O primeiro-ministro da Itália, Mario Draghi, renunciou nesta quinta-feira, menos de um dia após ser abandonado por partidos da coalizão durante um voto de confiança no Senado. Já prejudicada por crises domésticas e internacionais, Roma agora se vê diante de um caos político que deve culminar em eleições antecipadas na primeira quinzena de outubro.
O tecnocrata e ex-presidente do Banco Central Europeu anunciou sua decisão ao presidente Sergio Mattarella em uma reunião nesta manhã, de acordo com um comunicado emitido pelo Palácio do Quirinal, sede da Presidência da República. O presidente disse ter “tomado nota” do pedido que havia negado há uma semana, mas fez um apelo para que Draghi continue a tocar o governo até que haja alguém para substituí-lo.
Mattarella vai se reunir com os chefes do Legislativo durante a tarde para definir os próximos passos. Há duas opções: dissolver o Parlamento e anunciar eleições antecipadas ou nomear um governo provisório para comandar o país até o fim da atual Legislatura, no meio do ano que vem.
O presidente já indicou não ter planos de nomear uma líder provisório, e as novas eleições parecem praticamente garantidas. O pleito deverá acontecer dentro de 70 dias, e a imprensa italiana especula 2 de outubro como uma provável data.
Pouco antes de se reunir com Mattarella, Draghi já havia anunciado sua decisão em uma sessão na Câmara dos Deputados que debateria o mesmo voto de confiança pautado na véspera no Senado. Visivelmente emocionado, disse na plenária:
— Como vocês veem, às vezes o coração de um banqueiro também é usado — afirmou. — Diante da votação de ontem, peço que a sessão seja suspensa para que eu vá ver o presidente da República e comunicá-lo de minha decisão.
O governo de Draghi, que chegou ao poder há 17 meses, reunia todos os principais partidos italianos, com exceção do ultradireitista Irmãos da Itália. A promessa era que a ampla aliança fosse suficiente capitaneasse a recuperação pandêmica do país, destravando o potencial econômico de uma nação onde, em média, um novo governo assume a cada 14 meses.
O golpe fatal, contudo, veio na quarta, quando os dois partidos de direita à frente das pesquisas para as eleições gerais — a Força Itália, de Silvio Berlusconi, e a Liga, de Matteo Salvini — se recusaram a votar a moção de confiança. Já o antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S) declarou-se “presente e não votante”.
A abstenção permitiu que houvesse quórum para o voto, mas apenas 133 dos 315 senadores italianos estiveram presentes. Noventa e oito deles endossaram Draghi, mas o apoio minoritário não resolveu a crise, pois o premier já deixara claro que só ficaria no governo se tivesse um amplo mandato.
A imprensa italiana chegara a anunciar que a renúncia aconteceria ainda na quarta, mas isso não ocorreu. Desta vez, Mattarella não tinha muita alternativa além de aceitar a saída de Draghi: sem Força Itália, Liga e M5S, ele não tem a maioria.
Antes da votação de quarta, os dois partidos de direita se disseram dispostos a ficar no governo, contanto que o MS5 saísse e fosse formada uma nova coalizão. A exigência, contudo, ia na contramão de uma demanda feita pouco antes pelo premier no Senado, quando disse que só permaneceria se os partidos até então aliados se alinhassem às suas propostas.
Os motivos para a dissidência são diferentes: a Liga e a Força Itália têm esperança de que, caso haja eleições neste ano, possam chegar ao poder. Um bloco governista formado pela dupla e pelo Irmãos da Itália, apontam as pesquisas, conseguiria a maioria em ambas as Casas do Legislativo se o voto fosse hoje.
Já o M5S perdeu influência na política, e busca reconstruir sua identidade, com clamores públicos por maiores gastos sociais. Foi o partido que, há uma semana, deflagrou a crise atual ao se abster de votar a favor de um pacote de gastos proposto pelo governo, alegando não ser generoso o bastante.
Draghi então apresentou sua renúncia a Mattarella, que a recusou e convocou uma consulta com os partidos da base — a votação de quarta no Senado. Desde então, houve uma série de clamores públicos pela permanência de Draghi e por alguma estabilidade em um momento particularmente conturbado.
Em junho, a inflação no país chegou a 8%, o maior nível desde 1986, cenário complicado pela perspectiva de uma recessão na Europa.
Fonte: Yahoo
Créditos: Polêmica Paraíba