A espada de Ricardo

Rubens Nóbrega

Imagino que a maioria dos leitores já leu ou ouviu alguém contar a história de Dâmocles, um cortesão siciliano que bajulava e, ao mesmo tempo, morria de inveja da fama e da fortuna com que a vida agraciara Dionisius I, um tirano que governou Siracusa antes de Cristo nascer.

Pois bem, de tanto babar o rei, um dia Dionisius encheu o saco e resolveu dar uma lição no bajulador. Chamou o cara e disse: “Vamos trocar de lugar por um dia, que é pra você ver como é”. O babão topou na hora, lógico, e na data acertada foi levado ao palácio real para desfrutar de mordomias semelhantes àquelas da Granja Santana.

O xeleléu se esbaldou. Comeu e bebeu de tudo do bom e do melhor, foi servido pelas mais belas cortesãs e ainda teve direito a passar horas batendo papo com o rei. Dâmocles não cabia de tanta felicidade, até que… Até que notou, pendendo sobre a sua cabeça, uma espada amarrada ao teto por apenas um fio de cabelo de cavalo.

Aí, amigo, bateu uma tremenda tremedeira, o sujeito começou a suar frio, coração disparou, borrou-se todo e foi tomado por uma crise de pânico que fez Dâmocles suplicar ao rei por imediata destroca dos papéis.

“Foi que houve, compadre? Perdeu a vontade, foi?”, perguntou Dionisius, com certo deboche, seguro de que Dâmocles entendera ‘a mensagem’.

A espada fora colocada ali, daquela forma, para mostrar que todo poderoso vive sob constante ameaça de perder o poder e o que mais o poder proporciona, da riqueza material à sensação de que tudo vai durar pra sempre.

Justamente por se acreditar infalível e eterno, não raro o poderoso começa a se achar demais, a tiranizar demais e aí não demora aparece um gaiato pra cortar a fio de cabelo que segura a lâmina.
Graças a essa história, desde então a espada de Dâmocles vem cortando milênios para mostrar que pessoas detentoras de grande poder podem perdê-lo a qualquer momento. Basta…

Estou recontando essa ‘anedota moral’ hoje para dizer que ontem o deputado Ruy Carneiro pendurou uma espada super afiada sobre a cabeça do governador Ricardo Coutinho. Uma espada chamada Cássio Cunha Lima.

E o fio de cabelo com que Ruy amarrou a espada no teto do Palácio da Redenção ou do gabinete da Granja é uma consulta que promete fazer ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O deputado vai tentar em Brasília acabar com o suspense que mantém o planeta Cunha Lima de respiração presa há mais de um ano. Os ministros do TSE dirão, enfim, se Cássio pode ou não ser candidato a governador em 2014.

Bessa: entidade quer passeio público

Anunciata Santiago Bronzeado, presidente da Associação dos Moradores e Amigos do Bairro Jardim Oceania – AmaOceania – enviou ontem nota de esclarecimento à coluna na qual, mesmo sem se referir explicitamente aos Vondessauer, firma contraponto à luta do casal Andrés e Eveliny em defesa das tartarugas que desovam na praia entre o Mag Shopping e o Iate Clube.

Os Vondessauer conseguiram na Justiça, até aqui, barrar o projeto da Prefeitura da Capital que prevê a implantação de acessos, ciclovia e calçadão naquele trecho. Vamos aos argumentos e esclarecimentos da presidente da AmaOceania.

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Os moradores do Bairro Jardim Oceania/Bessa – formado por mães de família, bebês, jovens, idosos e deficientes – carecem de um passeio público que possibilite o exercício de deslocamentos, caminhadas, contemplação da natureza, da paisagem, além da brisa marinha etc. Só através desse passeio público é que poderemos gozar dos benefícios recomendados pelos médicos e demais profissionais da saúde.

Caminhar na praia é prejudicial a coluna pois devido à alta da maré esta quando esta quase sempre está inclinada.

No momento, a Prefeitura de João Pessoa disponibilizou meia pista na Av. Argemiro de Figueiredo, nos horários das 5 às 8h. Vale ressaltar, que essa medida é uma consolação improvisada. Há intenso tráfico de automóveis e ônibus trafegando em meia pista próximo aos caminhantes, fazendo ruído, despejando CO2 e assustando a todos aqueles que precisam de um lugar calmo e seguro para suas caminhadas.

Não há ventilação adequada, nem o usufruto e muito menos a contemplação da bela paisagem do mar. Esta situação causa risco de vida, sobretudo de manhã, em especial quando alguns motoristas retornam das noitadas, muitas vezes alcoolizados. O passeio público na orla do Bessa/Jardim Oceânia é uma necessidade sócio-ambiental, e mais ainda, para o convívio humano, para ritualização do convívio social, para a valorização do vínculo do indivíduo com sua cidade, para a potencialização dos valores humanísticos e para a melhoria da qualidade das relações humanas.

Os moradores representados pela sua Associação têm consciência sócio-ambiental e defendem, inclusive, um posto avançado de educação na defesa ambiental no local do passeio público, onde os associados engajados seriam multiplicadores e formadores da necessidade de uma consciência ambiental. Em nome da verdade se faz necessário esclarecer que aqueles que ajuizaram a ação popular contra o passeio público entre o MagShopping e o antigo Iate Clube são proprietários de imóveis na beira mar e o fizeram para defesa exclusiva de seus interesses particulares. Na realidade, buscam ardilosamente, baseados na radical defesa das tartarugas, perpetuar a privatização da praia.