Violência: uma conta que não fecha

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Rubens Nóbrega

No dia 17 de maio de 2011, ao participar de sessão especial da Assembleia Legislativa para debater a violência na Paraíba, o Doutor Cláudio Lima, secretário de Segurança Pública do Estado, apresentou os seguintes números:

– Em 2010 foram registrados 1.485 assassinatos na Paraíba (que naquele ano atingiu um índice de homicídios de 39,4%, 14,2 pontos percentuais acima da média nacional).

No dia 7 de janeiro deste ano, o governador Ricardo Coutinho e o secretário Cláudio Lima anunciaram solenemente no Palácio da Redenção os seguintes números:

– Enquanto em 2011 ocorreram 1.680 homicídios, no ano passado foram registrados 1.542, isto é, 138 a menos, o que representa redução de 8,21%.

A informação o leitor pode conferir pesquisando no portal do Governo do Estado ou, então, colando na sua URL o seguinte endereço: http://www.paraiba.pb.gov.br/62240/paraiba-reduz-taxas-de-homicidios-apos-10-anos.html.

Estou recuperando esses dados por dois motivos: o primeiro é para dizer que o Governo do Estado vem desenvolvendo um esforço de propaganda enorme para provar que a Paraíba ficou mais segura e menos violenta nos últimos dois anos. Não é isso, contudo e desgraçadamente, o que a realidade cotidiana da Paraíba insiste em mostrar, principalmente na Capital e entorno.

Por sua vez, a criminalidade se expande e se fortalece, resistindo tenazmente aos golpes da milionária campanha publicitária do governo para convencer os mais crédulos ou mais incautos de que o Ricardus I está reduzindo a violência, conforme prometido em campanha.

Mas, como se vê, os próprios números divulgados por fontes oficiais em dois momentos distintos desmentem e desqualificam aquilo que o governador Ricardo Coutinho costuma chamar de ‘verdade’ quando trata o assunto publicamente. A verdade dele, claro.

Segundo motivo

Secundariamente, mas não menos importante, explico a razão de promover aqui o resgate dos desencontros estatísticos do governo. Trata-se do seguinte.

Sistematicamente, o soberano tenta induzir que é coisa do passado (ou nada tem a ver com ele) a colocação da Paraíba em sexto lugar no ranking dos estados mais violentos do Brasil, conforme o Mapa da Violência 2012.

O monarca baseia-se, com razão, numa verdade aceita por todos: os dados que desenharam o Mapa da Violência datam de 2010, comparativamente com toda a escalada da violência no correr dos anos do decênio que passou.

Mas 2010 não é para o absoluto apenas uma referência ao passado. O ano de 2010 remete também ou, sobretudo, ao segundo e derradeiro exercício do Maranhão III.

Em razão disso, no discurso governista de agora o governo anterior é subliminarmente ou explicitamente responsabilizado pelo pico de violência que a Paraíba teria alcançado em 2010.

De qualquer sorte, reconhecidamente ruim em matemática, juro que não consigo entender como o Ricardus I reduziu a violência em relação ao Maranhão III se em 2010, conforme disse o Doutor Cláudio na Assembleia em 2011, foram 1.485 homicídios.

Já em 2011, segundo apregoaram o imperador e centuriões em Palácio, o número de homicídios chegou a 1.680 e baixou para 1.542 para 2012.

Em resumo…

Se acreditarmos na veracidade dos números governamentais, veremos que a gestão corrente logrou baixar a violência registrada dentro de seu próprio mandato e não comparativamente ao antecessor.

Digo assim porque, mesmo admitindo a possibilidade de a calculadora do governo estar com defeito, pergunto: desde quando 1.485 (homicídios em 2010) é maior do que 1.680 (homicídios em 2011) ou mesmo 1.542 (homicídios em 2012)?

Bem, esse pode ser um ‘dilema que nem o cinema resolve’, como diria o poeta Paulo Leminski. Mas, como poesia não é a minha praia, copio os colunistas de antigamente e aconselho aos interessados na verdade oficial sobre a violência na Paraíba: mandem cartas para a Granja Santana ou Secretaria da Segurança.

Eleitor sofre

O Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba criou um agendamento pela Internet para o recadastramento biométrico dos eleitores de João Pessoa, mas ainda é muito pouco para minorar o sofrimento de quem espera na fila sob sol ou chuva na calçada da repartição do órgão que funciona na Avenida Monsenhor Valfredo, em Tambiá.

Considerando que a grande maioria ainda não dispõe de acesso à Internet, custava dar um pouco de conforto aos eleitores descentralizando o serviço e instalando mais pontos de atendimento na cidade? O recadastramento não poderia ser feito também em ginásios, escolas, Espaço Cultural, shoppings, igrejas etc.?

Sei não, mas diante do tratamento dispensado até aqui pelo TRE à ‘clientela’, dá vontade de perguntar: o que os eleitores fizeram para merecer tamanho castigo? Será que estão sendo punidos pelas escolhas que fizeram nas últimas eleições?