PMDB convive com fantasma do esvaziamento

Nonato Guedes

A ameaça de esvaziamento das fileiras do PMDB paraibano começa a gerar inquietação entre forças políticas que vão disputar as eleições de 2014. O recente desligamento do ex-senador Wilson Santiago, que migrou para o PTB, é avaliado como um precedente perigoso se não houver uma articulação mais efetiva da direção peemedebista, comandada pelo ex-governador José Maranhão, para oxigenar a legenda e atrair quadros com vistas à disputa do próximo ano. Maranhão não se incomoda com essa perspectiva, mas parlamentares como Manoel Júnior e Gervásio Filho consideram indefinida a sobrevivência da legenda em embates decisivos que irão ser travados. A crítica maior que se faz é ao estilo de comando que vigora dentro do partido.

Maranhão é, reconhecidamente, um político centralizador. No íntimo, ouve ponderações, recolhe queixas ou insatisfações, mas se dá ao direito de ter a palavra final. Esse comportamento tem sido tolerado desde que Maranhão assumiu o controle efetivo do partido, forçando o grupo Cunha Lima a migrar para o PSDB. Entretanto, as resistências começam a aflorar. Depois de deputados federais, estaduais e vereadores de João Pessoa, o clima de inquietação se espalha por bases estratégicas no interior do Estado, que começam a dar razão a Wilson Santiago no que diz respeito ao acúmulo de derrotas que o PMDB experimenta desde 2002, quando Roberto Paulino perdeu em segundo turno para Cássio Cunha Lima. As reclamações se estendem à falta de um esforço mais consistente para promover criação de comissões definitivas do partido e, desta forma, fortalecer a legenda. Também há restrições à leniência da cúpula na estratégia de estimular um processo de filiações que revigore os seus quadros.

“Estamos cansados de vitórias morais, que, na prática, refletem derrotas. O objetivo de qualquer organização partidária é a conquista do Poder. O PMDB, por uma série de erros que têm sido cometidos, não parece mais motivado ou sensibilizado a perseguir esse projeto. Isto cria uma atmosfera de desestímulo nas bases. Ninguém ganha por gravidade ou confiante em eventual desgaste de adversários. Empalma o poder pelos seus próprios méritos e pela capacidade de catequizar militantes”, ressaltou um interlocutor ao “RepórterPB”, lamentando que o ex-governador José Maranhão não esteja atento a essas particularidades.

Por outro lado, essas fontes consideram equivocada a interpretação de que eventuais adesões ao governador Ricardo Coutinho, por parte de prefeitos e líderes interioranos, não passa de uma estratégia para extrair dividendos da ação governamental. Consideram que pode haver mesmo um tropismo, diante da incapacidade do PMDB de oferecer segurança de elegibilidade para eventuais pretendentes a eleições no próximo ano. O contencioso dentro do PMDB acaba sobrando para o ex-prefeito de Campina Grande, Veneziano Vital do Rego, pré-lançado candidato ao governador. A reclamação, nesse caso, é que Veneziano fica intimidado com o poder de mando de Maranhão e reluta em aprofundar laços com as bases peemedebistas quimicamente puras, que serviriam de estofo para lastrear sua virtual candidatura ao Palácio da Redenção. As aflições têm sido externadas “em off” diante do argumento de que o ex-governador Maranhão não abre a guarda para um amplo debate interno.

Um grupo expressivo do PMDB já manifestou o propósito de manter uma conversa transparente e objetiva com o ex-prefeito Veneziano Vital do Rego, para colocá-lo inteirado das dificuldades internas e das projeções para o próximo ano. Esse grupo entende que o desgaste da administração Ricardo Coutinho é pontual, e adverte que a máquina administrativa não pode ser subestimada, até em função das iniciativas que o gestor socialista tem desenvolvido para estabelecer parcerias independentemente de alinhamento partidário. Veneziano, até agora, tem evitado se imiscuir na polêmica, para não entrar em choque com a orientação emanada de José Maranhão. Mas a indocilidade das bases já está chegando ao conhecimento de lideranças nacionais do PMDB, que admitem entrar no circuito para tentar fórmulas conciliatórias, evitando o definhamento da agremiação no Estado.