Cássio reforça discurso de Aécio

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Nonato Guedes

A revista “Veja”, em sua coluna “Radar”, assinada por Thiago Prado, informa que o senador Aécio Neves (PSDB-MG), pré-candidato a presidente da República, vai direcionar a artilharia para o atual calcanhar de aquiles de Dilma Rousseff: a seca no Nordeste, cada vez mais devastadora. Acrescenta que o PSDB paraibano cederá uma das inserções partidárias a que tem direito na TV local para seu presidenciável desancar as políticas de combate à estiagem, ou a falta delas, na região. E conclui: “Criador de gado e especialista no tema, Cássio Cunha Lima vem orientando Aécio sobre o conteúdo do discurso a ser veiculado”.

Ex-governador da Paraíba e atual senador, Cássio Cunha Lima, que esta semana completou 50 anos de idade, tem sido um crítico afiado do governo Dilma Rousseff em relação a políticas públicas para atenuar os efeitos da calamidade no semiárido. Quer em pronunciamentos na tribuna do Senado ou em declarações a órgãos de imprensa, o parlamentar paraibano questiona a eficácia das medidas anunciadas com tanto alarde pela presidente, a exemplo do pacote de recursos que enfatizou em Fortaleza e de concessões para produtores que estão com dívidas junto a bancos oficiais. Cunha Lima avalia que as medidas são paliativas e que os recursos são insuficientes para fazer frente às demandas dos sertanejos famintos, que, inclusive, perderam rebanhos devido aos reflexos da seca. Ele praticamente compara a ajuda oficial a uma “esmola”, não a um projeto consistente que contribua para a emancipação dos trabalhadores rurais da região.

Cássio, realmente, tem trânsito junto a Aécio e defende ardorosamente a sua candidatura a presidente da República. “Veja” comete um equívoco, apenas, ao insinuar que seu conhecimento sobre a realidade nordestina advém do fato de ser criador de gado ou especialista no tema. Cássio foi eleito governador por duas vezes na Paraíba. Tem raízes na região de Campina Grande, cujas adjacências enfrentam arduamente a calamidade climática. Além do mais, foi superintendente da Sudene, no governo de Itamar Franco, que assumiu em 92 com o impeachment de Fernando Collor de Mello. Foi na Sudene onde Cássio adquiriu experiência maior em torno da problemática da seca. Ele chegou a ser tomado como refém por agricultores que reclamavam uma audiência com o presidente da República. Agiu com habilidade junto ao Palácio do Planalto, que atendeu às demandas dos agricultores.

Cunha Lima, naturalmente, será consultado por Aécio, mas não apenas sobre a estiagem, e, sim, quanto a outras questões referentes ao Nordeste a fim de subsidiar a sua campanha ao Palácio do Planalto. Aécio quer fazer contraponto não só à presidente Dilma Rousseff mas ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB, que se apresenta como provável alternativa na sucessão presidencial. Mas é fato que o ex-governador paraibano estará na linha de frente da campanha de Aécio Neves em 2014. Um aspecto interessante por trás da notícia divulgada por “Veja” é o fato de que o Nordeste tende a predominar na plataforma retórica de postulantes à presidência da República, não só pelo contingente de eleitores e de habitantes, mas sobretudo em virtude da movimentação de Eduardo Campos, que pode retirar votos preciosos de Dilma Rousseff num reduto em que ela foi bem votada.

Dilma já esteve na Paraíba, em Pernambuco e no Ceará, e programa-se agora para ir a Minas Gerais, reduto de Aécio Neves, em que ele foi, também, governador. A estratégia que está sendo repassada à atual presidente é no sentido de “minar” os bolsões onde eventuais adversários podem lhe fazer sombra. A ofensiva em relação ao Nordeste pode ter sido orientada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tem origens nesta região e votos cativos, inclusive, em Pernambuco e em outros Estados. Mas é evidente que Dilma vai direcionar a campanha para todo o país. O Partido dos Trabalhadores começa a preparar material de propaganda dos índices de aprovação alcançados pela presidente, insinuando, com isto, que se trata de resultado das ações do governo federal. No outro extremo, os tucanos contra-atacam. O Instituto Teotônio Vilela, do PSDB, tem publicizado artigos no portal nacional da legenda abordando a suposta preocupação de Dilma com o Nordeste. Considera justo que a presidente atue assim, mas alerta Dilma para não fazer demagogia nem anunciar o que na prática não irá se materializar. E Eduardo Campos continua fustigando as políticas do governo petista. É em meio a esse fogo cruzado que Aécio Neves testará popularidade e procurará ganhar espaços que possam dar capilaridade à sua ambição de ocupar a cadeira do Palácio do Planalto.