Graças a Deus, o povo sofrido, esmagado, explorado, enganado e tratado como boiada ou massa de manobra começa a tomar, aos poucos, consciência de seus direitos inalienáveis. Trata-se de um novo tempo. Uma nova história de cidadania começa a raiar no horizonte destas terras paraibanas. O povão começa a ter vez e voz, ainda que seja de forma tímida. É A libertação do homem e da mulher aproximando-se.
Consciência crítica libertadora. Se todos começarem a ter essa postura crítica cidadã, será varrida do mapa da nossa Paraíba, a cultura do engodo, da enganação, do coronelismo político, da humilhação, da injustiça social, enfim, de tudo aquilo que agride a dignidade da pessoa humana. Para nossa felicidade, essa nova maneira de pensamento crítico vai tornando-se uma realidade concreta e existencial,neste pedaço de chão nordestino
O povo começa a libertar-se, gradualmente, das amarras do medo, do comodismo, da subserviência, da cegueira cidadã. Seus olhos estão abrindo-se para a realidade daninha que sempre o afligiu. Trata-se do despertar-se de uma longa noite do “sono” da alienação generalizada, que o levava ao comodismo, ao espírito determinista ou fatalista: “sofremos, porque Deus quer assim, passamos fome, porque Deus quer assim, temos nossa dignidade desrespeitada, porque Deus quer assim”. O povão estava “dormindo”, para a felicidade dos “mandões”.
Essa tomada de consciência torna-se, que maravilha, uma arma poderosa para os oprimidos, para os deserdados da vida, para essa gente tantas vezes tratada com desdém, como se não fosse pessoa humana. Percebo que o povo já não admite ser enganado, agredido nos seus direitos mais elementares,roubado e tratado com humilhação,com desprezo,por quem quer que seja. Já está começando a lutar, mesmo de forma tímida, a passos de tartaruga, pelos seus direitos, basta observar certos programas de rádio, onde as pessoas ligam para reclamar, cobrar, reivindicar etc. Já é um avanço significativo.
Transcreverei de forma literal, o que tenho ouvido e continuo ouvindo de muitas pessoas nas conversas informais. São pessoas simples, humildes, exploradas, marginalizadas, agredidas na sua dignidade de pessoa humana. Faço questão de ouvi-las atentamente:
“Antes, a gente pensava que a gente era pobre, sofria porque Deus queria, mas hoje, a gente já não pensa assim. Deus não quer sofrimento nenhum”.
“Padre Djacy,aqui no sertão,a gente toda vida foi tratado como gado,como bicho do mato,ignorado ,tangido”.
“Seu padre, está acabando o tempo em que governador, prefeito, deputado, senador e o diabo aquático mandavam na gente”.
“Aqui, antigamente, era assim: o coronel falava e a gente ficava calado. Se a gente falasse ,ia prá chibata.Hoje ,a coisa é outra.A gente era muito humilde,não tinha vez e nem voz”.
“Neste sertão, pobre é humilhado demais por todo tipo de doutor. Onde o pobre chega é humilhado,até nos hospitais.É ,mais as coisas estão mudando,ninguém queira mais humilhar a gente,não. Agora ,a gente está aprendendo a denunciar o errado”.
“Antigamente, os políticos vinham para nossa cidade e prometiam muita coisa. A gente ficava acreditando neles. Não vinha nada de bom pra gente. Era tudo mentira. agora, a gente não se deixa mais iludir. A Gente tá abrindo os olhos.”
“Olha, padre, meu filho foi mal atendido pelo médico do PSF, ai eu liguei pra o radio e meti o pau.Denunciei mesmo.Não tenho medo de falar a verdade”.
“Na minha rua tinha maior buraqueira, a gente se reuniu para cobrar do prefeito, aí, ele num instante resolveu o problema”.
“Agora o negócio é assim: qualquer coisa errada praticada por quem quer que seja,a gente denuncia, liga prá rádio, procura o Ministério Público.”
“Se eu for ao hospital ou para um posto de saúde e não tiver médico, eu denuncio, ligo prá rádio, grito, cobro. O povo paga para esse pessoal trabalhar”.
“Não é mais admissível ficar caladas diante de tantas injustiças, falcatruas, engodos, roubalheiras, corrupção.”
“Acabou o tempo da besteira, quando o povo era humilhado, ignorado, mal tratado. O povo está abrindo os olhos, não agüenta mais humilhação”.
“Padre, por que o poder Judiciário faz tanto prédios luxuosos, bonitos, e a os pobres mal podem entrar, porque se sente pequeno demais?”
“Padre, por que os pobres são tão humilhados por certas autoridades públicas?
“Esses deputados ganham bem demais, e os pobres funcionários públicos ganham uma miséria”.
“Graças a Deus, seu padre, nós estamos aprendendo a lutar pelos nossos direitos, a gente não fica mais calado, feito besta. Ai de quem tentar nos enganar”.
“Nós somos pobres, mas somos cidadãos. Queremos ser bem tratados por prefeito, deputado, juízes, promotores, médicos, dentistas e por todos os funcionários públicos”.
“Olha, padre, eu estou sabendo que quando eu compro um pão, estou pagando imposto. Agora, eu quero que os políticos invistam honestamente o meu dinheiro”.
“Uma coisa é certa: nós estamos aprendendo a lutar por saúde , educação, segurança, estrada, água, emprego e tudo é o que é bom pra nós”.
“Estive em João Pessoa, e fiquei observando certas autoridades andando em cada carrão novo, de luxo. Fiquei pensando: tudo isso é com o dinheiro do povo.O povo trabalha,trabalha, trabalha prá manter essa gente importante viver numa boa”.
“Padre, sou aluna de uma escola pública, pense, padre, lá falta tudo. Nós somos culpados por tudo isso, porque não cobrando nossos direitos de ter professores bons, material necessário”.
“Por que um deputado, um governador se aposenta tão rápido, e ganhando tão bem? Os pobres dos trabalhadores trabalham a vida toda para ganhar uma aposentadoria miserável”.
“Acabou o tempo em que a gente era besta, calado, tudo agüentava calado. Eu acho que a gente tem mesmo é que lutar pelo o que é nosso”.
“Devemos cobrar, brigar, lutar pelos nossos direitos”.
“A gente sabe que o médico do PSF tem que cumprir o horário integral. Se ele não cumprir o horário completo, a gente denuncia”.
“Antigamente, a gente tinha medo até de entrar num fórum, numa prefeitura, numa repartição pública, hoje, acabou esse negocio de medo, somos cidadãos”.
“Hoje é o seguinte,quando nossos direitos não respeitados,procuramos Ministério Público, a Justiça, o PROCON e tudo o que é do nosso alcance”.
“Padre Djacy,é preciso que a gente lute ,brigue pelos nossos direitos”.
“O povo é besta, acomodado, ignorante, porque não sabe dos seus direitos. Na hora que começar a lutar a coisa muda”.
Uma coisa é certa, um povo consciente amedronta os poderosos ou quem quer que seja. O poder treme nas bases. Não é por acaso, que as elites políticas e econômicas fizeram questão de manter o povão no cabresto, na alienação política. Seu status quo não poderia ser abalado.
Que nós, cristãos e cristãs, seguindo o Jesus libertador, usemos a fé como arma poderosa contra todo tipo de alienação, causa de tantos males que afligem milhares de paraibanos.