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Papai Noel velho batuta - Por Estevam Dedalus

Com o capitalismo e o desenvolvimento da publicidade, porém, a imagem do Papai Noel passou a ser usada em peças de propaganda.

imagem: reprodução/internet

O Natal foi a festa popular mais legal da minha infância. Eram muitas as vantagens. A cidade se vestia com uma roupa luminosa, minha mãe criava pratos deliciosos para a ceia e o espírito natalino fazia com que as qualidades humanas fossem iluminadas.

Anos depois descobri que Jesus não nasceu no dia 25 de dezembro. A data é uma invenção da Igreja católica para cristianizar as festividades do solstício de inverno. Soube também que há uma tendência no aumento do número de suicídios durante as festas de final de ano e que a cor vermelha da roupa do Papai Noel é obra do cartunista norte-americano Thomas H. Nast. Ela se tornou popular após uma campanha publicitária da coca-cola, nos Estados Unidos e Canadá, durante o século XIX. Até então o velhinho se vestia de verde – visual mais “tupiniquim” que “ianque”.

A lenda do Papai Noel tem um fundo histórico. Tudo indica que é baseada em São Nicolau Taumaturgo, arcebispo turco do século IV. O clérigo tinha o hábito de presentear os pobres durante o Natal e muitos milagres são atribuídos a sua autoria. Com o capitalismo e o desenvolvimento da publicidade, porém, a imagem do Papai Noel passou a ser usada em peças de propaganda. Num apelo claro ao consumo. Hoje é uma figura profundamente associada aos interesses do mercado e do lucro.

Dar e receber presentes são práticas encontradas em diferentes culturas. Nas sociedades indígenas onde predomina a economia da dádiva, os presentes são dados não por seu valor de troca ou expectativa de reciprocidade imediata e futura. O que prevalece de mais importante são os laços sociais de amizade e cooperação.

Para esses povos os objetos não possuem valor de troca, diferente do que ocorre nas economias de mercado. Tribos africanas, por exemplo, proibiam que animais ofertados em forma de presente fossem usados para reprodução ou negociados. Deviam ser comidos, não vendidos. Já os indígenas da América do Norte tinham um ritual curiosíssimo chamado potlatch. Eles homenageavam alguém com um banquete que, por sua vez, ficava obrigado a presentear parentes e amigos com seus bens materiais mais valiosos. O que deve causar revolta nos espíritos mais avaros e gananciosos. Não é à-toa que os governos dos Estados Unidos e Canadá proibiram a prática, alegando se tratar de desperdício irracional de riqueza.

A arte, em especial a música popular, não poupou o Natal e o Papai Noel de críticas. Boas Festas, nossa canção natalina mais famosa, de autoria de Assis Valente, diz: “Eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel/ bem assim felicidade/ Eu pensei que fosse uma brincadeira de papel/ Já faz tempo que eu pedi/ Mas o meu Papai Noel não vem/ Com certeza já morreu/Ou então felicidade é brinquedo que não tem”.

No entanto, pertence à banda brasileira Garotos Podres a música com a crítica mais violenta e irreverente feita, até hoje, contra o Papai Noel. Papai Noel Velho Batuta – nos shows se canta “filho da puta” ao invés de velho batuta – virou um clássico do rock nacional. Tornando-se cover quase obrigatório em shows undergrounds nessa época do ano. Sua harmonia é simples, com três acordes que são tocados em forma de power chord ­ ­– técnica que suprime a terça nota da escala para deixar o acorde mais pesado e evitar dissonâncias, utilizando apenas as cordas mais graves da guitarra –  com distorção suja e compassos rápidos no melhor estilo punk

Fonte: Estevam Dedalus
Créditos: Estevam Dedalus