Arimatéa Sousa
Outra percepção
A preocupação com o futuro imediato da barragem Epitácio Pessoa (Boqueirão), que abastece Campina Grande e mais duas dezenas de cidades, deve ir muito além da quantidade de água ainda represada no manancial.
Inimaginável
Durante a sessão especial da Assembleia Legislativa, sexta-feira última, o professor Janiro da Costa Rêgo, renomado docente da UFCG, traçou um quadro que também pode ser considerado inacreditável e inconcebível.
Alerta geral
O que segue é um resumo dessa palestra com sabor de convocação à reação e mobilização da comunidade.
Caótica
O professor trouxe à tona diversos laudos, estudos e levantamentos de especialistas – realizados a partir de 2008 – atestando que a gestão do ´Boqueirão´ é “inadequada, insuficiente ou mesmo inexistente”.
“Os problemas persistem até hoje”, lamentou o docente.
Significado
Entenda-se por gestão de recursos hídricos, na sua essência, “a compatibilização entre oferta e demanda” da água disponível numa bacia hidrográfica.
Cota máxima
No caso concreto de ´Boqueirão´, de acordo com o Plano Estadual de Recursos Hídricos, o limite aceitável é de uma oferta de 1.230 litros por segundo – ou seja, 1,23 m3/s.
Sem controle
E aí começa o impensável: a citada barragem está inteiramente sem administração e entregue à sua própria sorte.
Nada é aferido
Não é feita a medição rotineira. Isto é, não se tem controle sobre a quantidade de água que sai do açude, seja pela Cagepa ou pelos irrigantes.
Medidores
Há vários anos foi determinado que a Cagepa colocasse medidores na tubulação que capta água no açude, até porque para essa retirada depende de uma outorga (autorização) do gestor do manancial. No caso, a ANA – Agência Nacional das Águas.
A determinação nunca foi obedecida.
Além do limite
Por falar em outorga, a Cagepa possui duas autorizações para puxar a água de ´Boqueirão´: uma de 1,23m3/s (cota máxima recomendada) e outra de 0,071m3/3, o que totaliza 1,30m3/s – superior, portanto, ao que o açude pode oferecer sem riscos de esgotamento de sua capacidade.
´Vazão´
Como não há qualquer monitoramento, estudos feitos pela UFCG calculam que a Cagepa está retirando de ´Boqueirão´ 1,5 metro cúbico por segundo (1,5m3/s).
Perdas
A empresa estatal admite que em torno de 40% dessa água captada na fonte é desperdiçada, por força de vazamentos ou furtos (sangramento das adutoras).
Outro ralo
No item acima não se considera o desperdício em grande monta que os consumidores se permitem com a água nas torneiras, tipo lavar carros e calçadas com mangueiras, entre outros.
´Terra de ninguém´
Passemos à questão não menos preocupante dos irrigantes às margens do ´Epitácio Pessoa´.
É só ligar o motor
Não existe, perante os responsáveis pela bacia hidrográfica, sequer o cadastramento dos agricultores.
Assim, não se imagine qualquer tipo de acompanhamento sobre a água utilizada para as plantações.
Projeção
Técnicos da UFCG, ainda de acordo com o professor Janiro Rêgo, fizeram estudos no local e estimaram um demanda de 0,95 m3/s para a irrigação.
Dobro
Chegamos ao número desesperador, que explica o risco de um colapso no abastecimento d´água para Campina: retira-se aproximadamente 2,45 m3/s de ´Boqueirão´ – duas vezes o que é tecnicamente recomendado.
Agravantes
Registrem-se outros dois complicadores não mensurados: o volume de água que some devido à evaporação e o desconhecido nível de assoreamento (aterramento) do manancial.
Cálculo
Os dados cotejados pelo palestrante já referido indicam que sem uma recarga nas próximas semanas “no final de 2013 ´Boqueirão´ vai atingir um nível” em que se tornará inevitável o racionamento d´água.
Que Deus nos acuda!
Comecei a tratar dessa questão hídrica sublinhando que a gestão dos recursos disponíveis é fundamental.
Como ´Boqueirão´ é uma barragem construída pelo governo federal, lembro que a sua administração está entregue à Agência Nacional das Águas.
E aí vem o surreal, para arrematar: a citada Agência (ANA) não possui sequer um servidor em todo o território paraibano.
É caso de penitência, oração.
E ação…