Amadeu Robson Cordeiro
Auditor Fiscal
Desde minha infância, pequenos acontecimentos me faziam pensar em Deus como o grande provedor de projetos. O escultor e modelador de idéias, capaz de contornar o coração dos desesperançados.
E nesse trânsito da evolução, tinha dias em que a alegria me embriagava, e em outros, pedia licença à tristeza para trafegar nos seus campos, carregando um pouco de melancolia a tiracolo. Foi assim que pensei ter nascido para alguma tarefa especial. Que, em algum momento, minha existência valeria um tanto mais. O tempo passa, e hoje, observando-me com atenção, percebo que se há realmente algo que me faça ocupar este posto, temo ter-se perdido dentro de mim. Daí me inspirar e reproduzir também Karla em suas belas crônicas.
Criando os meus projetos profissionais, enveredei algumas noites em claro, tentando uma conversa, um bate papo com Deus, sempre com o olhar voltado para o futuro, foram noites decisivas.
Estas noites me ofereciam o silêncio necessário para que eu refletisse também sobre os meus medos. Temia me tornar uma pessoa medíocre, sem sonhos, sem buscas, acostumado demais com o que vivia que, mesmo insatisfeito, desempenharia sem pestanejar meu papel de conivente com a realidade.
Precisei como ainda precisamos colegas de algo mais, do bom estrume; da boa semente; da promissora colheita.
Estamos a um passo da eleição sindical da nossa categoria que elegerá a nova administração do SINDIFISCO-PB. Fiz minha escolha pela chapa “União, Resistência e Luta” por entender que suas propostas estão pautadas no verdadeiro espírito democrático, espelhado pela defesa dos nossos direitos, pelo respeito a nossa categoria e pela igualdade de todos os servidores fiscais. Fiz severas criticas a atual administração, mas reconhecer a existência de um alinhamento, de uma mudança de rumo em prol de um Fisco forte, unido e respeitoso, não posso deixar de fazê-lo. Durante dez anos estive a frente da minha categoria funcional. Em vários momentos tive de recuar, dá um ou dois passos para trás, mas entendia que tal atitude não significava derrota ou rendição. Quando uma estrada se torna intransitável, elegemos alguns atalhos. Foram as estratégias comungadas com políticos, independente de facção partidária que nos levou ao êxito. Respeito os contrários, somos colegas, mas não entendo o total descaso e desprezo em suas propostas com uma categoria tão significativa como a dos Auditores Fiscais de Mercadorias em Trânsito. É lastimável e perigoso.
Ao tomar minha decisão, acreditei verdadeiramente, a partir daquele momento em que acreditar é importante e essencial, que faria alguma diferença em nossa realidade. Que realmente poderia fazer dos nossos sonhos algo palpável e real, dignos de uma pessoa que passa tanto tempo em companhia de reflexões; que pondera, mas não renega os desejos e impulsos. Que acredita no dia seguinte como se nele coubesse somente o melhor. Obviamente, até mesmo as crenças sofrem abalos.
Na verdade, com o tempo eu também fui me amoldando. E o tempo não desperta somente para necessidades, mas também para sabedorias.
E na frieza dos cálculos, hoje percebo que essa decisão é uma conquista diária de cada um de nós e que nem sempre está em grandes feitos, mas na sutileza, na decisão séria e na simplicidade de cada experiência pela qual passamos. Que se trata de um estado de espírito que é construído aos poucos.
Erros e acertos. Posso não ser a pessoa que idealizei na infância das minhas experiências profissionais e que se transportou à fase adulta. Talvez nunca chegue perto de ser este alguém. Mas o que torna este pensamento tão ambíguo e ao mesmo tempo revelador, é que podemos nos tornar pessoas bem melhores, mas participativas, mas amigas, vitoriosas e unidas do que, dia desses, fomos. E acho que isso já é uma possibilidade. A eleição passa, a amizade continua.