Precursor da música eletrônica brasileira na década de 1960, Jorge Antunes transcende descobertas e movimentos sonoros ao ultrapassar barreiras e eventos que se desprendem do estigma do tempo. Aos 80 anos, o próprio artista dirige um concerto que celebra sua vida e obra no dia 29 de julho, sexta-feira, às 21h, no Sesc Belenzinho. O GEMUNB (Grupo Experimental de Música Nova do Brasil) será responsável por executar o repertório do disco duplo de Antunes, “Cordas Dedilhadas”, lançado pelo Selo Sesc em 2021. No repertório, peças para violino e computador (“Violinia Sideral”), para sax-tenor e sons eletrônicos pré-gravados (“Rituel Violet”), entre outras, que contam com execução de Jorge (eletrônica), Marcus Antunes (violino), Álvaro Henrique (violão) e Fernando Henrique Machado (clarinete e sax-tenor).
Conhecido como pioneiro da música cromofônica (correspondência entre sons e cores) no Brasil, inventor do violino de palitos de fósforo e regente de uma orquestra de buzinas de automóveis, o maestro segue como referência em reflexões a partir da materialidade sonora. Com o disco duplo Cordas Dedilhadas, lançado em 2021, o Selo Sesc fez um recorte de composições de Antunes com enfoque especial num repertório dedicado a quatro instrumentos acústicos: violão, viola caipira, harpa e alaúde barroco. Com interpretações de Alvaro Henrique, Diogo Queiroz, Leila Reis, Marcus Ferrer e Roberto Corrêa, o álbum está disponível para venda nas Lojas Sesc.
As primeiras peças, intituladas Casa de Ferrer, Viola de Pau, Prelúdico em Mi, Sighs, Eóletron e Suite Pour Luth Baroque, exaltam as camadas organizadas do artista. A eletroacústica, a intensidade expressiva das cordas, o barroco e a pulsão temporal, encontram-se como invenções semânticas incorporadas aos 60 minutos de uma trajetória avant-garde.
Com a Série Brasília 50, segunda parte do CD, o músico associa a delicadeza do violão com colagens intensas de um repertório histórico, o qual imprime sensações e sentimentos ainda vivos no brasileiro. “Cada episódio parte de um momento relevante desde 1960, ou seja, desde a inauguração de Brasília. É uma obra in progress, esperando novos episódios ainda não compostos depois da morte de John Lennon em 1980. Um exemplo apenas, a voz indignada, repetida, retrabalhada, de Lysâneas Maciel dirigindo-se a Cantídio Sampaio na Câmara, ano de 1977: ‘Não dou apartes a torturadores’”, destaca o historiador de arte Jorge Coli.
Para o Diretor Regional do Sesc São Paulo, Danilo Santos de Miranda, as faixas de Jorge Antunes refletem a sólida formação musical do artista, com a inclusão de artes visuais, estudos físicos e questionamentos políticos. “O exílio durante o período militar permitiu um aprofundamento dos estudos, com a realização do doutorado em Paris e a participação bem-sucedida em prêmios de composição no exterior. Ao voltar para o Brasil nos anos 1970 e assumir um cargo de professor na Universidade de Brasília (UnB), continuou a desbravar universos sonoros, ao mesmo tempo sofisticados e engajados com seu tempo”.
Cordas Dedilhadas é um disco que recruta os sentidos, a mente e a memória em composições que convidam o ouvinte para uma viagem de experimentações musicais.
Repertório de Jorge Antunes – Cordas Dedilhadas
CD 1
01. Casa de Ferrer, Viola de Pau
Marcus Ferrer (viola caipira)
02. Prelúdico em Mi
Roberto Corrêa (viola caipira)
Sighs
Alvaro Henrique (violão)
03. 1° movimento
04. 2° movimento
05. 3° movimento
06. Eóletron
Leila dos Reis (harpa)
Jorge Antunes (sons eletrônicos)
Suite Pour Luth Baroque
Diogo Quiroz (alaúde barroco)
07. 1° movimento Préluthde
08. 2° movimento Évoluthion
09. 3° movimento Aggluthination
10. 4° movimento Illuthsion
11. 5° movimento Voluthe
12. 6° movimento Mixtion Telluthrique-Paysanne
CD2 Série Brasília 50
Alvaro Henrique (violão)
Jorge Antunes (sons pré-gravados)
I: 1960, Inauguração de Brasília: Niemeyer e JK
II: 1961, Renúncia de Jânio
III: 1962, Fundação da UnB: Darcy
IV: 1963, Assassinato de Kennedy
V: 1964, Golpe militar
VI: 1965, Guerra do Vietnam e AI-2
VII: 1966, Fechamento do Congresso
VIII: 1967, Posse de Costa e Silva
IX: 1968, AI-5 Caminhando e Cantando
X: 1969, Homem na Lua, Milésimo Gol de Pelé
XI: 1970, Brasil Tricampeão
XII: 1971, Assassinato de Lamarca
XIII: 1972, Guerrilha Ingenuina
XIV: 1973, Desaparecimento de Honestino
XV: 1974, Revolução dos Cravos
XVI: 1975, Assassinato de Vladimir Herzog
XVII: 1976, JKondor (morte de JK)
XVIII: 1977, Pacote de Abril (Ernesto Geisel)
XIX: 1978, Revogação do AI-5
XX: 1979, Lei da Anistia
XXI: 1980, Assassinato de John Lennon
Fonte: Assessoria
Créditos: Polêmica Paraíba