavam tranquilamente ali embaixo totalmente alheias às ameaças dos chamados “Cidadãos de bem”!
Cidadãos de bem?
E pensar que os adoradores do inominável continuam firmes em sua crença. Patriotas? Como ser patriota se o sujeito não respeita o próprio país em que vive? O mais estarrecedor é ver senhoras donas de casa (agora tenho até dúvidas de que sejam mesmo donas de casas). Abandonar os seus afazeres, suas famílias para destruírem o seu país atentando contra a vida de outras pessoas só porque pensam diferente! Prefiro pensar no chamado inocente útil para, dessa forma, tentar justificar tal cegueira. Pessoas pobres, servindo a um propósito que não é o seu — ou pelo menos não deveria — atendendo mais uma vez aos ricos empresários, financiadores do caos, da baderna, da destruição? Massa de manobra! É bom ficar claro, aqui, que o novo governo não acatará mais desmandos, desmatamentos, invasão de terras indígenas, posse indiscriminada de armas e o livre direito de matar! Agora a ordem volta a reinar no Brasil e o país poderá retornar aos trilhos. Há quem não queira isso!
A verdade é que, tal retomada da lei e da ordem será o fim dos lucros e a consequente morte para seus perigosos negócios!
Então, diante de tudo que o Brasil e o mundo viram neste domingo, 08 de janeiro de 2023, com a invasão orquestrada de Brasília e a destruição vergonhosa do patrimônio público nacional, a chegada de 100 ônibus, com cerca de 4 mil terroristas (pois é assim que estão sendo chamados os patriotas alucinados), transportados tranquilamente numa invasão consentida e, até mesmo escoltada por policiais que resultou na destruição dos prédios do STF, Palácio do Planalto e Congresso Nacional, o maior quebra-quebra com a destruição de obras de arte e do patrimônio público. É isso que chamam de patriotismo? O país se envergonha de ter patriotas desse nível. Verdadeiros robôs, um gado desenfreado atendendo a um berrante do mal!
Mas nada disso é novidade para um país constantemente ameaçado pelos seus próprios filhos. Não sei se foi burrice das nossas autoridades constituídas, ingenuidade por não acreditarem que o ser humano pode ser tão ruim quando assim deseja ou somente a tentativa frustrada de um golpe de estado que teve a conivência de setores da segurança nacional e de autoridades desejosas em patrocinar o projeto.
É inadmissível, no entanto, que um governo que está o tempo todo sob a mira dos atentados, abrir a guarda para o inimigo, mesmo sendo avisado pelos próprios grupos organizados de que promoveriam a invasão. Como admitir que não se acreditava que o movimento seguiria em frente em seu propósito de derrubada de poder, mesmo vendo os acontecimentos? Isso nem seria preciso desenhar! Os terroristas já haviam mandado o recado desde a diplomação
dos eleitos em 12 de dezembro último, quando incendiaram carros e tentaram invadir a sede da própria PF. Estranhou, mas parece que não preocupou, o fato de ninguém ser preso apesar da violência praticada. Isso soa normal? Em outra situação, só o fato de um adolescente negro olhar com cara de insatisfeito por uma abordagem mais dura da PM já seria motivo de espancamentos e mortes. Uma família de cor mais escura, se não for simpática em uma abordagem pode até ser morta por reagir mal a abordagem…Então incendiar a capital do país, destruir veículos e ameaçar invasões passam incólumes como se nada tivesse acontecido? Os patriotas e inimigos da democracia não estão pra brincadeira! Autoridades políticas e policiais contrárias aos resultados das eleições de 2022 foram, no mínimo, coniventes e as autoridades constituídas do novo governo, totalmente negligentes!
A verdade é que o projeto de reunificação do país, não deve, jamais, passar pela tolerância aos atos ora praticados como estamos presenciando.
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba