Violência deve ser mentira

Rubens Nóbrega

Ainda bem que a violência na Paraíba acabou nos seis primeiros meses do atual governo, conforme prometera Ricardo Coutinho na campanha de 2010. Deve ter sido mentira, então, o assalto praticado na noite de domingo – com violência incomum – contra pacientes e funcionários do Hospital Samaratino, de João Pessoa.

Ainda bem que as estatísticas do governo mostram drástica redução nos índices de violência desde a coroação do Ricardus I, em 1º de janeiro de 2011. Deve ser mentira, então, o assalto a banco – o assalto do dia – realizado ontem à tarde em Remígio, dessa vez contra mais uma agência do Banco do Brasil.

Mas, ainda bem, Ricardo Coutinho está equipando a força pública como nunca dantes… Graças a tanto armamento, a PM pode servir de escolta a famílias que desejem abandonar suas próprias casas, a exemplo de uma metralhada ontem à tarde no Alto do Mateus, Capital, que escapou da morte, mas agora será obrigada a viver escondida.

Ainda bem, também, que jamais a Polícia do Estado foi tão bem remunerada. Com o seu pessoal altamente motivado, ligeirinho descobrirá e prenderá os matadores da moto preta que foram domingo a Nova Mangabeira, em João Pessoa, para transformar em tragédia uma seresta que acabou com uma mulher morta, uma criança ferida de raspão e dois rapazes baleados.

Se não for invenção da oposição todos esses crimes, então teria alguma chance de ser verdade que uma churrascaria na Torre e um supermercado na Epitácio Pessoa foram arrombados e saqueados por ladrões na madrugada de ontem na mesma João Pessoa que, segundo o governador, ficou muito violenta, mas só até ele assumir o trono.

Agora, para sabermos se os últimos assaltos aconteceram ou não, temos que aguardar o dono da verdade se pronunciar. Não dá pra dizer se houve ou não sem que o governador permita que esses crimes façam parte das estatísticas na ‘Nova Paraíba’.

Nesse caso, vou esperar autorização para acreditar que Estefany Nascimento, de apenas 18 anos, foi assassinada a golpes de faca na noite desse domingo na frente da Igreja Nossa Senhora da Conceição, em Patos. Será mesmo que a jovem Estefany teve o mesmo fim terrível de Rafael, 20 anos, que, dizem, foi morto a tiros perto da Pousada Santa Rosa, no Varadouro, Capital, 48 horas antes do homicídio em Patos?

As respostas a perguntas desse gênero dependem, lógico, da verdade e da vontade do governador. Ainda bem, pois não é admissível deixar a realidade correr frouxa assim, sem mais nem menos, cometendo impunemente crimes de lesa-majestade. Principalmente agora, que o soberano começou a embalar a campanha da reeleição!

Sacerdotes humilhados

Sob esse título, o Conselho Estadual de Direitos Humanos (CEDH) emitiu anteontem à noite nota de repúdio à humilhante revista a que foram submetidos dois padres católicos que foram celebrar missa no presídio do Roger, de João Pessoa, domingo retrasado. O Conselho mostra ter sido pior do que pensei e revelei há uma semana (coluna ‘Padres humilhados’, do último dia 12).

Um trecho da nota: “Os sacerdotes Júlio Massom e José Ronaldo Gomes de Brito, o primeiro pessoa de avançada idade, foram submetidos à mais descabida, vexaminosa, humilhação imposta por servidores daquela casa de detenção (…) Foram tratados de forma jocosa e aviltante, uma vez que foram coagidos a se despirem e inteiramente nus fazerem movimentos de acocoramento, como se fossem suspeitos de transportar em suas partes mais pudendas substâncias proibidas e ilegais”.

O suplício infligido aos padres Massom e Zé Ronaldo dá uma boa ideia do respeito aos direitos humanos nos presídios estaduais e do modo ‘republicano’ de tratar essa questão pelo atual governo. Além disso, induz pensar que a violência contra os padres é represália às constantes denúncias da Pastoral Carcerária e do CEDH sobre maus tratos os mais severos e crueis contra apenados sob a ‘Nova Paraíba’.

PM reverencia caveira

Conforme relato enviado à coluna – não desmentido pelo Comando Geral da PM, ao qual solicitei esclarecimentos – na última quinta (14), durante comemorações do aniversário do Batalhão Especial conhecido como Bope, o Comandante Geral Euller Chaves participou vestindo uniforme preto da ‘tropa de elite’ onde se destaca o símbolo da caveira (semelhante à famosa Totenkopf, insígnia do crânio humano adotada pela SS na Alemanha nazista dos anos 30).

O ato foi marcado ainda pelo hasteamento das bandeiras do Brasil e da Paraíba ao lado de uma bandeira preta que traz a caveira como ‘brasão’. “Tudo isso em frente ao Comando Geral da PM na Praça Pedro Américo, Capital”, ressalta membro do CEDH que juntamente com outros conselheiros tentou convencer o comandante a abolir o uso da caveira como símbolo. Inclusive porque contraria a Resolução nº 8/2012 do Conselho de Direitos da Pessoa Humana, vinculado ao Ministério da Justiça, e da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Mas o Coronel Euller lembrou ao pessoal que resolução não tem força de lei.

Tem razão o comandante. Além do mais, para um governo frequentemente acusado de escolher que leis cumprir, que valor teria uma resolução como aquela, hem?