Agra tenta forçar polarização com Ricardo

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Nonato Guedes

O ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Agra (sem partido), tenta forçar um debate seu com o governador Ricardo Coutinho (PSB) a respeito de problemas de interesse do Estado, sem conseguir, até agora, fazer o chefe do Executivo morder a isca. Ricardo Coutinho, confrontado por repórteres com acusações de Agra sobre omissão administrativa, limita-se a dizer que não vai polemizar com o ex-aliado. Em certas ocasiões, o governador faz ironias cáusticas sobre atitudes de Agra. Ambos romperam definitivamente na campanha eleitoral de 2012. Desconfiado de que não teria apoio de RC para disputar a reeleição, Agra divulgou manifesto anunciando desinteresse pela política, cujo exercício por parte de alguns expoentes considerou um jogo bruto.

Posteriormente, aconselhado por interlocutores de sua confiança, Agra resolveu bater chapa dentro do PSB com a jornalista Estelizabel Bezerra, que a esta altura havia sido ungida postulante “in pectoris” do chefe do Executivo. Na espécie de convenção realizada, o rolo compressor do esquema de Coutinho funcionou e Estelizabel obteve a indicação oficial para o posto. Ao invés de se acostar à decisão da maioria, Luciano Agra optou por manifestar apoio ao candidato do PT, Luciano Cartaxo, influenciando na escolha do jornalista Nonato Bandeira (PPS) para a vice. A chapa Cartaxo-Bandeira foi vitoriosa, e Agra considerou-se decisivo na parada, ignorando outros fatores, como a demora do esquema oficial estadual em oficializar candidatura, o lançamento de uma candidata neófita, como Estelizabel, que até então não tinha participado de disputas políticas, e, por último, focos de desgaste da administração estadual em alguns setores do funcionalismo e de categorias sociais dentro de João Pessoa. O confronto no segundo turno deu-se entre Cartaxo e o senador Cícero Lucena, do PSDB, que foi prefeito duas vezes na capital paraibana. Mas Estelizabel teve boa performance no primeiro turno, e ficou em terceira posição, desbancando o peemedebista José Maranhão.

Na montagem do secretariado de Cartaxo, Agra foi premiado com indicações de nomes de sua confiança mas não logrou êxito na tentativa de manter Roseana Meira na secretaria de Saúde municipal. Ainda agora, com o pedido de exoneração do médico Lindemberg do comando da Pasta, em face de atribuições contratuais na Universidade Federal da Paraíba, Cartaxo descartou novamente a opção Roseane, indicando para a vaga Adalberto Fulgêncio, até então lotado na auditoria da Funasa em Brasília e que presidiu o Partido dos Trabalhadores na Paraíba por sete anos. Fulgêncio pediu apenas tempo para regularizar sua situação de trabalho e vir assumir o posto. Enquanto Agra mantém um relacionamento distante de Cartaxo (os dois alegam compromissos recíprocos conflitantes), o vice-prefeito Nonato Bandeira faz o papel de cicerone do ex-prefeito em viagens pelo interior do Estado. Já esteve com Agra na cidade de Cajazeiras, foi a outros municípios e mais recentemente esteve no Ingá. Agra aproveitou uma entrevista a emissora de rádio para desancar o governo estadual, propondo, inclusive, a desativação da Granja Santana, residência oficial do governador, que, a seu ver, seria um ambiente de luxo e desperdício de recursos.

O ex-prefeito de João Pessoa, que assumiu a titularidade quando Ricardo renunciou para se candidatar ao governo (ele era vice-prefeito), tem afirmado que a administração do socialista, seu ex-aliado, é baseada exclusivamente na propaganda, uma vez que não corresponde à realidade em termos de realizações no interior do Estado. Agra só não definiu, até agora, o partido a que vai se filiar. Chegou a cortejar o PT mas parece não ter encontrado receptividade maior. A única liderança que encampou uma provável candidatura sua ao governo foi o deputado estadual Anísio Maia. Agra manteve contatos com dirigentes de outros partidos, como Ricardo Marcelo, do PEN, e com lideranças como o senador Cássio Cunha Lima, do PSDB. As últimas versões dão conta de que ele estaria de olho no controle do Partido Verde, na Paraíba, que é dirigido pelo sargento Denis de Oliveira, aliado do governador Ricardo Coutinho. Agra teria sido sondado, também, para ingressar no PPS. Há quem diga que o vice-prefeito Nonato Bandeira aproveita a carona das viagens ao interior para firmar uma provável candidatura sua a deputado estadual. Já Luciano Agra dá a entender que corteja, mesmo, um cargo majoritário, possivelmente o de governador, dentro da estratégia de confrontar o governador Ricardo Coutinho, que, por sua vez, sempre que possível, minimiza qualquer influência do ex-aliado na disputa majoritária do próximo ano.